Renda média bate recorde porque ricos seguem empregados

Ganhos mensais atingiram maior nível da série histórica, R$ 2.425

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro e São Paulo

O corte de 4,9 milhões de vagas no mercado de trabalho afetou muito mais o trabalhador informal do que o formal, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta quinta-feira (28). Com menos pessoas na informalidade para terem seus salários contabilizados na média nacional, o patamar de ganho do país subiu.

O movimento, que é um sinal de que os salários mais baixos foram os primeiros a perderem espaço na paralisação causada pela pandemia, levou a média ao maior nível da série histórica, R$ 2.425.

Isso, no entanto, não pode ser confundido como um aumento de renda dos brasileiros, porque, na verdade, é reflexo apenas da perda excessiva de postos com salários menores, típico do setor informal, que deixam de ser contabilizados na média.

"Quem está sendo expulso do mercado de trabalho é quem tinha menores rendimentos, o que joga a média para cima e mostra que a pandemia vai aumentar a desigualdade no mercado de trabalho", analisou Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV-Ibre.

De um modo geral, os impactos do novo coronavírus sobre o mercado de trabalho foram vistos com perdas em todos os setores de atividade.

Em meio aos 4,9 milhões de empregos perdidos, sete ramos registraram recuos recordes na população ocupada: indústria (-5,6%), comércio (-6,8%), construção (13,1%), transporte, armazenagem e correio (4,9%), alojamento e alimentação (12,4%), serviços domésticos (-11,6%) e outros serviços (-7,2%).

O comércio foi o que registrou a maior queda em números absolutos, com 1,2 milhão de postos de emprego perdidos, reflexo do fechamento de bares, restaurantes, shoppings e comércio como forma de conter o avanço do novo coronavírus.

O isolamento começou em março pelo país, principalmente após a primeira morte registrada, no dia 17 daquele mês, mas foi a partir de abril que os efeitos econômicos passaram a ser sentidos com mais intensidade, já que o distanciamento social durou o mês inteiro.

No setor privado, os empregados com carteira de trabalho tiveram queda recorde (-4,5%), assim como os empregados sem carteira (-13,2%) e os trabalhadores por conta própria (-4,9%).

"O isolamento muito provavelmente foi responsável por esses movimentos bastante acentuados no resultado da população ocupada", disse Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a retração de 3,4% na população ocupada também foi recorde, com 3,1 milhões de pessoas a menos, superando a marca de 2,6% no trimestre encerrado em outubro de 2016, quando o Brasil vivia período de recessão econômica.

Se antes da pandemia o país vivia uma retomada da crise passada, os números do mercado e a situação atual da doença no país apontam uma melhora muito distante do horizonte atual, avaliam os especialistas.

"A saída da crise vai ser muito mais lenta. Estamos vendo isso a partir do segundo semestre de 2021 e 2022. Isso se as coisas não piorarem por aqui ainda", afirmou Donato, da LCA Consultores.

"A economia está ficando mais pobre em relação ao mundo, porque lá fora já se discute como reabrir, enquanto aqui estamos discutindo ainda qual vai ser o baque inicial sobre a nossa economia", disse Xavier, da Tendências.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.