Nesta quarta-feira (26), a Bolsa de Valores brasileira chegou a cair 2,7%, após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer que recusou a proposta enviada pela sua equipe econômica do Renda Brasil, reformulação do Bolsa Família.
"Ontem discutimos a possível proposta do Renda Brasil e eu falei 'tá suspenso'. Vamos voltar a conversar. A proposta que a equipe econômica apareceu pra mim não será enviada ao parlamento. Não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos", disse em evento nesta quarta.
O Ibovespa, porém, amenizou a queda para 1,45% no fechamento, a 100.627 pontos. O dólar subiu 1,6%, a R$ 5,6170, maior valor desde maio, após superar R$ 5,63 durante o pregão. O turismo está a R$ 5,91.
A melhora nos mercados veio após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizer que nenhum projeto que desrespeite o teto de gastos será votado na Casa e depois do Ministério da Economia negar a saída do ministro Paulo Guedes do governo.
Na última segunda (24), Guedes avisou Bolsonaro que o novo programa social do governo só terá benefício médio superior a R$ 300 se as deduções do IR (Imposto de Renda) da pessoa física forem extintas.
O presidente falou do auxilio emergencial de R$ 600 em tom de autoelogio ao seu governo, sem saber ainda precisar o valor do benefício que continuará até o fim do ano. "Resolvemos estender até dezembro. O valor não será R$ 200 nem R$ 600", disse. "Lamentavelmente como é emergencial, tem que ter um ponto final."
Segundo ele, o auxílio "é pouco para quem recebe, mas muito para um país que se endivida".
Para a reformulação do Bolsa Família, que passará a se chamar Renda Brasil, Guedes apresentou propostas de parcelas entre R$ 240 e R$ 270, a depender do desenho da assistência e da extinção de outros programas. Bolsonaro pressiona para que o valor chegue a pelo menos R$ 300.
Para o mercado, a divergência entre Guedes e Bolsonaro apresenta um risco à situação fiscal do país, com a possibilidade de um benefício mais custoso aos cofres públicos, e à permanência do ministro no governo.
“Estamos observando bastante divergência entre o programa que foi proposto no início do governo e o que está sendo executado. Discordâncias entre o ministro e o presidente têm se tornando uma constante e inviabilizam a manutenção do teto de gastos. A depender do desenrolar dessa situação, e sem a possibilidade de Guedes executar as medidas de ajuste fiscal, a sua saída se torna bastante provável”, diz Igor Cavaca, analista da Warren.
Os juros futuros também subiram com o temor dos investidores com relação ao teto de gastos. Os juros de dois anos foram de 3,68% para 3,80%.
“Acho que Guedes fica no governo se tiver o mínimo de apoio. O cara é durão, mas estão todos jogando contra, principalmente Bolsonaro que está quase virando Lula. Ou o presidente apoia incondicionalmente o trabalho do ministro ou ele perde o Guedes”, diz Rodrigo Marcatti, presidente da Veehda Investimentos.
Já Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, vê a permanência de Guedes no comando da Economia. “Não é todo ruído político que significa a saída dele, é muito mais especulação do que fato concreto”.
Na sessão, o risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 3,8%, a 223 pontos.
O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.
No exterior, as principais Bolsas fecharam em alta. Em Nova York, Dow Jones subiu 0,3%, S&P 500, 1%, e Nasdaq, 1,7%.
Nos EUA, os papéis da Netflix saltaram 11,6% e os do Facebook, 8,2%, após análises positivas para as ações.
O índice FTSE All World, que mede o desempenho do mercado acionário global, também bateu recorde, com alta de 0,9%, a 385 pontos.
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