Guedes contraria agenda liberal e diz que governo entrará como sócio para salvar aéreas

Ministro planeja desoneração total da mão de obra e sugere imposto sobre transações

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Brasília

O ministro Paulo Guedes (Economia) prevê que o Estado vai se tornar acionista de companhias aéreas por causa da crise provocada pelo coronavírus. Em sua visão, essa será a consequência do modelo de socorro público a ser dado ao setor.

“É dinheiro público. Vamos botar um dinheiro lá, vamos comprar um pedaço da empresa. E lá na frente, quando a empresa estiver recuperada, vamos ver que ganhamos dinheiro para preservar as companhias aéreas”, disse em reunião com empresários nesta terça-feira (19).

Nos bastidores, o governo prepara um consórcio de bancos a ser composto pelo BNDES e instituições privadas que daria recursos às empresas usando instrumentos conversíveis em ações. “Vamos resolver nesta semana o problema das aéreas, elas vão receber os recursos. Elas serão diluídas [por meio de] debêntures conversíveis”, completou.

Os planos de Guedes para mitigar a crise também incluem o lançamento de um programa de desoneração total da mão de obra para incentivar a geração de empregos após o pico da pandemia do coronavírus. O lançamento do programa seria feito em 30 a 40 dias.

“Na retomada vamos falar de encargos trabalhistas e possibilidade de contratar pessoas sem incidência de impostos sobre mão de obra. Sem recolher impostos. Isso é um negócio que estamos estudando, vamos fazer. Vamos ter que lançar isso agora”, disse.

Embora não tenha deixado claro como a conta vai ser paga, o ministro nesse momento mencionou um imposto sobre transações (o que lembra sua ideia de emplacar a nova CPMF). "Varias associações comerciais diziam preferir imposto sobre transações do que imposto sobre mão de obra", disse.

Apesar disso, Guedes nega que queira a volta da CPMF e brinca que o último que falou nisso caiu (referência ao antigo secretário da Receita, Marcos Cintra). Pessoas presentes na reunião entenderam que o ministro defende a criação de um imposto sobre operações digitais, algo já mencionado pelo ministro.

"Nunca foi a CPMF, sempre foi um imposto sobre transações. Como tributamos isso? Tem transações digitais", declarou o ministro durante entrevista a jornalistas em dezembro de 2019.

Para o ministro, a conta da crise do coronavírus não poderá ficar para futuras gerações.

"Temos que ter coragem de lançar essa alternativa. Com menos interferência de sindicato, com menos legislação trabalhista. Vamos avançar nessa direção", afirmou. "Podemos gerar 10, 15, 20 milhões de empregos nos próximos 1, 2, 3 anos se tivermos ousadia de avançar nessa direção", completou.

Pessoas que participaram da reunião ainda disseram que Guedes sinalizou a possibilidade da extensão do auxílio emergencial de R$ 600, mas em proporções menores que as existentes hoje. O ministro tinha planejado a medida originalmente prevendo um vale de R$ 200 por pessoa.

Guedes aposta que o país vai registrar uma trajetória de crescimento em V após a crise do coronavírus. O formato, no entanto, seria semelhante ao do logotipo da Nike (com a segunda perna do V mais deitada), indicando uma recuperação mais lenta da atividade.

"É um V da Nike. Sobe devagar. Ainda acho que o Brasil está nessa posição, ainda tem capacidade de fazer recuperação relativamente rápida. Isso é o que acredito. Mas vamos ter que entrar em campo para fazer isso acontecer daqui a 30 dias", disse.

Ele rejeitou mais uma vez uma retomada por investimentos públicos, como membros do governo defendem. "O caminho é investimento privado. E é geração de emprego pelo setor privado", afirmou. "Se eu tiver R$ 100 bilhões, em vez de gasto público, eu prefiro reduzir impostos", disse.

O titular da equipe econômica criticou movimentos por aumento de salários no serviço público em meio à crise. Em sua visão, isso seria mal visto pela opinião pública e ampliaria a máquina pública. "Aí todo mundo começa a acreditar que estamos indo para aquele caminho do fim do governo Dilma, com muita briga política, inflação subindo, confusão", disse.

Apesar das medidas tomadas durante a crise, Guedes reafirmou o compromisso com a agenda liberal. "Estamos com bússola na mão e não vamos mudar a direção", disse.

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