Open banking depende de dedicação dos bancos, dizem especialistas do Reino Unido

Tecnologia permite compartilhamento de informações bancárias, mas sempre com autorização expressa do consumidor

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São Paulo

Os bancos começaram a compartilhar dados de seus clientes porque foram obrigados, não porque queriam. E isso ajuda a explicar por que a primeira etapa do Open Banking no Reino Unido, lançada em janeiro do ano passado, foi um relativo fracasso.

Por aqui, a tentativa das empresas é tornar o processo menos custoso e com maior potencial de geração de receitas.

Huw Davies (esq) e Chris Michael, dois dos desenvolvedores das regras de Open Banking - Zanone Fraissat/Folhapress

Essa é a análise de Chris Michael, diretor de tecnologia da entidade de implementação do Open Banking (OBIE, na sigla em inglês) no Reino Unido.

O Open Banking é o compartilhamento de informações bancárias de consumidores por meio de APIs (espécie de porta de entrada em aplicativos para troca de informações, de forma padronizada), sempre após autorização expressa dele.

O princípio dessa tecnologia é que os dados pertencem aos consumidores e que eles devem ser capazes de fornecê-los a quem quiserem, em busca de serviços mais eficientes e baratos. 

Parte do problema da concentração no setor financeiro está ligada ao controle que bancos têm das informações de seus clientes e à dificuldade que outros concorrentes têm de acessar os mesmos dados. No caso do crédito, por exemplo, a avaliação de um risco de calote é mais complexa, deixando os juros mais caros.

O Banco Central do Brasil defende que esse instrumento poderá ajudar, por exemplo, na queda dos juros cobrados em empréstimos.

Por aqui, no entanto, o sistema ainda está em estágio de criação de normas, que depois devem ir a consulta pública —o processo está previsto para este semestre.

Quando os nove maiores bancos do Reino Unido colocaram suas APIs no ar, a operação foi precária e, segundo Michael, muito disseram que o Open Banking jamais funcionaria porque os bancos não tinham interesse que funcionasse.

“Não ajudou o fato que bancos foram forçados a abrir [os dados] ao mercado de graça”, afirma Michael.

Tecnicamente, o primeiro fracasso ocorreu por questões regulatórias.

“[O Reino Unido] estabeleceu um número de requisitos, mas todo mundo tinha uma interpretação levemente diferente deles”, complementa.

Depois do tropeço inicial, as incertezas regulatórias foram esclarecidas e os serviços passaram a funcionar de uma forma mais simples, ao menos para a parte de informações bancárias, acrescenta.

Segundo Huw Davies, também funcionário da OBIE —a autoridade regulatória de Open Banking no Reino Unido—, 137 instituições reguladas já trocam informações pelo sistema e a cada dois ou três meses o uso do Open Banking dobra por lá.

“Está começando a ter um impacto material muito maior em como as pessoas administram seu dinheiro, como pedem empréstimos e como gerenciam seus negócios”, diz Davies.

A transformação mais significativa virá, no entanto, quando bancos menores e fintechs (as startups do setor financeiro) efetivamente começarem a criar novos serviços a partir dessa tecnologia, avalia Davies.

Michael e Davies estão no Brasil a convite da Tecban (a empresa dona da rede de caixas eletrônicos 24 Horas e controlada pelos cinco maiores bancos do país). 

A empresa planeja usar parte da estrutura de comunicação que já desenvolveu para os caixas eletrônicos para funcionar como um agregador, tentando reduzir o custo dos bancos, diz Tiago Aguiar, executivo de Novas Plataformas na TecBan.

Os serviços seriam prestados a quaisquer interessados, não apenas aos acionistas.

Há alguns meses, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, resumiu a preocupação que a Tecban tenta resolver centralizando os acessos aos servidores do banco.

“O GuiaBolso tem hoje 500 mil clientes. Imagina se a Amazon, com os clientes dela, decidisse a cada dois minutos bater no banco para consolidar o extrato do cliente? Esse é o grande risco que a gente corre”, afirmou a acionistas à época.

A solução também passa por encontrar novas fontes de receitas para instituições financeiras, que terão dificuldades de manter a mesma rentabilidade em um cenário de maior competição.

“Historicamente, bancos eram donos de tudo. Eles desenvolviam o produto e vendiam em seus canais, agências e sites com a marca deles. O Open Banking realmente muda o modelo de negócio para os bancos”, afirma Davies.

A solução pode vir, no entanto, justamente daquilo que eles vem fazendo desde sempre. Especialistas em crédito há anos, poderiam, por exemplo, oferecer a análise de crédito a quem deseja emprestar. 

Quais são as regras já fixadas do Open Banking no país

  • Dados compartilhados de produtos e serviços de instituições participantes (localização de pontos de atendimento, características de produtos, termos e condições contratuais e custos financeiros, entre outros)
     
  • cadastrais dos clientes (nome, filiação, endereço, entre outros)
  • de transações, como saldo de contas de depósito, operações de crédito e demais produtos e serviços
  • contratados pelos clientes serviços de pagamento (inicialização de pagamento, transferências de fundos, pagamentos de produtos e serviços, entre outros)


Quem será obrigado a compartilhar

Inicialmente, os grandes bancos.

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