Latam e Gol se uniram para matar a Avianca, diz presidente da Azul

John Rodgerson afirma que concorrentes atuaram para atrapalhar seus planos de ampliar operação em Congonhas

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São Paulo

A crise da Avianca rachou o setor aéreo e feriu o sonho da Azul de comprar a empresa em recuperação judicial para, enfim, disputar a rota Rio-São Paulo com as gigantes Latam e Gol. 

Para John Rodgerson, presidente da Azul, ao fazer uma proposta sincronizada para entrar na disputa pela compra da Avianca, Gol e Latam só queriam atrapalhar seus planos de competir no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. 
 

John Rodgerson
John Rodgerson: formado em finanças pela Brigham Young University (EUA), trabalhou na IBM e na JetBlue. Ocupa a presidência da Azul há dois anos; antes de assumir o cargo, foi vice-presidente financeiro da companhia - Bruno Santos/Folhapress

Por que as empresas aéreas saem brigadas da crise da Avianca?  Nossos concorrentes fizeram tudo para barrar a entrada da Azul na ponte aérea. É triste a Avianca ter quebrado no meio do caminho.
Nós fizemos proposta [para comprar ativos da Avianca] para resgatar milhares de empregos e investir.

Mas nossos concorrentes foram lá para barrar, tentar dividi-la. Então levantamos mais dinheiro para aumentar o preço. E o que aconteceu? O fundo abutre Elliott [maior credor da Avianca] falou “não”. Tem 5.000 pessoas sem [receber] rescisão e a ponte aérea ficou mais concentrada. Quem vai pagar é o consumidor, não vai ser a Gol e a Latam, porque elas pagaram alguém para fechar a empresa.

A proposta de Gol e Latam para levar a Avianca em fatias foi costurada com o Elliott. A proposta de vocês também ? Falamos com o Elliott na época, mas o Elliott queria todo o dinheiro para si e não queria pagar a rescisão dos funcionários e os outros credores. A empresa precisava de dinheiro. O Elliott, não.

Para manter a empresa viva tem que colocar dinheiro, não pagar um credor abutre de Nova York. Ficou óbvio para nós que foi tudo feito para quebrar a empresa e fechar, porque não queriam mais a Avianca operando e não queriam a Azul na ponte aérea.

Houve esforço da Azul para acabar com a Avianca? Enquanto eles negociavam dívidas com arrendadores de aviões, a Azul tentou comprar esses aviões? Por que comprar justo desses arrendadores e não de qualquer outro no mundo? É fato que estamos recebendo aeronaves que estavam sendo operadas pela Avianca. Mas quando fizemos a oferta para comprar a Avianca, liguei para todos os lessores e falei: “segura as aeronaves aqui, quero comprar a empresa, é melhor para mim e para vocês que as aeronaves fiquem.” Isso é documentado, falei para todos os lessores. 

Logo depois que Gol e Latam entraram [na disputa pela Avianca], todas as aeronaves saíram. Você tem razão, tem aeronaves no mercado, mas se tiver aeronaves que vão ficar disponíveis no Brasil é mais fácil. É parte do que fazemos, mas o que falamos sempre é: “guarde as aeronaves aqui”. Para ter os ativos que a Avianca tinha, ela precisava continuar operando. O maior ativo que tiveram foram os slots [autorizações de pousos e decolagens].
 


Por que a morte da Avianca favorece Gol e Latam? [Nos mercados] onde a Avianca está, Gol e Latam sempre estiveram. Quando a Avianca vai embora, só as ajuda. Em aeroportos como Brasília, Congonhas e Salvador, somos pequenos. Torcemos pela Avianca. Eu não concorria com a Avianca porque não operava nas mesmas rotas.

Se a Anac recebe [de volta] os slots [da Avianca] e dá um terço para cada um [concentra mais com Gol e Latam]. Ainda que somasse Azul e Avianca, meus concorrentes ficariam com mais de cem voos a mais em Congonhas. Eles queriam que a Azul ficasse com um voo às 7h e outro às 12h. Sabiam que as pessoas que pagam tarifas altas não iam voar comigo, porque não tenho multifrequência.

A Azul tem slots em Congonhas. De lá, voa para outros lugares. Não poderiam usá-los na ponte aérea?Tenho 13 slots. Tenho hubs em Confins e Porto Alegre. Preciso voar para meus hubs. Quem diz que tenho voos suficientes para voar a ponte aérea está enganando o povo. Claro que posso pegar um voo para voar Rio-SP. Mas tem que voar a cada hora, pelo menos.

Muitos dizem: “A Azul opera sozinha em muitos aeroportos”. É fato. Mas todos esses aeroportos são livres para outros entrarem. Quem reclama que estou sozinho em outros aeroportos é bem-vindo.

Sites especializados falaram recentemente que o ex-presidente da Avianca está trabalhando com o Elliott, credor da empresa, que nega. O sr. viu? Reclamou? Isso é para a Justiça olhar. Não tem a ver com a gente. Vi, mas não sou juiz. 

Por que vocês saíram da Abear (associação do setor)? Temos interesses diferentes. Nossos concorrentes querem que Congonhas continue fechado só para eles. Nós queremos que abra. É hora de termos nossa própria conversa com o governo para mostrar o que estamos fazendo aqui. Não preciso de um terceiro para falar em meu nome.

Com tudo o que fizemos pelo Brasil, temos crédito para abrir qualquer porta em Brasília. Nossos concorrentes são alinhados contra os interesses da Azul. 

Houve delação do sócio da Gol neste ano admitindo propina a políticos por meio da Abear. O que o sr. achou? É delação dele. Não estou a par.

Outro lado

Concorrentes negam esforços contra Avianca e criticam atuação da Azul


Procuradas para comentar as afirmações do presidente da Azul, John Rodgerson, de que Latam e Gol fizeram esforços pelo fim da Avianca, as companhias negam. 

A Latam afirma que “é leviana” a afirmação. Também diz que ofereceu financiamento para o capital de giro, está transportando os passageiros da Avianca e tem contribuído ativamente para que o processo avance. 

“Toda essa demora no processo de recuperação judicial tem um único responsável: a própria Azul. A empresa tem buscado formas de protelar o leilão, oferecendo alternativas onde só ela pode competir, as quais confundem, atrasam o processo e o torna não competitivo”, afirmou a empresa, em nota. 

Também em nota, a Gol diz que “não há, desde o início desse processo, um único ato da Gol que demonstre qualquer intenção contrária à continuidade da operação da Avianca Brasil, como afirma seu competidor, em uma clara tentativa de influenciar e confundir a opinião pública”.

A Elliott também rejeita as afirmações do presidente da Azul. A empresa diz que "trabalhou incansavelmente para apresentar um plano que atribua aos ativos da Avianca seu real valor criando competição entre potenciais compradores, entre eles a Azul".

Em nota, a Elliott diz que esse plano é benéfico para todos os credores, incluindo os funcionários. "A Elliott só interrompeu as negociações com a Azul quando ficou claro que a empresa estava agindo de má-fé com o objetivo de assumir os ativos praticamente de graça, com os credores recuperando pouco ou quase nada", diz o fundo.

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