Bolsas americanas têm uma das piores semanas da história

Com coronavírus, Wall Street acumula quedas de mais de 10% desde segunda

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São Paulo

A crise deflagrada pelo avanço do coronavírus está levando as Bolsas americanas a amargarem uma das piores semanas da história, com perdas semelhantes às duas maiores crises financeiras já registradas —1929 e 2008.

Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq despencaram mais de 10% cada uma desde segunda-feira (24). Apenas nesta quinta (27), a queda foi de mais de 4%. Se a retração se mantiver nesta sexta (28), será a pior semana desde a crise financeira de 2008.

A velocidade da queda, porém, já é um novo recorde negativo. Segundo o Financial Times, os seis dias de queda do índice S&P 500, que reúne as maiores companhias americanas, é a mais rápida correção —queda de mais de 10% do seu pico recente— desde 1933, período marcado pela Grande Depressão.

Painel na Bolsa de Nova York
Wall Street se encaminha para a pior semana desde a crise de 2008 - Xinhua/Wang Ying

A desvalorização desta quinta foi impulsionada pela divulgação de que o estado da Califórnia, onde fica o Vale do Silício, monitora 8.400 casos suspeitos do coronavírus. Outras 33 pessoas testaram positivo.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) anunciou ainda um primeiro caso de "exposição desconhecida" na Califórnia. Essa pessoa não viajou para as áreas de risco nem entrou em contato com outros pacientes.

Na Europa, o vírus também avança rápido. Nos últimos dias, a Itália passou a ser o terceiro país com maior número de infectados e mortes pelo covid-19. A maior parte dos casos se concentra na região mais industrializada do país, o que pode ter impactos econômicos relevantes para o crescimento global. 

Segundo o Goldman Sachs, empresas americanas não terão crescimento dos lucros em 2020 com relação a 2019 se o coronavírus continuar a crescer.

"A revisão em baixa de nossas previsões reflete o forte declínio da atividade econômica chinesa no primeiro trimestre, o declínio na demanda para os exportadores americanas, a interrupção da cadeia de suprimentos, a desaceleração da atividade econômica americana e maior incerteza", diz o banco, em relatório.

Grandes companhias, como Apple Procter & Gamble e Royal Caribbean Cruises, têm sinalizado a investidores que não vão conseguir entregar os resultados projetados para o primeiro trimestre de 2020.

Na quarta (26), a Microsoft indicou que não alcançaria suas metas de vendas trimestrais devido aos atrasos na produção causados pelo coronavírus. As ações da empresa caíram 7% nesta quinta.

Também nesta quinta, o S&P teve a pior queda diária desde 2011, com recuo de 4,4%, a 2.978 pontos, o menor patamar desde outubro de 2019.

O índice Dow Jones também caiu 4,4%, indo ao menor valor desde agosto de 2019. Já a queda de 4,6% do índice Nasdaq o levou ao menor patamar desde dezembro."

A Bolsa brasileira caiu 2,6%, a 102.983 pontos, menor patamar desde outubro. O volume negociado foi de R$ 39,7 bilhões, R$ 15 bilhões acima da média diária para o ano.

"Quanto mais contágios do novo vírus houver, mais risco temos de permanecer em zona de correção", diz Maris Ogg, da Tower Bridge Advisors.

Na semana, o Ibovespa acumula queda de 9,4%, o maior recuo semanal desde 2011.

Nesta quinta, bancos amenizaram a queda do índice. Banco do Brasil subiu 1,9%, a R$ 46,10, e as ações preferenciais do Bradesco, 0,6%, a R$ 30,29.

"Tivemos uma alta gigantesca nos últimos anos e ainda não sabemos o quanto é realização por medo do coronavírus e o quanto é o mercado achando que as ações estavam caras demais", afirma George Wachsmann, sócio da Vitreo.

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 9,5% para os 119 pontos, maior patamar desde novembro.

O barril de petróleo Brent, referência internacional, caiu 2,7%, para US$ 53,43. O WTI, padrão nos EUA, recuou 3,3%, para US$ 47,09, menor valor desde janeiro de 2019.

Num sinal da aversão a risco de mercado, o rendimento do título do Tesouro americano de dez anos caiu para 1,26%, próximo à mínima histórica.

No entanto, de acordo com Art Hogan, da National Securities, esse nível não é "um indicador de uma recessão, mas o sinal de uma corrida por ativos mais seguros, como ouro, dólar ou ações que geram altos dividendos".

Nesta quinta, o dólar subiu 0,6% ante o real e foi ao novo recorde nominal (sem contar inflação) de R$ 4,477. Durante o pregão, chegou a superar o patamar simbólico de R$ 4,50. O turismo está a R$ 4,66 na venda.

O Banco Central vendeu 20 mil contratos de swap cambial, que equivalem a US$ 1 bilhão. A operação aumenta a oferta da moeda no mercado, o que reduz a cotação. Porém, teve pouco efeito .

Além da preocupação com efeitos do coronavírus, o mercado tem o risco político como fator adicional para a fraqueza da Bolsa e alta do dólar, com o recente atrito entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso, após ele compartilhar vídeo que convoca a população a participar de manifestações contra os parlamentares.

"O temor é que possa haver algum impacto no calendário de aprovação das reformas", destacou a equipe da XP Investimentos.

Com agências de notícias

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