Com conta inflada, Bolsa comemora 1 milhão de investidores

Ao menos 5% dos CPFs se repetem; Tesouro Direto festeja mesma marca garantindo que não há duplicidade

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São Paulo

A Bolsa brasileira atingiu 1.046.244 de investidores pessoa física em abril. O número, anunciado pela B3 nesta quinta-feira (9), não reflete a quantidade exata de brasileiros que recorre ao mercado acionário.

Segundo a companhia, aproximadamente 5% dos CPFs aparecem mais de uma vez no cálculo. Isso porque cada investidor pode ter conta em mais de uma corretora.

Ou seja, tirando os cadastros duplicados, existiriam apenas 993.932 de pessoas físicas na Bolsa.

O Tesouro Direto também superou a marca de 1 milhão, com 1.006.547 investidores no mês. Neste caso, os CPFs duplicados são descartados.

Os números seguem o otimismo do brasileiro com a economia. Em março, o Ibovespa, maior índice acionário do país, chegou alcançar 100 mil pontos ao longo do dia, mas encerrou pouco abaixo, com 99.993 pontos.

O aumento segue a tendência dos últimos anos. Ao fim de 2017, eram 619 mil investidores. Em 2018, o número saltou para 813 mil.

A aceleração se deve aos ganhos da Bolsa brasileira no período. A partir de 2016, o Ibovespa teve saltos expressivos. A valorização dos papéis listados —preço por ação multiplicado pela quantidade de ações que compõem o índice— foi de 43 mil para 60 mil pontos de 2015 para 2016, uma alta de 39% após recessão econômica e turbulências políticas.

A Bolsa brasileira e o Tesouro Direto tiveram desempenho favorável em abril, divulgou a B3 nesta quinta-feira (9). - Reuters

Neste ano, o índice opera, em média, no patamar de 95 mil pontos com a aposta de investidores no governo Bolsonaro. O cenário externo também é favorável às companhias brasileiras. Com a recuperação das economias americana e chinesa e juros baixos nestes países, o Brasil exporta mais e investidores estrangeiros buscam ativos de riscos em países emergentes.

Sem a aprovação da reforma da Previdência, entretanto, o cenário é de incertezas. O aporte estrangeiro ainda não voltou ao país e dados econômicos do primeiro trimestre preocupam economistas.

No ano, o saldo de investimento estrangeiro na B3 é negativo em R$ 624 milhões. Segundo especialistas, a entrada deve vir após a aprovação da reforma e, provavelmente, será tímida.

Atualmente, os estrangeiros têm quase metade do valor investido na Bolsa. Eles somam 46,3% do total de volume negociado. Brasileiros pessoas físicas têm 18,3% e jurídicas, 30%.

Dentre as pessoas físicas, o volume tem grande variação conforme o aporte investido. A maioria dos brasileiros — 40% do total — coloca até R$ 10 mil na Bolsa. Eles somam apenas R$ 1 bilhão do estoque da B3, menos de 1% do total alocado em Bolsa, que equivale a R$ 220 bilhões.

Os ganhos do Ibovespa neste ano, no entanto, são impulsionados por movimentações domésticas, aponta a B3. Com a taxa Selic na mínima histórica, a renda variável oferece um retorno maior.

“Temos um contexto que favorece o aumento da participação dos investidores, com inflação estável, juro baixo e uma expectativa de queda da Selic no segundo semestre com a aprovação da reforma da Previdência. Além disso, as corretoras facilitaram o acesso para pessoas físicas. A XP foi um grande abre-alas”, afirma Rafael Passos, analista da Guide.

A maioria dos brasileiros, porém, opta pela poupança. Em junho de 2018, 153,3 milhões de brasileiros investiram o equivalente a R$ 736,4 bilhões na modalidade.

Para William Eid Jr, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), a diversificação nos investimentos e escolha pela Bolsa está na alta do índice nos últimos anos.

“Não é porque os juros caíram. Até porque a Bolsa no longo prazo perde para Selic, e o brasileiro nem sabe o que é a Selic. O aumento é porque a Bolsa tem subido muito. A pessoa vê o cunhado ganhando com ações e decide investir também, mas não sabe elaborar uma estratégia de investimento, avaliar o que comprar. Se a Bolsa cair, ele sai correndo”, afirma Eid.

Nos últimos três anos, o Ibovespa acumulou altas expressivas. Em 2018 foram 15%. Em 2017, 26,86%. Em 2016, 39%. Até abril deste ano, são 9,76% de ganhos.

A marca de 1 milhão de investidores representa 0,58% da fatia da população com 14 anos ou mais, que, segundo o IBGE, totalizou 170.500 milhões de pessoas em março.

Nos Estados Unidos, onde há uma cultura de investimento em Bolsas, o percentual de investidores é bem maior. Segundo o Instituto Gallup, 54% dos adultos americanos investiram em ações de 2009 a 2017. O número apresenta um decréscimo quando comparado ao período anterior à crise financeira. De 2001 a 2008, eram 62%.

Para Passos e Eid, a falta de conhecimento é a principal causa da tímida participação.

“O brasileiro tem desconhecimento e medo. O mercado doméstico é muito imaturo, com potencial de crescimento acelerado. Estamos vivendo uma mudança estrutural com o trabalho das corretoras. O que éramos há cinco anos não chega aos pés do que somos hoje”, diz Passos.

Ao ser questionado da meta divulgada em 2014 de 5 milhões de investidores esperados pela B3 até 2018, Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes Brasil da empresa, afirmou que a Bolsa não trabalha mais com projeções.

“Na época, o cenário macroeconômico era muito diferente, com a expectativa de crescimento econômico diferente. Naquele ano tivemos mais de R$ 50 bilhões em 64 grandes IPOs. A entrada de investidores depende dos bancos e corretoras. Não podemos fazer projeções se o resultado depende deles", disse Paiva.

Já para o Tesouro Direto, a expectativa é ultrapassar a meta de 1,350 milhão de investidores até o final do ano.

“Não temos uma boa justificativa para esse crescimento, já que não temos boas perspectivas para a economia. As expectativas para o governo Bolsonaro eram muito positivas e hoje já se fala ‘não é bem assim’. A demora da reforma e as falhas de comunicação do governo trazem muita incerteza”, declara Eid.
 

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