Acordo com Embraer pode ajudar Boeing a superar crise pós-737

Engenharia e gerenciamento da empresa brasileira podem ser instrumentos para manter números da americana

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Washington

A queda de dois aviões em menos de cinco meses mergulhou a Boeing em uma crise histórica, agravada por investigações de autoridades dos EUA que tentam entender as causas dos acidentes que mataram, no total, 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Entre analistas americanos é consenso que o momento é sombrio e que a maior empresa aeroespacial do mundo precisa agir rápido se não quiser perder relevância.

Mesmo os mais alarmistas, porém, acham que a Boeing vai sobreviver à fase turbulenta se cumprir um roteiro pragmático, no qual o acordo com a Embraer pode significar uma importante mudança de procedimentos.

Os setores de engenharia e gerenciamento da empresa brasileira, afirmam especialistas, podem ser instrumento para a Boeing manter seus superlativos: ela é a segunda maior vendedora de armas em faturamento do mundo e a primeira aeroespacial da história a atingir US$ 100 bilhões em vendas anuais.

"A aquisição pela Boeing da área de aviação comercial da Embraer traz novas visões e caminhos no mundo de fabricação de aeronaves. A Boeing pode aprender o que esqueceu, aprender com essa crise, aprender na tomada de decisões e gerenciamento. Acho que o negócio pode ajudar a empresa como um todo", afirma Sean Broderick, da Aviation Week Network.

Segundo ele, por mais que a compra de parte da Embraer seja uma pequena divisão da Boeing, ela compõe um novo braço na área em que a brasileira teve sucesso nas últimas cinco décadas —para o fim deste ano, a receita da Embraer deve ficar em torno de US$ 5,3 bilhões, ante os US$ 100 bilhões da Boeing.

Um dos pontos de interesse da americana era justamente o setor de engenharia da brasileira, visto como ágil no desenvolvimento de projetos.

Em dezembro, após um ano de negociações, a Boeing fechou os termos do acordo da compra da aérea de aviação comercial da Embraer.

O acerto cria nova empresa no valor de US$ 5,26 bilhões, com 80% de controle dos americanos, que a renomearam Boeing Brasil-Commercial.

Desde o segundo acidente com o 737 MAX, em março, a preocupação da Boeing é recuperar a confiança de sua imagem e não perder a liderança no ramo de aviação comercial, hoje compartilhada com a Airbus.

Sob escrutínio e pressão de agências reguladoras e de autoridades nos EUA, a empresa precisa anunciar a correção do software do avião e esperar sua aceitação do mercado. 

Na quinta-feira (23), a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) dos EUA emitiu nota com a atualização do processo, exigindo que a Boeing atualize o software e o sistema de segurança do modelo de jato.

Quem acompanha as movimentações sobre o caso afirma que pode haver um temor inicial dos consumidores depois de anunciada as correções e o retorno do 737 MAX aos ares –tido como certo por vários analistas. Mas logo que as agências reguladoras aprovarem as atualizações, explicam, o mercado se acomoda e os passageiros voltam às aeronaves.

No início de maio, dois meses após o acidente na Etiópia, a Boeing admitiu ter ciência, desde 2017, que um elemento de segurança do avião não funcionava como o previsto. 

O problema, porém, não foi comunicado às companhias aéreas ou órgãos reguladores e desencadeou a série de investigações nos EUA e o sentimento de desconfiança nos investidores.

Diversas empresas pediram indenização para a Boeing, como as principais chinesas, que reclamaram cerca de US$ 585 milhões pelas perdas geradas desde que precisaram suspender os voos do 737 MAX.

A China foi o primeiro país a anunciar que não faria mais voos com esse modelo, seguida pelos EUA e também pelo Brasil.

Especialista no setor aeroespacial e de defesa, Loren Thompson chama atenção para outras áreas da economia americana que podem ser prejudicadas com a crise do 737 MAX.

Ele afirma que a Boeing é importante para pequenos e médios fabricantes dos EUA –já que constroi no país todos os seus aviões, comerciais e militares– e conta com uma cartela de pelo menos 13 mil fornecedores. 

Com eles são gerados US$ 45 bilhões em receita por ano e pelo menos 1,3 milhão de empregos.

De acordo com Thompson, do think tank Lexington Institute –que tem financiamento da Boeing e outras gigantes da área– há fragilidade mesmo nas maiores empresas do mundo e é preciso resolver a crise rapidamente para que não haja impacto na economia e na balança comercial dos EUA.

"O que quer que você pense sobre os desafios atuais que a empresa enfrenta, quando você fala de Boeing, você também fala sobre o futuro dos EUA na economia global".

Sean Broderick, da Aviation Week Network, acredita que o impacto em relação aos fornecedores americanos será de curto prazo, pois as demais linhas de aviões continuam operando e sendo produzidas.

"A crise da Boeing não será um desastre para a economia dos EUA nem para a balança comercial do país. Quando o problema [do software] for resolvido, o avião vai voltar a voar e as coisas se acomodarão".

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