Descrição de chapéu Coronavírus

Indústria brasileira pede proteção contra invasão externa

Pedido foi feito durante reunião com ministro da Economia, Paulo Guedes

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Brasília

Representantes da indústria veem a retomada econômica que começa a ser observada na China e em outros países como uma ameaça para a recuperação do Brasil após a pandemia do novo coronavírus.

Temendo uma invasão de produtos estrangeiros no mercado brasileiro, entidades buscam ajuda do governo. Em reunião na quinta-feira (23) com a Coalizão da Indústria, que reuniu representantes de 14 setores, o ministro Paulo Guedes (Economia) ouviu apelos para que o governo se prepare e busque estratégias para minimizar esse impacto.

Por enquanto, embora o ministro tenha sido receptivo ao pleito, técnicos da pasta minimizam a preocupação, sob o argumento de que o real desvalorizado beneficia o produtor brasileiro e de que o país não sofrerá forte impacto por ser uma economia relativamente fechada.

Participantes do encontro afirmam que, por um lado, a chegada tardia da pandemia deu tempo para que o país se antecipasse na adoção de medidas de saúde, mas, por outro, a saída da pandemia depois de outros países —principalmente da China— pode colocar o Brasil em uma armadilha.

A avaliação é a de que esses países começaram a superar a fase mais aguda da crise com suas empresas ávidas por um alívio financeiro, já que estão com estoques parados, prejuízos acumulados e necessidade de recompor o caixa.

Por isso, as companhias estariam dispostas a vender produtos a qualquer custo, mesmo que seja a preço menor que o de mercado.

Participantes da reunião afirmaram ao ministro que mercadorias produzidas na China chegam a ser colocadas à venda por um terço do valor praticado antes da pandemia.

Para os produtores brasileiros, isso vai gerar um grande problema para a recuperação da atividade.

“Demonstramos preocupação com uma entrada muito agressiva de produtos no Brasil”, afirmou Ciro Marino, presidente da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química).

“O vendedor está disposto a vender mais barato, mesmo que seja para se desfazer [da mercadoria]. Ele já comprou matéria-prima, já pagou e não tem caixa. Aí ele faz o que puder para vender”, afirmou.

Segundo Marino, Guedes ouviu os pedidos. O grupo ficou de se reunir novamente com membros do Ministério da Economia para discutir especificamente esse tema.

O presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Pimentel, afirmou que a entidade estuda mecanismos que poderiam ser adotados para evitar uma disputa desleal de outros mercados.

Ele afirmou que não foi proposta nenhuma medida radical, como alterações de tarifas.

“Não somos protecionistas nem xenófobos, mas não podemos ser ingênuos. Vai haver uma pressão forte de produtos estrangeiros que poderá trazer uma segunda onda de paralisações na economia.”

Na avaliação do presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, como o setor é um grande consumidor de produtos, essa ampliação da disputa internacional seria, em tese, benéfica. Mas pode haver efeitos colaterais.

“Para consumidores, a concorrência e a baixa de preços será ótima. O problema é que perderíamos empregos no Brasil. Esse equilíbrio é importante”, afirmou.

Nos bastidores, técnicos do governo afirmam que esse movimento ainda não é observado na corrente de comércio brasileira. Argumentam que a economia do país é considerada fechada e, por isso, sofre menos com fatores externos.

Membros do Ministério da Economia ressaltam que o real teve forte desvalorização neste ano. Isso torna, na visão deles, o produto de exportação brasileiro mais competitivo, além de encarecer a importação.

Não há, na equipe econômica, a intenção de mudar regras tarifárias ou dar tratamento diferenciado para áreas específicas. Segundo relatos, o foco do governo será mantido, com atuação para firmar acordos comerciais com países e blocos econômicos.

O processo de reformas estruturais, que serviria de base para aumentar a competitividade do país e acelerar o processo de abertura, foi colocado em compasso de espera por causa da pandemia.

Na reunião, os empresários também sugeriram que o governo use os bancos públicos para fazer o crédito emergencial para pequenas e médias empresas ser liberado. O ministro já havia dito que há recursos que estão empoçados nos bancos privados.

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