Descrição de chapéu The New York Times

Medida de Trump tenta barrar Huawei nos EUA e intensifica guerra com a China

Teles americanas serão proibidas de usar equipamentos chineses para instalações de rede 5G

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Cecilia Kang David E. Sanger
Washington | The New York Times

O presidente Donald Trump agiu nesta quarta-feira (15) para proibir empresas americanas de telecomunicações de instalar equipamentos estrangeiros que possam representar ameaça à segurança nacional, disseram funcionários da Casa Branca, intensificando a batalha contra a China ao bloquear vendas de produtos da Huawei, a maior fabricante chinesa de equipamento para redes.

Trump promulgou uma ordem executiva que instrui o secretário de comércio Wilbur Ross a proibir transações que "apresentem riscos inaceitáveis", mas não mencionou países ou empresas específicos. 

A medida era esperada há muito tempo e representa a mais nova batalha do governo contra a China nas áreas de economia e segurança. Essa é também a medida mais extrema adotada pelo governo Trump em sua luta contra o setor tecnológico chinês.

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Donald Trump em evento no Capitólio, nesta quarta-feira (15) - Carlos Barria/Reuters

Liderados pelo secretário de Estado Mike Pompeo, representantes do governo americano vêm alertando aliados há meses de que os Estados Unidos suspenderiam a transferência de dados de seus serviços de informações caso as empresas utilizem tecnologia da Huawei ou outras empresas chinesas como base para suas redes de quinta geração (5G).

A nova tecnologia promete não só mais velocidade para os celulares mas também a conexão de milhares de dispositivos à "internet das coisas" —como carros autoguiados, câmeras de segurança e equipamento industrial—, por meio de uma nova arquitetura de internet.

O Departamento de Defesa e dirigentes dos serviços de informações americanos alertaram que as empresas chinesas terão o poder de controlar as redes e expressaram preocupações não só com a possibilidade de que mensagens confidenciais possam ser interceptadas ou desviadas secretamente para a China como com a possibilidade de que as autoridades chinesas ordenassem que a Huawei suspenda a operação das redes, em caso de qualquer conflito, o que poderia desordenar porções importantes da infraestrutura americana, como gasodutos e redes de telefonia móvel.

A Huawei nega essas imputações e seu presidente-executivo já declarou que preferiria fechar a empresa a obedecer ordens do governo chinês para interceptar ou desviar tráfego de internet. As autoridades americanas dizem que ele não teria escolha: a lei chinesa requer que as companhias do país obedeçam as instruções do Ministério de Segurança do Estado.

Trump se envolveu intensamente na campanha, realizando reuniões discretas com executivos do setor de telecomunicações dos Estados Unidos na Casa Branca e ponderando diferentes versões da ordem executiva. Ele insistiu que os Estados Unidos devem "vencer" no 5G, mas foi informado de que nenhuma companhia americana produz os comutadores que realizam o direcionamento central do tráfego de internet 5G.

A ordem executiva surgiu em meio a uma escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, com os dois lados impondo centenas de bilhões de dólares em tarifas, nos últimos dias. Trump acusou o governo chinês de práticas desleais de comércio, e anunciou um aumento de tarifas sobre US$ 200 bilhões adicionais em produtos chineses, na semana passada.

Mas poucas questões conquistaram tamanho apoio bipartidário em Washington quanto os alertas do governo Trump sobre as ameaças de segurança que a Huawei e a ZTE - outra empresa conectada profundamente ao governo chinês - representam. Os apelos se tornaram tão intensos que houve quem alertasse sobre a criação de um clima como o da caça aos comunistas do país [na década de 1950], e as autoridades chinesas afirmam que as autoridades dos Estados Unidos deixaram a cautela para trás e ingressaram no terreno da paranoia.

As grandes operadoras de telefonia móvel do país rejeitaram o uso de equipamentos da Huawei em suas redes 5G, mas a ordem executiva garantirá que operadoras de telecomunicação menores e rurais evitem o uso de produtos Huawei em suas novas redes.

Porque os sistemas 5G envolvem equipamentos de alta velocidade e baixo alcance, a tecnologia está mais adaptada a áreas urbanas do que a áreas rurais, por enquanto. Mas a Huawei continua a ser uma alternativa atraente para as operadoras rurais porque seus produtos são mais baratos que os dos concorrentes.

A proibição também poderia ajudar na campanha do governo Trump para convencer os aliados americanos na Europa a bloquear a Huawei. Alguns desses aliados questionaram por que deveriam bloquear a Huawei se os Estados Unidos mesmos não o tinham feito. Outros dirigentes europeus suspeitam de que Trump abrandará ou removerá a restrição como parte de um acordo comercial com a China. A maioria dos grandes aliados dos Estados Unidos resistiu à pressão do governo Trump, exceto a Austrália, que proibiu o uso de equipamentos da Huawei no país, na metade do ano passado.

Representantes da Casa Branca, agentes dos serviços de inteligência e legisladores de ambos os partidos americanos argumentam que a China já definiu os rumos de seu setor de telecomunicações, e que a ascensão do setor de tecnologia já deu origem a sistemas de reconhecimento facial, vigilância constante da população e abusos contra os direitos humanos, na China.

As autoridades americanas também alertaram que as exportações de produtos da Huawei e outras companhias chinesas de tecnologia permitiram que outras nações autoritárias espionassem seus cidadãos e ganhassem acesso a segredos comerciais e de segurança.

Mas mesmo que a Huawei seja excluída dos Estados Unidos, ela ainda deve controlar de 40% a 60% do mercado de equipamento de redes no planeta. A companhia vem realizando esforços pesados de marketing na África, América Latina e nas porções da Ásia onde a China exerce forte influência econômica. Representantes do governo americano disseram que a China oferece preços subsidiados e empréstimos com juros baixos para superar seus poucos concorrentes ocidentais, os principais dos quais são Nokia e Ericsson, duas companhias europeias.

Os Estados Unidos terão de se conectar a esses países, e precisam se preparar para o dia em que o governo e as companhias americanos terão de usar "redes sujas", alertou recentemente Sue Gordon, diretora assistente de inteligência do governo americano.

Em janeiro, procuradores do estado de Washington acusaram duas subsidiárias da Huawei de conspirar para roubar segredos comerciais da operadora de telefonia móvel T-Mobile, e de fraude interestadual.

O senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul e presidente do Comitê Judiciário do Senado, disse duvidar que as companhias chinesas sejam capazes de respeitar os padrões e as leis americanos sobre vigilância.

"De maneira alguma a China conseguiria cumprir esses critérios, por conta da maneira pela qual o país é governado", disse Graham em uma audiência esta semana. "A única maneira de a China respeitar esses critérios é deixar de ser a China".

A Comissão Federal de Comunicações (FCC) americana está estudando regulamentação que proibiria provedores de acesso em banda larga de receber subsídios federais caso usem equipamentos da Huawei ou ZTE em suas redes. As maiores operadoras de telefonia americanas usam pouco equipamento desses dois fornecedores, mas alguns provedores rurais de telecomunicações expressaram preocupação sobre como livrar suas redes, formadas por produtos de diversos fabricantes, dos componentes chineses.

A FCC aprovou recentemente uma ordem que proibiu a China Mobile de iniciar operações nos Estados Unidos. A agência anunciou que estava estudando adotar medidas semelhantes quanto à China Unicom e China Telecom, duas outras operadoras chinesas de telefonia móvel.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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