Sindicatos pedem investigação de racismo no McDonald's e marcam ato na loja de Pinheiros

Trabalhadores relatam ter sido chamados de 'macaco', 'negrinha do cabelo ruim' e 'preta suja'

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São Paulo

Sindicatos enviaram nesta segunda-feira (20) um ofício ao MPT (Ministério Público do Trabalho) pedindo a criação de uma força-tarefa de procuradores para investigar nacionalmente denúncias de racismo institucional no McDonald's, após funcionários relatarem ter sido chamados de "macaco", "negrinha do cabelo ruim" e "preta suja".

Também está previsto um ato às 11h em frente à uma das lojas mais movimentadas da rede de fast food, na esquina das avenidas Rebouças e Henrique Schaumann, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

A manifestação apoia o movimento Strike for Black Lives (Greve pelas Vidas Negras), que mobiliza trabalhadores de diversos setores nos Estados Unidos em protesto contra o racismo.

O ofício é assinado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), a UGT (União Geral dos Trabalhadores) e a Contracs (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço e Comércio) e foi enviado à Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades do MPT de São Paulo.

Segundo as entidades, nos últimos dois anos foram identificadas 16 ações judiciais individuais que relatam casos de discriminação e preconceito racial, principalmente em lojas na periferia da capital paulista.

Na de Itaquera, na zona leste, funcionários contaram que eram classificados por sua aparência física —alguns iam para locais da lanchonete mais visíveis aos clientes, já outros eram encaminhados a um posto interno da loja, distante dos olhares externos.

Em uma das denúncias, uma funcionária relata ter sido chamada pelo gerente de "negrinha do cabelo ruim". Outro relata ter sido chamado de "negrinho burro da porra". Uma terceira funcionária foi apelidada de "salon line", marca de produtos para cabelos crespos. Há xingamentos de "macaca", "babuína", "pretinha suja", "saci" e até um "volta pra favela, sua neguinha".

Os sindicatos argumentam que o racismo no McDonald's não seria apenas estrutural, mas também institucional, já que decorreria da negligência administrativa e fiscalizatória da Arcos Dorados —maior franquia da rede do mundo e que opera as lojas brasileiras.

As entidades pedem a elaboração de uma espécie de censo dos trabalhadores da rede —são cerca de 40 mil empregados nas lojas brasileiras. A ideia é saber quantos negros e mulheres foram contratados e quais posições eles ocupam, com quais salários.

"O racismo institucional é uma mácula social. Muitos dos trabalhadores são vítimas de uma estrutura social e corporativa calcada na segregação e preconceito racial, que lhes causa indeléveis prejuízos de ordem emocional e material, e que se agravam ainda mais quando se trata de uma mão-de-obra mais vulnerável por composta por jovens entre 16 e 18 anos, com baixa remuneração, oriundos de uma parcela menos abastada de nossa sociedade", diz o documento.

O texto sugere que o Ministério Público do Trabalho force a empresa a promover campanhas de diversidade, rever seus processos de seleção, capacitação e treinamento, criar canais de comunicação para denúncias sigilosas de empregados e garantir o acesso aos empregados negros a postos de todos os níveis hierárquicos.

No ano passado, o MPT no Paraná recebeu uma denúncia com 23 casos de assédio sexual ou discriminação racial de ex-funcionários brasileiros em lojas da rede. O procurador do caso, Alberto de Oliveira Neto, sugeriu ao órgão uma atuação em âmbito nacional e reconheceu que há "fortes indícios" de abusos.

Chris Kempczinski, novo presidente da corporação nos EUA, prometeu mudanças na cultura da empresa, e admite que a companhia precisa abordar a questão da discriminação racial que vem sendo levantada há anos por seus trabalhadores.

Em maio, uma coalização internacional de sindicatos de sete países denunciaram a rede de fast food na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) acusando o McDonald's de “assédio sexual sistêmico”. O orgão ainda não decidiu se dará início a um processo de mediação com a companhia.

Segundo as acusações, os funcionários sofreriam com comentários vulgares e, em alguns casos, seriam vítimas de toques, beijos forçados e até de tentativas de estupro e agressões físicas, sem que a empresa tome qualquer tipo de medida efetiva para conter ou impedir abusos.

Procurado para comentar as denúncias de racismo e o ofício enviado ao MPT nesta segunda-feira, a Arcos Dorados informou que não teve acesso ao ofício e, portanto, não pode comentá-lo.

"Reiteramos o nosso total compromisso com a manutenção de um ambiente de trabalho inclusivo e de respeito, não tolerando nenhuma prática de assédio ou discriminação", afirmou, em nota.

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