Dólar sobe para R$ 5,29 e Bolsa fecha estável em pregão volátil com cartão vermelho de Bolsonaro

Guedes alivia investidores, mas mercado o vê enfraquecido

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São Paulo

A cotação do dólar fechou em leve alta de 0,24%, a R$ 5,2890, nesta terça-feira (15), enquanto o Ibovespa fechou estável, a 100.297 pontos, após cair 0,6% pela manhã, com o pronunciamento de Jair Bolsonaro (sem partido). O dólar turismo está a R$ 5,58.

Em suas redes sociais, o presidente disse que desistiu de lançar o programa Renda Brasil, uma reformulação do Bolsa Família, e ameaçou com "cartão vermelho" integrantes da equipe econômica que defenderem medidas como o corte de benefícios de aposentados e deficientes.

O ministro Paulo Guedes (Economia) ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
O ministro Paulo Guedes (Economia) disse que o "cartão vermelho" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não foi para ele - Sergio Lima / AFP

Parte do mercado viu a mensagem como uma ameaça ao ministro da Economia, Paulo Guedes, derrubando o Ibovespa, que subia 0,67% até então.

Com a indicativa do ministro de que o "cartão vermelho" não era para ele, o índice zerou as perdas, mas não conseguiu alavancar ganhos, permanecendo estável por boa parte do pregão.

"A reação do presidente foi política, correta", disse Guedes sobre a fala do presidente.

O episódio dividiu opiniões entre o mercado. Há quem veja o ministro fortalecido e quem o veja com menos espaço no governo.

"Essa decisão fortalece Guedes, que sempre se mostrou resistente a políticas assistencialistas, reitera a agenda liberal de Bolsonaro, mas enfraquece a estratégia populista", diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

“Guedes amenizou a situação, colocou panos quentes, mas, apesar do ministro e do presidente forçarem essa relação coordenada, não convence. Mês após mês fica mais evidente que não há um entendimento entres os desejos do presidente e do ministro”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Ela vê chances de Guedes deixar o governo. “Guedes sair é um risco que o mercado vai correr até ele sair do governo ou Bolsonaro deixar de ser presidente”.

O fim do Renda Brasil, por outro lado, beneficiou os ativos mais relacionados à saúde fiscal do Brasil, como o risco-país. Ele funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes, e é medido pelo desempenho do CDS (Credit Default Swap).

Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

Nesta terça, o CDS brasileiro de cinco anos caiu 1%, a 198 pontos, menor valor desde a última quarta (9).

"As incertezas quanto a uma deterioração adicional das contas públicas passam por um alívio, explicando o movimento benigno da classe de ativos mais sensíveis às variações no quadro político-fiscal", escreveu equipe da Guide Investimentos em relatório a clientes.

A corretora, contudo, espera que o retorno do Renda Brasil ou de outro programa semelhante. "As sequelas deixas pela pandemia na forma de um mercado de trabalho altamente deteriorado possivelmente implicarão na presença de algum programa por parte dos formuladores da política fiscal. Ainda, a existência de tal programa é politicamente saboroso (como visto nos efeitos que o auxílio emergencial teve sobre a popularidade do presidente) e funciona como um mecanismo que, se não integralmente, ao menos parcialmente pavimenta o caminho para a reeleição do presidente em 2022."

Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 subiu 0,5% e Nasdaq, 1,2%. Dow Jones fechou estável.

Investidores aguardam a decisão do Fed (banco central americano), na quarta (16). A expectativa é que a política monetária de apoio à atividade econômica seja mantida.

O mercado também repercutiu o quarto mês consecutivo de expansão da produção industrial nos EUA. Em agosto, ela cresceu 0,4%, abaixo da expectativa do mercado (1%). Em julho, a alta foi de 3%.

No Ibovespa, a maior alta da sessão foi da Suzano, que subiu 6%, a R$ 48,89, após notícia na véspera de que um importante grupo de papel e celulose anunciou estar completamente vendida para seus volumes de celulose de fibra curta de outubro e aceitando pedidos apenas para novembro.

"Acreditamos que essa melhora no balanço de oferta/demanda pode finalmente fazer com que os preços de fibra curta comecem a subir gradativamente a partir de outubro/novembro", citou o Itaú BBA em comentário a clientes.

A Gerdau teve a segunda maior valorização do índice, com alta de 5,8%, a R$ 21,45, com expectativa de alta nos preços de siderurgia e mineração. Vale subiu 1%, a R$ 62,60.

A Minerva teve alta de 4,3%, após divulgar que pretende vender fatia de 25% de sua subsidiária Athena Foods. Na máxima, a ação chegou a disparar 11,2%.

A Cogna caiu 3%, enquanto YDUQS recuou 1,36%, após forte alta na véspera. A Yduqs sinalizou que disputará os ativos do Grupo Laureate no Brasil, após a Ser Educacional assinar contrato para aquisição do negócio. E o Bank of America reiniciou a cobertura no setor com recomendação 'underperfom' para Cogna e de 'compra' para Yduqs.

(Com Reuters)

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