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Pesquisa mostra que 40% das cleantechs brasileiras operam no vermelho

Levantamento identifica 136 negócios dedicados a soluções ambientais e aponta dificuldade do país em maturar investimento na área

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São Paulo

A demanda por soluções sustentáveis tem crescido conforme o meio ambiente ganha mais campo no debate público, mas startups dedicadas à questão ainda têm dificuldade para achar seu espaço e serem economicamente viáveis. Uma pesquisa mostra que 39% das chamadas cleantechs operam no negativo no Brasil.

O levantamento foi realizado pela EDP, um dos maiores grupos do setor de energia no mundo, nascido em Portugal, em parceria com FGV (Fundação Getúlio Vargas), Coppe/UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ABStartups e Statkraft.

A pesquisa identificou 136 startups oferecendo tecnologias limpas no Brasil.

Esses novos negócios atuam em campos como eficiência energética, energia solar, gestão de resíduos, reciclagem, construção verde e prestação de serviços, entre outros, e são vistas como um caminho para a construção de cidades inteligentes. Ou seja, que usam tecnologia de forma criativa e sustentável em seu planejamento urbano.

Segundo Rafael Marciano, gestor de Estratégia e Inovação da EDP Brasil, a grande dificuldade para o impulsionamento do setor é o alto investimento demandado, devido a necessidade de longos ciclos de pesquisa e desenvolvimento.

Usina Solar em Porteirinha (MG) da EDP em parceria com o Banco do Brasil
Usina Solar em Porteirinha (MG) da EDP em parceria com o Banco do Brasil - Divulgação

"Esse aspecto traz mais dificuldade para a operação e crescimento dessas novas empresas em um mercado de investidores avessos ao risco ou que demandam rápido retorno", diz Marciano. "Ou seja: não significa que as cleantechs são inviáveis, mas que seus ciclos de desenvolvimento podem ser mais demorados quando comparados a outros tipos de startups."

Entre os maiores desafios relatados pelas empresas estão expandir os negócios (63%), acessar serviços financeiros (62%) e comunicar proposta de valor (46%).

"Os desafios listados pelas cleantechs ajudam a explicar essa operação no negativo. Mais do que boas ideias e soluções, as startups precisam estar atentas a fatores como necessidade de expansão, acesso a crédito ou investimentos e precificação de serviços", explica.

A EDP acelera startups do setor por meio da EDP Venture Brasil, que já existe em Portugal desde 2008 e chegou ao Brasil dez anos depois. Foi, na época, o primeiro fundo de investimentos de capital de risco do setor elétrico no país. Desde então, mantém uma média de R$ 5 milhões investidos ao ano.

Entre as participantes da pesquisa, cerca de 40% atuam no segmento de energia limpa, como é o caso da Alka Energia, startup dedicada a ajudar empresas a economizarem na conta de luz.

Outras 20% atuam no setor de agricultura, como a Agrosmart, que captura e monitora dados de lavouras, para gerir a cadeia produtiva. Há, ainda, ao menos 6% dedicadas ao transporte, como a bynd, aplicativo que conecta colegas de trabalho para oferecer carona. O levantamento considera que uma empresa pode atuar em mais de um setor.

Em termos de níveis de investimento, 49% já receberam algum aporte de capital. A modalidade mais frequente é a de investimento-anjo, ou seja, o primeiro feito quando uma startup ainda está validando seu negócio.

Ainda segundo a pesquisa, cerca de 90% dos empreendimentos estão nas regiões Sul e Sudeste. São Paulo concentra 43% delas, seguido por Rio e Minas, com 12% cada.

Mas Marciano destaca polos de desenvolvimento, como Recife, Campinas (SP) e Itajubá (MG). Nas três cidades, o desenvolvimento do ecossistema de cleantechs tem sido possível graças a atuação de universidades públicas ou iniciativas como o Porto Digital, parque tecnológico criado na capital pernambucana.

É o caso da Biometano, startup de energia limpa incubada na Incit (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá), dedicada a aumentar a disponibilidade de energia e gás e dar solução para resíduos.

Após o levantamento, foi criado o Observatório de Cleantechs, plataforma que reúne informações sobre o setor e pretende contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e para aproximar as startups de grandes empresas.

"Mais do que nunca somos cobrados a gerar mais impacto positivo nas áreas em que atuamos. As cleantechs podem ajudar a equilibrar uma equação desafiadora: crescimento do mercado e a eliminação do impacto ecológico negativo", conclui Marciano.

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