O presidente do Banco do Brasil, André Brandão, afirmou nesta sexta-feira (12) que as desavenças com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao plano de reestruturação do banco, anunciado em janeiro, foram provenientes de um problema de comunicação.
“O principal ponto que eu posso ressaltar é que o problema foi de comunicação. Anunciamos um fato relevante [comunicado aos acionistas] com várias coisas, inclusive com o fechamento de agências. E é muito razoável que não só o presidente, mas os prefeitos e os governadores também estivessem preocupados sobre como faríamos [essas mudanças]”, afirmou Brandão durante entrevista com jornalistas.
O executivo também disse que ainda não teve oportunidade de conversar diretamente com Bolsonaro sobre as mudanças que pretende fazer, mas afirmou que já existe um diálogo entre o banco e o governo.
“Ainda não conversei diretamente com o presidente Jair Bolsonaro, mas acredito que ele tenha entendido o que estamos fazendo aqui e eu pretendo, com calma, explicar todos os nossos planos de eficiência assim que a agenda dele permitir. Aprendemos, aqui, que é preciso melhorar a comunicação direta com ele”, disse Brandão.
Bolsonaro teria se irritado com Brandão depois de o banco ter anunciado um plano de reestruturação organizacional, que envolve o encerramento de 361 unidades, sendo 112 agências, e um PDV (plano de demissão voluntária) para cerca de 5.000 funcionários.
O prazo para adesão ao PDV do banco se encerrou em 5 de fevereiro. Houve o desligamento de 5.533 trabalhadores.
Na época, membros da equipe econômica relataram à Folha que o anúncio da reestruturação gerou insatisfação no Palácio do Planalto, fazendo com que Bolsonaro cogitasse a demissão de Brandão.
Teriam saído em defesa da permanência do executivo no cargo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro Paulo Guedes (Economia).
Nesta sexta-feira, Brandão afirmou que a implementação das medidas de eficiência deve trazer uma redução recorrente de R$ 3 bilhões em despesas para o banco.
As despesas administrativas do BB atualmente giram em torno de R$ 31 bilhões por ano. A estimativa é de uma economia bruta de R$ 1 bilhão neste ano e de R$ 10 bilhões até 2025.
“São várias ações. No PDV, 80% das pessoas que aderiram já poderiam se aposentar ou estavam muito próximas da aposentadoria. Além disso, temos outros aspectos, como o plano de reforma de cargos e salários, flexibilização ao trabalho remoto, entre outros”, afirmou Brandão.
De acordo com as estimativas do banco, o PDV deve trazer uma economia de mais de R$ 780 milhões ao BB. A reforma de cargos e salários, por sua vez, economizaria R$ 911 milhões.
Segundo o diretor sênior de instituições financeiras da Fitch Ratings, Claudio Gallina, a reestruturação anunciada por Brandão segue o discurso que o banco tem adotado há alguns anos e que o aproxima de seus pares privados, com ações voltadas para cortes de despesas e aumento de rentabilidade.
"A nossa visão com referência aos bancos públicos já considera a possibilidade de interferência política. Mas essa questão entre eles [Bolsonaro e Brandão] foi pontual. O banco continua trabalhando na concorrência com os bancos privados e é importante que continue dessa maneira", afirmou.
Em 2016, ainda na gestão de Paulo Caffarelli —atual presidente da Cielo— o banco já havia anunciado sua intenção de se equiparar aos seus pares privados.
"O BB está seguindo o caminho certo, investindo em suas plataformas digitais e reduzindo gastos. Mas, querendo ou não, o banco ainda precisa prestar contas aos seu sócio majoritário, que é o governo", afirmou o presidente da Planner Corretora, Alan Gandelman.
"O André Brandão é um executivo qualificado. Ele tem muita vontade e capacidade de enxugar [a estrutura do BB]. O problema aconteceria se surgisse alguma ingerência política, mas não acho que seja o caso", completou.
Nesta semana, funcionários do banco decidiram paralisar suas atividades em reação a essa reestruturação. Segundo o BB, 88 unidades ficaram sem funcionar na quarta-feira (10). O banco tem mais de 5.000 agências e postos de atendimento.
Os grandes bancos sofreram impacto da pandemia do novo coronavírus e vêm fazendo ajustes no período. Durante a crise sanitária, instituições encerraram atividades de agências pelo país, reduzindo o atendimento presencial.
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