Descrição de chapéu Coronavírus

Isolamento total e prolongado vai dizimar pequenas e médias empresas, diz dono da CNN Brasil

Para Rubens Menin, após país entender curva de contágio e capacidade hospitalar, é preciso liberar, de forma seletiva, a operação dos negócios

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São Paulo

O empresário Rubens Menin recorreu a sua conta no Twitter nesta quarta-feira (25) para pedir pacificação política. "Tudo que o Brasil não precisa agora é de divergência entre nossas autoridades", escreveu.

A mensagem foi publicada após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defender, na noite de terça-feira (24), a flexibilização do isolamento, decretado em alguns estados para conter o coronavírus. A fala atraiu muitas críticas, em especial do governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), um dos que determinou o fechamento de estabelecimentos comerciais cujo os serviços não fossem considerados essenciais.

Pouco depois, em entrevista à Folha, Menin disse que já vinha preocupado, há alguns dias, em equilibrar dois temas que considera cruciais para o Brasil no momento, saúde e economia. A briga entre Poderes comprometia a solução de ambos.

"O Brasil é o único país em que está acontecendo desunião. Isso é ruim. É igual time de futebol com dois técnicos no banco. Um manda o time atacar para cá, o outro manda defender para lá. Isso não funciona", afirma.

Na liderança de um grupo familiar que reúne a MRV Construtora, o Banco Inter, a LOG, do setor de logística, e mais recentemente o canal CNN Brasil, Menin tem visão ampla do setor empresarial. Apesar de considerar que o isolamento é fundamental para o país preparar a sua rede de atendimento aos doentes, defende a abertura, o quanto antes, dos pequenos e médios negócios.

"Temos que ter, realmente, muito cuidado para não dizimar as pequenas e médias empresas", afirma.

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Rubens Menin Teixeira de Souza, fundador da MRV, uma das maiores construtoras do país. Rubens é engenheiro civil pela UFMG, é sócio-fundador e presidente do conselho da MRV, do banco Inter, da Log Commercial Properties e da americana AHS; licenciou para o Brasil a marca CNN e é seu principal investidor - Bruno Santos - 26.set.2019/Folhapress

O sr. está entre os empresários preocupados com os efeitos do isolamento sobre a economia por causa do coronavírus. Como o sr. está vendo a questão?

Estamos vivendo um momento extremamente importante. Alguns fatores, por incrível que pareça, me deixam otimista. O Brasil teve uma sorte —vou chamar de sorte isso— de entrar na crise um pouco depois de outros países, o que nos dá a chance de copiar o que teve bom e não copiar o que teve de ruim.

A China teve que fazer, de emergência, um hospital no meio da crise. A Itália não conseguiu fazer isso com essa eficiência. O Brasil, por sua vez, começou a tomar providência antes do pico, e a sociedade começou a se mobilizar com muita efetividade, o que vai nos ajudar. Até com essa briga entre os Poderes, que não é boa, a gente conseguiu fazer uma ação coordenada.

O que a gente precisa entender agora é compatibilizar, com inteligência, a curva de crescimento da doença com a capacidade hospitalar do país. Esse é o primeiro ponto. Mas precisamos pensar que, um dia, a economia precisa voltar e, quanto mais cedo acontecer, sem prejuízo às pessoas, melhor será para todos.

Para entender. O sr. vê a necessidade da parada. A questão seria o tamanho e o período?

O tempo e o tamanho. Como a gente não sabe a velocidade da pandemia aqui, temos que compatibilizar a necessidade de UTI, respiradores, insumos médicos, com a curva de contágio. Depois que a gente tiver essa informação, poderemos tomar outras medidas, e aí avançar. Porque, nesse momento, nós temos dois problemas: o da saúde e o da economia.

E qual é o problema da economia?

O Brasil é um país continental, com uma economia diversificada. Não é uma Austrália, que é muito centrada em quatro ou cinco atividades. Nós temos 200 milhões de pessoas, 200 mil atividades.

Tenho duas preocupações hoje com essa economia continental. A primeira é não deixar a rede de distribuição quebrar. Temos de manter o transporte que leva insumos, produtos e mantém a rede de abastecimento do país.

A segunda preocupação é preservar pequenas e médias empresas. As grandes dão muitos empregos, mas pequenas e médias dão muito mais. As grandes têm mais ferramentas para sobreviver, as pequenas, não. Temos que ter, realmente, muito cuidado para não dizimá-las.

A área econômica do governo federal entendeu isso e está tomando medidas preventivas. A gente precisa para o Brasil de um Plano Marshall [alusão ao programa de recuperação econômica da Europa após a Segunda Guerra Mundial]. Reduzir o déficit era nossa prioridade, não é mais. Agora, precisamos ajudar pessoas e empresas, caso contrário, a crise vai ser maior.

Precisamos de um pacto nacional. Não podemos ter divergências. Assim, poderemos sair dessa crise até um pouco debilitados, mas com mais fraternidade. Agora temos que pensar em como reativar a economia adotando os dois princípios que falei: não deixar quebrar a cadeia de suprimentos e dar apoio irrestrito às pequenas e médias empresas.

Como seria esse apoio: incluiria dar ajuda financeira, liberar pagamento de impostos ou também deixar que elas funcionassem?

As duas coisas. A ajuda financeira é necessária, principalmente para bares e restaurantes. A cadeia está sendo dizimada. Mas a gente vai ter de botar para funcionar alguma coisa, sim, tão logo a gente entenda o que poderemos fazer em relação ao atendimento hospitalar.

É aquilo que falei antes. A hora que o cenário para a saúde estiver definido, que soubermos a combinação da curva de crescimento da pandemia com a capacidade hospitalar, a gente pode soltar a população na rua. Antes, não. Esse ponto é muito importante. Não queria que me interpretasse mal nesse ponto.

Eu não posso colocar gente na rua, alargando a curva da pandemia, se não tiver capacidade hospitalar. Japão e Coreia [do Sul] fizeram isso porque tinham capacidade. Temos que combinar essas curvas primeiro. É fundamental trabalhar para aumentar a capacidade hospitalar e isso está sendo feito. Depois, ir colocando as pessoas na rua de forma inteligente.

Mas quais setores o sr. acredita que poderiam voltar antes?

Algumas empresas vão sofrer muito, mas vão conseguir resistir um tempo. Algumas famílias, não. Vão ter problemas para conseguir até comida. Não há um momento exato para retomar as atividades. Mas a partir da semana que vem já vai ser difícil para algumas.

Atividades que não geram aglomeração podem retomar antes. Outras vão ter esperar mais. Vou dar um exemplo: cinema. Vai demorar mais. Uma fábrica de embalagens, porém, consegue e precisa retomar antes.

Vamos ter de ser seletivos. Seletivos com os setores e seletivos com as pessoas. Mas não vamos voltar de uma hora para outra. Se conseguirmos em dois meses será ótimo.

O sr. começou a entrevista lamentando que há uma briga entre os Poderes. Sobre o que estava falando e de que forma isso atrapalha a economia?

Atrapalha a economia, mas atrapalha mais ainda a população. Ela fica desnorteada. A população vê uma autoridade falar uma coisa e vê outra autoridade falar outra coisa e fica doida.

Precisamos unificar o discurso. O Brasil é o único país em que está acontecendo essa desunião. Isso é ruim. Todos os outros países têm um discurso unificado. Até os Estados Unidos, onde o presidente é mais polêmico, está unificado. Está vendo alguma grande divergência lá? Não. Aqui temos grandes divergências entre grandes políticos.

Isso é igual um time de futebol com dois técnicos no banco: um manda o time atacar para cá, o outro manda defender para lá. Não funciona. Essas autoridades precisam ter juízo agora e unificar. Nós não podemos mais brigar. Vamos passar por cima das divergências e acalmar a população. Para reativar a economia, a sociedade precisa estar alinhada.

Eu posso estar errado no meu diagnóstico, mas a gente precisa de coragem para falar. Estou muito preocupado. Essa briga não é boa.

A fala do presidente sobre essa questão foi extremamente polêmica. Como sr. avalia?

Eu não vou entrar em política. Não vou tomar partido. Só tenho a dizer: tudo que for pró união está correto. Tudo que for para desunião está errado. Acho que, para bom entendedor, basta, né?

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