Descrição de chapéu Financial Times

Milionários esperam que bilionários façam as doações para caridade

Estudo do Barclays com 400 multimilionários mostra que 75% acreditam que a filantropia é responsabilidade dos mais ricos que eles próprios

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Tóquio | Financial Times

Diversos multimilionários do mundo estão limitando suas doações a iniciativas beneficentes porque acham que apoiar boas causas é para os ainda mais ricos que eles.

Uma pesquisa realizada pelo banco Barclays com 400 multimilionários em nove países e publicada no sábado (16) constatou que 75% acreditam que a filantropia é responsabilidade dos mais ricos que eles próprios.

Cerca de 46% acham que o financiamento de boas causas é função do Estado, 29% dizem que os compromissos familiares e comerciais vêm em primeiro lugar e 27% citam a falta de fé na forma como as instituições de caridade são administradas.

O estudo surge quando questões éticas sobre o acúmulo de riqueza e a crescente desigualdade crescem na agenda política, provocando pedidos de impostos mais altos sobre grandes rendas e fortunas estabelecidas.

Elizabeth Warren, uma das principais candidatas democratas na corrida eleitoral contra o presidente dos EUA, Donald Trump, provocou críticas de bilionários com seus planos de um imposto sobre a riqueza, uma discussão que teve repercussões globais.

Lloyd Blankfein, ex-executivo-chefe do Goldman Sachs, criticou a candidata depois de participar de um vídeo da campanha de Warren. "A vilificação de pessoas como membros de um grupo pode ser bom para a campanha dela, não para o país", escreveu ele no Twitter.

O relatório do Barclays, publicado no auge da temporada de captação de recursos no final do ano, analisou 400 pessoas com ativos de US$ 5 milhões ou mais no Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Hong Kong, Singapura e Índia.

Ele afirmou que a má compreensão das instituições beneficentes, o controle insuficiente sobre o uso de doações e escândalos recentes contribuíram para uma "descrença" mais ampla nessas instituições.

O estudo do Barclays exclui de modo geral os Estados Unidos, onde os ricos são grandes doadores, segundo os padrões internacionais, com contribuições à caridade que representam mais de 2% do Produto Interno Bruto. As doações em outras economias líderes ficam bem abaixo de 1%, com o Reino Unido em primeiro lugar na Europa, com doações de pouco mais de 0,5% do PIB.

De acordo com um relatório de 2016 da Charities Aid Foundation, órgão guarda-chuva do Reino Unido, a França e outros países da Europa continental, com grandes serviços de assistência social conduzidos pelo Estado, doam menos de 0,3% do PIB. A Coreia do Sul ocupa a primeira posição entre os países não europeus, com 0,5%.

Há um vislumbre de esperança para as instituições de caridade nas conclusões do estudo "Barreiras à Doação" do Barclays, já que 59% dos multimilionários pesquisados reconheceram que deveriam doar mais, enquanto 14% discordaram. Os autores argumentam que as instituições de caridade e seus assessores deveriam agir com base em que as doações poderiam aumentar, e concentrar-se em reduzir os obstáculos percebidos à doação, especialmente uma falha de comunicação entre possíveis doadores e instituições de caridade.

Em uma clara referência às denúncias de má conduta sexual que abalaram a Oxfam, instituição beneficente global para o desenvolvimento, o relatório diz que os escândalos costumam gerar a impressão equivocada de que todo o setor é mal administrado, o que afasta os doadores.

Matthew Bowcock, empresário de alta tecnologia e cofundador da Beacon Collaborative, organização que reúne instituições de caridade e filantropos e que apoiou o estudo do Barclays, disse que os grandes doadores não devem ser vistos como "talões de cheques", mas como pessoas que desejam "se envolver e colaborar em uma missão".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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