'Caixa-preta' não deveria ser prioridade do BNDES, dizem empresários

Entidades defendem que a instituição aumente financiamentos a pequenas e médias empresas

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São Paulo

A meta de "explicar a 'caixa-preta'" do BNDES em até oito semanas, apresentada pelo novo presidente do banco, Gustavo Montezano, nesta sexta-feira (12) a funcionários, não deveria ser prioridade da gestão, segundo empresários.

Eles defendem que a instituição foque ações como o aumento de financiamentos a pequenas e médias empresas, o fomento às exportações brasileiras e a redução de juros nos programas de crédito como o Finame.

Gustavo Montezano, presidente do BNDES - Hoana Gonçalves - 22.mar.19/ME

Para José Velloso, presidente da Abimaq (associação da indústria de máquinas), “a investigação sobre a caixa-preta não pode ser o foco, existem órgãos competentes para isso, como a polícia. Diretor de banco não pode ter a competência medida por como conduz uma investigação, não se preparou para isso”, diz.

"O que espero do BNDES é que o banco seja um dos vetores da retomada dos investimentos, a instituição sempre teve papel preponderante nessa área. Agora, mesmo que o Brasil se modernize com as reformas, as pequenas e médias empresas terão muita dificuldade de se financiar pelo mercado de capitais".

Velloso critica os juros cobrados atualmente pelo Finame que, segundo ele, é alto devido ao spread dos bancos privados. "Hoje, o custo do financiamento é mais alto que o do retorno do empresário. O BNDES precisaria reduzir a taxa de juros".

Ele defende, também, a que o banco financie exportações de empresas brasileiras de maneira mais arrojada. "O setor de máquinas exporta 40% do faturamento, mas só 5% é feito com financiamento, é irrisório."

“O BNDES deve retomar a liberação de crédito. O papel do presidente do banco não é levantar caixa-preta, isso é coisa de Justiça, polícia e Ministério Público. Se tivesse algo, já deveria ter aparecido”, diz José Ricardo Roriz Coelho, ex-presidente da Fiesp.

"Os bancos privados não conseguiram preencher a lacuna dos bancos estatais, que têm mais de 50% do crédito. O BNDES é importante para médias e pequenas companhias, para startups e para fomentar a inovação", afirma.

"No Brasil, o banco está parado, trocando diretorias. Independentemente dos quadros, precisa funcionar."

A AFBNDES (associação dos funcionários do banco), que historicamente tem se posicionado contra a retórica de que existe uma caixa-preta do BNDES, ainda não se pronuncia sobre as nomeações. A diretoria da entidade quer buscar o diálogo com Montezano e será recebida pelo executivo no próximo dia 18.

Nomeações

Montezano apresentou aos servidores a nova diretoria do BNDES e o novo organograma de gestão. A apresentação diz que o banco “deve ser sustentável e não necessariamente lucrativo” e ter “atuação complementar e pioneira” sem competir com a iniciativa privada onde esta possa atuar.

O novo presidente criou as diretorias de Recursos Humanos, Compliance e Relações Institucionais e Governos. Para chefiar esta última, nomeou Adalberto Vasconcelos, que foi demitido da secretaria especial do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) no último dia 5.

Ele estava no cargo desde o governo Temer e deixou o ​PPI após a reformulação das secretarias vinculadas ao Planalto. O ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) afastou-se da coordenação política e assumiu atribuições como o PPI.

Vasconcelos “é um nome fantástico, que sempre fez um trabalho sério, e é um quadro valioso para estruturar projetos de infraestrutura”, segundo Velloso.

Chama a atenção na nova composição do banco a presença de quadros do TCU. O novo comando do BNDES busca uma composição com o Tribunal de Contas da União, que protagonizou embates com as últimas gestões do banco.

Em abril, o tribunal condenou Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, a seis anos de inabilitação para cargos públicos, além de multa de R$ 50 mil. A sanção é resultado da análise da participação dele nas chamadas “pedaladas fiscais” no governo Dilma Rousseff.

O novo diretor jurídico, Saulo Benigno Puttini, é ex-auditor do TCU, e o de Compliance, Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, é auditor do tribunal.

Para Sandro Cabral, professor do Insper, abrir espaço para servidores do TCU é um dos pontos positivos das nomeações de Montezano.

"Os auditores são concursados e preparados do ponto de vista técnico, embora não sejam garantia absoluta de isenção ideológica", diz.

A saída da diretora de Governo e Infraestrutura da gestão de Levy, Karla Bertocco, é um ponto a se lamentar, diz ele. "É um quadro excepcional e com grande experiência na gestão pública." Bertocco foi diretora geral da Artesp (agência reguladora dos transportes rodoviários no estado de São Paulo).

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