Entregadores de aplicativos organizam uma paralisação nesta quarta (1º) por melhores condições de trabalho, com previsão de manifestações de rua em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Os atos estão marcados para as 9h. O Sindimoto-SP espera ao menos 1 mil trabalhadores na sede da entidade, localizada no Brooklin Novo, além de concentrações dispersas em outros pontos da cidade.
No Rio de Janeiro, o ponto de encontro é a Candelária, com uma expectativa de pelo menos 500 entregadores.
Em Brasília, a manifestação está marcada para começar no estacionamento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, com adesão de ao menos 80% da categoria, afirma Alessandro da Conceição, conhecido como Sorriso, presidente da Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores (Amae-DF).
Segundo os organizadores, estão previstas paralisações em todos os Estados e manifetsações nas capitais. O movimento ganhou adeptos também na Argentina, no Uruguai e no Paraguai.
O movimento pede que os clientes deixem de fazer pedidos durante o dia em apoio à categoria usando as hashtags #BrequedosApps e #1DiaSemApp.
A paralisação vem ganhando apoio nas redes sociais. Nesta terça (30), os políticos Eduardo Suplicy, Manuela d'Ávila e Marcelo Freixo manifestaram apoio aos entregadores em seus perfis.
A categoria pede que as empresas de aplicativo forneçam equipamentos de segurança para os entregadores, como máscara de proteção e álcool em gel, e interrompa a prática de bloqueios injustificados.
"Os aplicativos bloqueiam o entregador sem qualquer justificativa. Existe também um sistema de ranking que faz o entregador ficar dependente das plataformas, sem liberdade para trabalhar quando quer", diz o presidente da Amae-DF.
"Antigamente, quando o cliente reclamava que não recebia a entrega, o iFood ligava para o motoboy para ver o que aconteceu. Hoje em diz eles não fazem mais isso. Sabem que a oferta de entregadores é grande, então nos tratam como descártaveis", afirma.
O descredenciamento levou entregadores credenciados à Loggi a entrarem com ação coletiva na Justiça, como antecipou a Folha. No dia 10, eles organizaram uma manifestação no Rio para reivindicar melhores condições de trabalho.
As empresas responsáveis pelos aplicativos também são alvo do Ministério Público do Trabalho. O órgão já moveu açõies civis públicas contra iFood, Rappi, Uber Eats, Lala Move, Uber, Cabify e 99 exigindo o fornecimento de máscaras e álcool em gel, entre outros pontos.
Ralf Elisario, um dos líderes no Rio, também cobra um aumento do valor repassado pelas empresas aos trabalhadores. Atualmente, um entregador ganha até R$ 0,70 por quilômetro rodado, afirma Gerson Silva Cunha, presidente interino do Sindimoto-SP.
Elisario também critica a falta de transparência nos ganhos com gorjetas. Segundo ele, as empresas não informam o valor pago por cada cliente, transferindo uma remessa mensal.
A pandemia teria agravado a situação da categoria uma vez que o número de entregadores aumentou. Um estudo recente realizado por pesquisadores da Unicamp, Unifesp, UFJF, UFPR e MPT apontou que 59% dos entregadores passaram a ganhar menos com as plataformas nesse período, apesar do aumento da demanda por delivery.
De acordo com o mesmo estudo, quase metade dos entregadores reportavam um ganho médio semanal de R$ 520 (sem considerar despesas com combustível, por exemplo) antes da pandemia. Desde então, o número de motoristas que afirmam ter ganhos nessa faixa mais baixa aumentou.
As lideranças do movimento afirmam que não existe um canal de negociação com as empresas.
A Uber Eats diz que disponibiliza de forma transparente cada taxa e valor correspondente. “Não houve diminuição nos valores pagos”, diz.
A empresa afirma também que entregadores diagnosticados com Covid-19 recebem auxílio financeiro por até 14 dias.
O iFood diz que "apoia a liberdade de expressão em todos as suas formas". Segundo a empresa, os entregadores são desativados somente quando há evidências de extravio de pedidos, fraudes de pagamento ou cessão da conta para terceiros, por exemplo.
A empresa afirma ainda que não trabalha com sistema de pontuação e que o valor médio recebido pelos entregados por hora em maio foi de R$ 21,80, sendo que o valor mínimo por rota é de R$ 5.
Em relação à Covid-19, o iFood afirma que "foram implementadas medidas protetivas que incluem fundos de auxílio financeiro para quem apresentar sintomas e para aqueles que fazem parte dos grupos de risco", além de ter distrbuído álcool em gel e máscaras reutilizáveis.
A Lalamove diz entender que os motoristas parceiros têm direito de reivindicar o que consideram melhor para a sua categoria. "Informamos também que a Lalamove não tem ações diferenciadas programadas para o dia 1° de julho."
A Rappi afirma que "reconhece o direito à livre manifestação pacífica e busca continuamente o diálogo com os entregadores parceiros de forma a melhorar a experiência oferecida a eles".
Segundo a empresa, o programa de pontuação foi criado "para que os entregadores parceiros com um maior número de pontos possam ter preferência para receber pedidos, criando mais oportunidades para eles e uma melhor experiência para nossos clientes".
A Rappi destaca ainda que oferece seguro para acidente pessoal, invalidez permanente e morte acidental. “Dados mostram que 75% deles ganha mais de R$ 18 por hora, quando ativos em entregas, e quase metade dos parceiros passam menos de 1 hora por dia conectados no app”, disse em nota.
Em nota, o Cabify diz que a categoria de entrega possui as mesmas regras do serviço privado de mobilidade de passageiros e que o critério de seleção é por distância e avaliação do condutor. "Além disso, a empresa afirma que não realizou ações especiais em sua plataforma devido à paralisação prevista de entregadores."
A 99Food esclarece que "respeita o direito à liberdade de expressão e manifestação dentro dos limites legais" e que não está oferecendo nenhum tipo de incentivo extra, além daqueles já praticados pela plataforma", para evitar paralisações no dia.
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