Mercados globais têm forte queda com acirramento de guerra comercial

Com ofensiva chinesa, Ibovespa volta ao patamar dos 91 mil pontos e dólar bate os R$ 4

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São Paulo

A segunda-feira (13) foi de pânico para o mercado. A resposta chinesa ao aumento de tarifas americanas mina esperanças de um acordo comercial nas próximas semanas. Com aversão ao risco, Bolsas americanas tiveram o maior recuo desde janeiro. No Brasil, a Bolsa voltou ao patamar dos 91 mil pontos do começo do ano. O dólar bateu os R$ 4.

Na sexta (10), passou a vigorar o aumento de 25% de tarifas americanas sobre US$ 200 bilhões de bens chineses. O presidente americano Donald Trump, no entanto, disse que negociações continuariam e que estas taxas poderiam ser retiradas. O mercado respirou aliviado e recuperou parte das perdas da semana.

No domingo, Trump retomou o discurso protecionista em seus tuítes. Na segunda, a China retaliou e anunciou que irá aumentar a taxa de US$ 60 bilhões de importações americanas em 25% a partir de junho.

A medida foi um balde de água fria para investidores que esperavam um acordo em breve. O índice Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia listadas na Bolsa de Nova York, perdeu 3,41%, o maior tombo do ano.

O índice Dow Jones recuou 2,38%. O S&P 500 cedeu 2,41%. Em 3 de janeiro, com a queda das ações da Apple, os índices perderam 2,68% e 2,48%, respectivamente. O índice de volatilidade VIX, que mede o receio ao risco, subiu 23,2% 

“Trump elevou o tom para guerra total entre os países e o mercado percebeu que ‘Opa! Vai dar ruim’”, afirma Victor Candido, economista-chefe da Guide Investimentos.

 As Bolsas europeias também amargaram quedas. Uma das mais expressivas foi do índice alemão, que perdeu 1,52%. A Alemanha é uma das principais exportadoras para a China.

“O que parecia estar se encaminhando para um entendimento tomou uma direção muito diferente do esperado. Hoje não é o primeiro dia de viés negativo. É apenas mais um dia de perdas com a guerra comercial”, afirma Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos.

Luketic lembra o tombo das Bolsas chinesas da última segunda (6), quando o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, caiu 5,84%. A reação ao aumento de tarifas americanas foi a maior queda do mercado chinês em mais de três anos.

Nesta segunda, o índice chinês recuou 1,65%. A Bolsa japonesa teve 0,72% de queda. Já a Bolsa de Hong Kong fechou em alta de 0,84%.

“Caso o cenário da disputa comercial piore, o crescimento da economia fica comprometido. Se China cresce menos, todo mundo cresce menos”, completa Luketic.

Segundo estudo do Itaú, as novas tarifas americanas cortam o PIB (Produto Interno Bruto) chinês em 0,5%, ficando abaixo dos 6% em 2019.

“A China pode ter um pior impacto no primeiro momento, mas ela tende a não responder a choques globais e sim a estímulos do governo”, afirma Cândido. Segundo o economista, o mercado interno chinês deve sustentar o mesmo nível de crescimento dos últimos anos. As exportações também não devem recuar.

“Temos que ver até que ponto a indústria americana vai conseguir substituir os bens chineses. Uma coisa é comprar milho de outro país, outra é comprar um chip específico chinês, utilizado há anos em um produto americano”, diz.

O presidente americano prega que a medida protege a indústria americana e que os custos dessa elevação de tarifas não serão pagos pelos consumidores locais.

“Este raciocínio é completamente imbecil. Quando ele diz que consumidores não vão pagar pelo aumento de tarifas, é mentira. Estudos do Fed [Federal Reserve, banco central americano] mostram que todas as tarifas passam para o consumidor. Essa postura de aumento de tarifas é anacrônica com a teoria econômica, que aponta que qualquer tarifa faz mal para o mercado”, afirma Cândido.

O aumento tarifário era lido pelo mercado como uma tática de negociação de Trump para acelerar um acordo, além de um blefe para aumentar o poder de barganha. Com o retrocesso nas negociações, a derrubada das tarifas pode se prolongar e aumentar o impacto na economia.

Com a aversão a risco, o cenário piora para emergentes. Investidores estrangeiros migram aportes para opções consideradas mais seguras. No ano, a balança comercial de investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira está negativa em R$ 1 bilhão.

O Ibovespa, maior índice acionário do Brasil, recuou 2,68%, a 91.726 pontos. O patamar é o pior desde 7 de janeiro, quando a Bolsa fechou a 91.699 pontos, em escalada otimista com o novo governo. O giro financeiro foi de R$ 13,6 bilhões, abaixo da média diária para o ano.

O dólar bateu os R$ 4 no início do pregão, mas fechou a R$ 3,9790, alta de 0,86%. 

​“Quando a gente chega a R$ 4 existe um movimento de realização de lucros, um ajuste técnico. Muitas pessoas vendem dólar nesse patamar. Em momentos de turbulência, é necessário diminuir risco. Recomendamos não vender tudo agora, fracionando operações para buscar taxa média de retorno”, afirma Fernando Bergallo, Diretor de Câmbio da FB Capital.

Para ele, o Banco Central não deve interferir na valorização da moeda americana. “A direção atual do BC tem uma linha mais liberal, que intervém o mínimo necessário nos mercados. A instituição está atenta à volatilidade do mercado e, em dias de variações superiores a 2,5%, pode atuar de maneira defensiva, mas sem defender uma cotação específica. O banco vai deixar o mercado ir para onde tem que ir”.

Sem a reforma da Previdência, o Brasil apresenta um risco a mais. Com a aprovação da medida, os analistas acreditam que o Brasil será o emergente mais atrativo para o investimento estrangeiro.

 

(Com Reuters)

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