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Brasil dependerá cada vez mais do setor privado para crescer

Uma expansão relativamente mais robusta em 2020 parece provável na esteira da queda dos juros e da expansão do crédito

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São Paulo

Após mais de cinco anos de repetidas frustrações, os dados do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no terceiro trimestre trazem dois motivos para algum alento.

A recuperação mais lenta da história do país, finalmente, ganha fôlego. E o crescimento que parece emergir das cinzas da recessão seguida pela retomada mais lenta da história é de melhor qualidade do que no passado. 

A mudança que tira de cena o setor público como um dos propulsores do crescimento, abrindo espaço para que esse papel seja exercido por empresas e consumidores, nos foi imposta pela severa crise fiscal dos últimos anos.

Melhor seria se as reformas feitas em caráter de urgência —e, em parte por isso, mal digeridas pela população— tivessem tomado forma gradualmente ao longo das últimas décadas. A necessidade de mudanças mais profundas nas regras de aposentadoria do país, para ficar num exemplo, era evidente há muito tempo.

Linha de montagem de motos na fábrica da Honda no distrito industrial da Zona Franca Manaus - Lalo de Almeida - 9.set.19/ Folhapress

Agora, a um custo social altíssimo —ainda são 12,4 milhões de desempregados e uma renda per capita 8% abaixo de seu pico— o Brasil pode estar caminhando para dias melhores em termos de bem estar econômico.

A cautela desta análise —com o uso do tempo condicional— se deve às muitas dúvidas e incertezas que não se dissiparam, muitas vezes, geradas ou ampliadas por falas, incoerências e atitudes do atual governo.

Sem gastos públicos e num contexto global de desaceleração e guerra comercial, o Brasil dependerá cada vez mais do setor privado para crescer.

A principal força da expansão atual é o consumo das famílias, que acelerou entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano, impulsionado por fatores como retomada do crédito e liberação de recursos do FGTS. 

O segundo motor do crescimento foi o investimento privado. Embora tenha desacelerado em relação ao segundo trimestre, a expansão desse importante componente do PIB seguiu relativamente forte, superando expectativas. É dele que a economia brasileira depende para sair da anêmica taxa de crescimento de 1% anual. 

Uma expansão relativamente mais robusta em 2020 parece provável na esteira da queda dos juros, da expansão do crédito e das injeções pontuais de estímulo, como o FGTS.

 

Mas o Brasil precisa de muito mais do que isso. Nossa taxa de investimentos como proporção do PIB segue estagnada em pífios 16,3%. 

A mediocridade do indicador brasileiro é atestada pelo fato de que, entre 170 países para os quais o FMI (Fundo Monetário Internacional) tem dados, o desempenho Brasil está no grupo dos 20 piores nesse quesito.

Nações de alto crescimento têm taxas de investimento acima de 25%. Um exemplo batido é a China (43,4%). Mas há muitos outros: Coreia (31,4%), Índia (31,3%), Singapura (27,2%), Vietnã (23,6%), e por aí vai.

Os resultados da economia brasileira no quarto e último trimestre deste ano só serão conhecidos no ano que vem. 

Até lá, a pergunta mais importante a ser respondida por analistas é: há condições para que o investimento privado continue ganhando fôlego para sustentar uma retomada cada vez mais robusta?

Se restam dúvidas sobre a importância crucial dos gastos de empresas com máquinas, equipamentos e inovação para o desenvolvimento econômico, vale olhar com atenção o desempenho da indústria de transformação no terceiro trimestre.

No período, o segmento contraiu 1% em relação ao registrado entre abril e junho. Nos nove meses acumulados entre janeiro e setembro, a produção do setor não saiu do lugar na comparação com o mesmo período do ano passado. 

Como ressalta o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) em análise divulgada nesta terça-feira: 2019 terá uma recuperação sem indústria. Sem investimentos privados robustos esse quadro há pouca chance de se alterar.

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