Polícia apura suspeita de falsificação de documento em sociedade da Marabraz

Neto da matriarca da rede afirmou à Promotoria que transferência de cotas foi forjada e questiona se digitais de sua avó são verdadeiras

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São Paulo

A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo investigam suspeita de falsificação de documentos públicos na transferência de cotas societárias da matriarca da família dona da rede de lojas Marabraz, Hajar Bartak Fares, a três dos seus quatro filhos.


A apuração foi motivada após depoimento à Promotoria de Abdul Hadi Fares, um dos netos de Hajar, em fevereiro deste ano. No mês seguinte, foi aberto um inquérito policial a pedido da promotora Maria Fernanda de Castro Marques Maia, que ainda está em andamento.

Nos autos, a defesa de Abdul cobra esclarecimentos sobre a transação das cotas e até sobre a legitimidade de impressões digitais em documentos atribuídas à matriarca, uma libanesa de 85 anos que é analfabeta em português.

Vista noturna do edifício do Ministério Público de São Paulo; entidade investiga suposta irregularidade na transferência de cotas societárias da Marabraz
Vista noturna do edifício do Ministério Público de São Paulo; entidade investiga suposta irregularidade na transferência de cotas societárias da Marabraz - Dário Oliveira/Código19/Folhapress

No depoimento de fevereiro, Abdul disse que em 2006 seu pai, Fabio Fares, tentou enganar a ex-mulher Suhaila, sua mãe, e simulou a transferência de bens aos irmãos logo antes de se separar. 

Cinco anos depois da venda simulada, segundo o relato de Abdul, seus três tios protocolaram a transferência das cotas na Jucesp (Junta Comercial de São Paulo). 

Quando o processo da partilha de bens foi encerrado, Fabio não conseguiu sua parte na empresa de volta e foi à Justiça contra os irmãos.

A fala de Abdul ao Ministério Público tem o mesmo teor do relato que seu pai fez à Justiça ao afirmar que teria cometido a simulação.
 

Fabio Fares é o primogênito de Hajar e, em um dos processos civis, que corre em São Paulo, pede bloqueio de bens dos irmãos e nulidade de documentos que assinou.

Conhecida rede do ramo de móveis, a Marabraz teve receita de aproximadamente R$ 500 milhões em 2018, segundo estimativas de mercado. Neste ano, sócios do grupo reativaram a marca da loja de departamento Mappin, que havia pedido falência no fim dos anos 1990.

 

Nos bastidores, no entanto, a guerra judicial rachou a família Fares, fundadora e dona das empresas.
De um lado estão as pessoas próximas a Fabio Fares, como o filho Abdul. Do outro, estão as ligadas aos outros três irmãos (Nasser, Adiel e Jamel), que comandam a Marabraz atualmente. No conflito, há trocas de acusações mútuas.

O caso que é alvo de inquérito envolve uma das empresas da família, a LP Administradora de Bens. Em 2006, as cotas doadas a Fabio Fares valiam R$ 44 milhões (cerca de R$ 90 milhões corrigidos pelo IPCA). 

Naquele ano, Hajar se retirou da LP e doou suas cotas aos quatro filhos. No mesmo documento que faz a doação, Fabio Fares vende as cotas que recebeu dela aos três irmãos.
 

Fabio diz que, como era uma venda simulada, não foi pago e esperava ter as cotas de volta depois. Em 2011, a transferência das cotas da matriarca a três dos seus filhos foi protocolada na Jucesp.

Em abril deste ano, por causa da suposta confissão de Fabio e do inquérito, também foi aberta uma investigação interna na Jucesp sobre o caso.

Segundo parecer do chefe da Procuradoria do Estado na Jucesp, Celso Mogioni, a alteração das cotas foi feita na junta “sem refletir que o requerente (Fabio Fares) foi incluído como donatário de 1/4 das quotas pertencentes à doadora (Hajar), mas, ato contínuo elas foram vendidas aos demais donatários”.

Posições

Em julho, a advogada de Abdul, Lilia Frankenthal, faz uma série de outros pedidos na investigação, inclusive de uma perícia nas impressões digitais. “Há uma diversidade de formas das digitais apostas, levando à dúvida se pertencem todas à mesma pessoa.”

Procurada, Frankenthal afirma que não está acusando ninguém no processo, só “quer saber se essas digitais são realmente dela”. “A gente precisa saber se os documentos são válidos ou não”, afirma.

Já Abdul disse à Folha que a matriarca Hajar está sendo escondida pelos parentes e “em cada cartório esse dedo tem um formato diferente”. 

“Se elas [digitais] não forem da minha avó, outras medidas serão tomadas”, diz.

Os outros herdeiros de Hajar e atuais sócios da Marabraz dizem em nota estarem “cientes da lisura de seus atos” e “seguros que a investigação mencionada pela reportagem, se existir, concluirá pelo óbvio: a legitimidade e autenticidade dos documentos e escrituras públicas”.

A empresa afirmou que a escritura que faz a transferência e venda das cotas “é um documento inquestionável” e que a defesa “lança dúvida sobre a credibilidade do cartório”.  

“Até agora, a existência dessas investigações é desconhecida dos sócios da Marabraz”, disse. A empresa afirmou ainda que a escritura pública de compra e venda de cotas foi lavrada em cartório.

A reportagem não localizou Hajar. A defesa de Fabio não se manifestou.

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