China defende alinhamento dos Brics por multilateralismo

Declarações são feitas enquanto o governo de Jair Bolsonaro mostra adesão à pauta de Donald Trump acerca do tema

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Brasília

Em meio ao alinhamento do governo brasileiro a interesses comerciais dos Estados Unidos, a China defendeu frente aos demais integrantes do Brics a necessidade de o bloco defender o multilateralismo e as regras de comércio internacional.

O recado foi dado durante reunião do conselho empresarial do bloco (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que acontece em Brasília.

As declarações são feitas enquanto o governo de Jair Bolsonaro mostra uma adesão à pauta de Donald Trump acerca do tema. O Brasil quer excluir críticas dos Brics à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) defendida pelos EUA, que enfraqueceria o tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento.

Equipes dos governos de Jair Bolsonaro e de Xi Jinping em almoço no Itamaraty, em Brasília
Equipes dos governos de Jair Bolsonaro e de Xi Jinping em almoço no Itamaraty, em Brasília - Alan Santos/ AFP

A China também trava com os Estados Unidos uma guerra comercial, com ambos criando tarifas de importação a uma série de produtos de origem do outro país.

Nesta quarta-feira (13), o presidente da seção chinesa do conselho empresarial do Brics, Xu Lirong, declarou sem citar os Estados Unidos que o multilateralismo está sob risco. “Neste momento observamos grandes modificações, com práticas antigas de multilateralismo sob algumas ameaças”, disse.

“Nas parcerias entre os Brics, precisamos ter desenvolvimento conjunto e, em face ao multilateralismo e ao protecionismo, saber que direção tomar. Defender multilateralismo e regras do comércio internacional. Promover espírito de cooperação de espírito mútuo”, afirmou.

Técnicos da equipe econômica brasileira afirmaram após serem questionados sobre as declarações que o Brasil defende um sistema de comércio global baseado em regras, mas que elas precisam ser “do século 21”. 

Eles reforçam que o Brasil decidiu em março abrir mão do tratamento especial na OMC por considerar o dispositivo adequado apenas a economias de baixíssimo desenvolvimento. 

Os representantes, que pediram para não serem identificados, afirmaram ainda que usar a OMC como uma “caixa de ressonância” para as tensões EUA-China não é correto.

Representantes de outros países também comentaram a situação atual do comércio global e demandaram estratégias para o bloco lidar com o tema. 

“Fatores difíceis na arena mundial exigem que criemos soluções no âmbito do Brics para o interesse de todo”, afirmou Sergey Katyrin, presidente da seção russa do conselho do bloco.
 
Ele afirma haver muitas barreiras hoje entre os países do bloco (como na área agrícola e química leve) e que é preciso maiores cooperação e integração.

“Precisamos de uma análise das barreiras que impedem uma cooperação entre todos os países. Temos que usar nossas vantagens de forma mais eficiente e integrar mais nossas economias”, disse. Ele defendeu ainda o uso de moedas nacionais nas operações entre os países.

Onkar Kanwar, presidente da seção indiana do conselho empresarial do Brics, afirmou que é preciso elevar indicadores do comércio. “Diante do crescimento do protecionismo no mundo, os Brics precisam melhorar o comércio regional”, disse. 

Para ele, um dos maiores motores de crescimento deve ser o investimento. “Isso impacta muito o crescimento. Devemos nos concentrar na infraestrutura, já que ela cria demanda para nossas indústrias”, afirmou.

Busi Mabuza, presidente da seção sulafricana, citou as tensões no comércio global como uma possível causa de aprofundamento de desigualdades para países considerados emergentes. 

Ela demandou um maior diálogo entre as lideranças do bloco para melhora de indicadores nas menores economias do Brics. “Precisamos compreender por que as economias menores não estão recebendo os benefícios que necessitam tanto”, afirmou.

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