Descrição de chapéu Financial Times

Previsões econômicas na zona do euro são cortadas com novos lockdowns

Volta de restrições ameaçam recuperação; pequenas empresas francesas reclamam que bloqueio favorece grandes redes de lojas e varejistas online

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Londres, Bruxelas, Frankfurt e Paris | Financial Times

Os novos lockdowna anunciados em toda a Europa nos últimos dias para conter o ressurgimento da pandemia do coronavírus desencadearam uma enxurrada de rebaixamentos nas previsões de crescimento econômico, pois as restrições às atividades ameaçam a recuperação do continente.

A economia da zona do euro deve encolher 2,3% no quarto trimestre deste ano, de acordo com economistas consultados pelo jornal Financial Times —um desempenho pior do que eles previam antes do anúncio das restrições.

O bloco se recuperou da recessão induzida pelo coronavírus no trimestre que terminou em setembro, registrando um crescimento recorde do PIB (Produto Interno Bruto) trimestral de 12,7%, segundo dados publicados na sexta-feira (30), mas a produção ainda estava bem abaixo dos níveis pré-pandêmicos.

Os dados, juntamente com a série de novas restrições anunciadas na França, Alemanha e outros países nos últimos dias, fizeram os economistas se esforçarem para atualizar suas previsões. Uma pesquisa do FT com 18 economistas de bancos e instituições importantes revelou que todos, exceto um, esperavam que a economia da zona do euro encolhesse novamente no último trimestre. Antes, a maioria tinha previsões de crescimento positivo.

Arredores do Museu do Louvre, em Paris, ficam desertos com toque de recolher que voltou a valer no dia 17 - Charles Platiau - 27.out.20/Reuters

O Banco da Inglaterra deve prever no final desta semana que a recuperação do crescimento no verão no Reino Unido foi mais fraca do que se estimava em agosto, que a produção mal crescerá no quarto trimestre e que as cicatrizes econômicas serão mais profundas e duradouras do que o esperado. Um segundo bloqueio nacional na Inglaterra foi anunciado no sábado, com toda a hotelaria e comércio não essencial fechando por pelo menos quatro semanas a partir de quinta-feira.

Christian Keller, economista-chefe do Banco Barclays, disse: "Embora as perspectivas para a manufatura tenham se mantido relativamente boas (...) a desaceleração na parte muito maior da economia de serviços diretamente afetados pelas novas restrições provavelmente levará a economia da zona do euro a um crescimento negativo novamente".

As taxas de infecção na Europa continuam subindo, de acordo com dados publicados no domingo pelo Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças.

O número de casos na Bélgica —país mais afetado da UE— aumentou de 1.600 por 100 mil pessoas na sexta-feira para 1.702, antes de um bloqueio parcial que entrará em vigor na segunda. A taxa de infecção na República Tcheca —a segunda mais atingida— aumentou de 1.513 para 1.561, enquanto passou de 1.000 na Eslovênia e em Luxemburgo.

Na França, que iniciou seu segundo bloqueio nacional na sexta, o número de casos aumentou de 706 para 742; no Reino Unido, a taxa aumentou de 438 para 460; e na Alemanha —onde um bloqueio parcial será imposto a partir de segunda— o número aumentou de 182 para 206.

Apesar do aumento de casos, as novas medidas são menos severas do que as impostas na primavera, enquanto as empresas estão mais bem equipadas para lidar com a disrupção, o que significa que os economistas esperam que o novo declínio econômico seja mais brando do que no primeiro bloqueio.

A produção econômica na zona do euro caiu 15% no primeiro semestre de 2020.

Katharina Utermöhl, economista da Allianz, disse que as empresas "ganharam experiência em lidar com as duras restrições de bloqueio".

As cadeias de abastecimento dos fabricantes permanecem relativamente ilesas e as exportações estão se recuperando.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse ao jornal Tagesspiegel que as fronteiras do país "permanecerão abertas", embora as novas restrições vetem os movimentos desnecessários entre as cidades e proíbam estadias em hotéis para turistas.

Além disso, "a atividade em alguns setores ainda não voltou aos níveis anteriores à crise, então simplesmente não pode cair tanto desta vez", disse Andrew Kenningham, economista da Capital Economics.

Na França, pequenas empresas reclamam que o bloqueio favorece grandes redes de lojas, hipermercados e varejistas online como a Amazon.

A lista do governo de negócios essenciais que podem permanecer abertos inclui mercearias, lojas de vinho, oficinas de conserto de bicicletas e vendedores de computadores e telefones celulares, mas exclui livrarias, floristas, lojas de roupas e brinquedos, justamente quando começa a temporada de compras de Natal.

Bruno Le Maire, ministro das Finanças da França, disse na semana passada que esperava que a atividade econômica caísse 15% durante o novo bloqueio —metade do impacto de 30% que ele disse ter experimentado durante as semanas de bloqueio na primavera.

Gilles Moec, economista-chefe da Axa, previu que se o bloqueio francês durar até meados de dezembro, "com um relaxamento moderado na corrida para o Natal", levará a uma queda trimestral de 7,4% no PIB nacional.

Lena Komileva, economista-chefe da G+ Economics, disse: "As medidas podem demorar mais para ser suspensas totalmente na longa temporada de gripe no inverno, mesmo com o forte, mas curto impulso sazonal de viagens de Natal e atividade de varejo".

E o risco de bloqueios futuros também influenciaria o comportamento dos consumidores, de acordo com Carsten Brzeski, economista do ING: "Haverá mais economia por precaução simplesmente porque mais pessoas acreditarão que poderá haver mais bloqueios no próximo ano, mesmo depois que as coisas forem reabertas".

Ele previu um crescimento do PIB na zona do euro de apenas 0,7% em relação ao trimestre anterior nos primeiros três meses do próximo ano.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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