Morre economista e ex-ministro do Trabalho Walter Barelli

Referência no campo do sindicalismo, Barelli também foi deputado federal de 2003 a 2007

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São Paulo

​​Walter Barelli exerceu muitas atividades ao longo da vida. Foi economista, professor universitário e diretor do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Na vida pública, atuou como deputado federal, secretário estadual e chegou a ministro. Em todas essas funções, houve um ponto em comum: a dedicação às questões trabalhistas.

Walter Barelli  morreu na noite desta quinta-feira (18). Ele faria 81 anos no próximo dia 25. Estava internado desde abril, após bater a cabeça numa queda.

O velório ocorrerá na tarde desta sexta-feira (19), na cripta da Catedral da Sé, em São Paulo. O horário de início será às 15h e segue até as 22h —a partir das 19h acesso apenas pelo fundo da catedral. 

No sábado (20), o velório começa às 7h30 e segue até as 10h, quando haverá uma missa. O enterro acontece às 11h no Cemitério Gethsêmani Anhanguera.

Economista Walter Barelli foi ministro do Trabalho
Economista Walter Barelli foi ministro do Trabalho entre 1992 e 1994 - Mastrangelo Reino - 05.mai.2011/Folhapress

Filho único de um mecânico de manutenção e de uma tecelã, ele nasceu em 25 de julho de 1938 na zona leste de São Paulo, onde passou a infância e a adolescência. Ao cursar economia na USP, aderiu à Juventude Universitária Católica (JUC).

Nessa época de militância estudantil, Barelli apoiou ativamente José Serra na eleição para a presidência da UEE (União Estadual dos Estudantes) e depois da UNE (União Nacional dos Estudantes). Três décadas depois, Serra seria seu colega de PSDB.

Concluiu a pós-graduação em sociologia do desenvolvimento em 1967, mesmo ano em que se tornou diretor técnico do Dieese, instituição de pesquisa e assessoria do movimento sindical na qual trabalhou por mais de 20 anos.  

Nome de destaque numa entidade que ganhava espaço no meio trabalhista brasileiro, Barelli se notabilizou pelas críticas à ditadura militar devido às sucessivas perdas salariais. Chegou a ser preso em 1979 e levado ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social), mas logo foi liberado. Nesse período, conciliou o trabalho no Dieese com as aulas em universidades como FMU e PUC.

Barelli conviveu com lideranças dos trabalhadores, como Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, que foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo por mais de 20 anos. Aproximou-se do PT, apesar de não ter se filiado ao partido.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva se candidatou à Presidência, em 1989, Barelli ocupou a função de assessor do petista na área econômica, o que o obrigou a deixar o Dieese. A vitória de Fernando Collor de Mello o levou a integrar o chamado governo paralelo, que reuniu alguns dos principais nomes da oposição.

Depois do impeachment de Collor, em 1992, o comando do Palácio do Planalto passou para as mãos de Itamar Franco. O convite a Barelli para assumir o Ministério do Trabalho foi uma das decisões iniciais do novo presidente.

A iniciativa desagradou a direita e a esquerda. Entidades patronais, como a Fiesp, se incomodaram com a escolha de um ministro ligado aos sindicatos. O PT, por sua vez, se opôs ao governo Itamar e assim se afastou de Barelli.

Como ministro, ele lançou programas de geração de emprego em áreas como a indústria automobilística e a construção naval e promoveu ações contra o trabalho escravo em Minas Gerais e em estados da região Norte. Articulou com os congressistas a aprovação de uma proposta de reajustes salariais bimestrais para compensar os trabalhadores pelas perdas causadas pela inflação.

Não foi uma gestão tranquila. Barelli teve uma série de atritos com a equipe econômica comandada pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Numa reunião no Planalto, chegou a pedir demissão a Itamar. "Com um plano assim, o senhor não precisa de ministro do Trabalho", disse.

Barelli insistia em um salário mínimo de US$ 100, valor considerado inadmissível pela Fazenda, que temia a quebra da Previdência, entre outras consequências. FHC e seu Plano Real saíram vencedores da queda de braço. Para não prejudicar o governo, Barelli se manteve no cargo, mas ganhou contrapartidas, como o abono de 5% do funcionalismo.

Passados os conflitos, as relações entre os ministros se ajustaram. Ao longo de 1994, o economista —a essa altura, filiado ao PSDB —ajudou a elaborar o programa de governo do candidato FHC, que saiu vencedor da disputa com Lula.   

Em janeiro de 1995, a convite do recém-eleito governador Mário Covas, Barelli assumiu a Secretaria de Emprego e das Relações de Trabalho do Estado de São Paulo.

O Banco do Povo foi uma das suas principais realizações. Conseguiu que a Assembleia Legislativa aprovasse a criação do Fundo de Investimentos de Crédito Produtivo e Popular de São Paulo, o chamado Banco do Povo, que concedia financiamento a microempresários. Outra iniciativa relevante foi o Programa Emergencial de Auxílio-Desemprego, que promoveu frentes de trabalho para ações como limpeza de escolas.

Depois de uma tentativa mal-sucedida de obter uma vaga na Câmara dos Deputados em 1998, Barelli conseguiu uma suplência na eleição de 2002. Nesse mesmo ano, lançou o livro “O Futuro do Emprego”, uma década depois de ter publicado “O Futuro do Sindicalismo”.

Assumiu o mandato de parlamentar no início de 2005, função na qual permaneceu até o começo de 2007. Nos anos seguintes, Barelli distanciou-se da política e voltou a dar aulas de economia na Unicamp, pela qual se aposentou.

Viúvo, deixa três filhos, Suzana, Pedro e Paulo.

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