Descrição de chapéu juros

Presidente da Turquia demite mais um chefe do banco central após grande aumento de juros

Foi a terceira demissão em dois anos; Recep Tayyip Erdogan havia pedido redução de taxas várias vezes

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Ezgi Erkoyun Tuvan Gumrukcu Jonathan Spicer
Istambul | Reuters

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, demitiu repentinamente o chefe do banco central neste sábado (20), dois dias depois de uma acentuada alta nas taxas de juros para evitar a inflação, substituindo-o por um ex-legislador do partido no governo e crítico da política monetária mais rígida.

Foi a terceira vez desde meados de 2019 que Erdogan —que pediu por taxas baixas diversas vezes— demitiu um presidente do banco central daquele país. Analistas preveem que a lira turca cairá quando os mercados reabrirem, pois a credibilidade do banco sofreu mais um golpe.

O presidente demitido, Naci Agbal, nomeado há menos de cinco meses, havia conquistado elogios do mercado por aumentar agressivamente a taxa básica de juros em mais de 875 pontos, para 19%, a mais alta entre as grandes economias.

Naci Agbal foi demitido da presidência do banco central da Turquia pelo presidente do país
Naci Agbal foi demitido da presidência do banco central da Turquia pelo presidente do país - Umit Bektas - 6.nov.2020/Reuters

Sua demissão chocante, anunciada nas primeiras horas do sábado, veio depois que o banco central turco aumentou as taxas em mais que os esperados 200 pontos na quinta (18), em uma medida destinada a conter a inflação, atualmente em torno de 16%, e sustentar a moeda.

A Gazeta Oficial do país anunciou que Erdogan o havia substituído por Sahap Kavcioglu, ex-membro do Parlamento pelo partido governante AKP. O ex-banqueiro criticou publicamente a política agressiva de Agbal.

"Enquanto as taxas de juros estão próximas de zero no mundo, optar por um aumento da taxa para nós não vai solucionar os problemas econômicos", escreveu ele em uma coluna no jornal Yeni Safak no mês passado.

Os aumentos de juros vão "indiretamente fazer a inflação aumentar", acrescentou ele —repetindo a visão heterodoxa de economia monetária de Erdogan, que prejudica a economia do país há anos.

A falta de independência monetária exacerbou os ciclos de alta e baixa da economia da Turquia e a dolarização recorde, e ajudou a manter a inflação em dois dígitos na maior parte dos últimos quatro anos, segundo economistas. A lira perdeu a metade de seu valor desde 2018.

"Isso implica que o governo mais uma vez tentará estimular a economia com políticas de juros baixos", disse Selva Demiralp, diretora do Fórum de Pesquisa Econômica Tusiad-Universidade Koç, em Istambul.

"Tal prioridade tem um alto potencial de retroagir, causando extremas pressões sobre a lira e contraindo ainda mais a economia", disse ela.

Rápida reversão

Kavcioglu, o quarto chefe do banco central em cinco anos, é muito conhecido entre os banqueiros locais, mas pouco entre economistas da corrente dominante e investidores estrangeiros.

Antes de ser eleito em 2015 no bastião do AKP no nordeste da Turquia, ele foi vice-diretor geral no banco de empréstimos estatal Halkbank, em uma carreira de mais de 25 anos em bancos.

Um corretor em um banco local previu que Kavcioglu implementará um corte de taxas antes da próxima reunião de política monetária agendada para abril.

"Agora há uma chance muito clara de que a Turquia esteja no rumo de uma confusa crise da balança de pagamentos", escreveu em nota Jason Tuvey, analista na Capital Economics.

Desde a nomeação de Agbal, em 7 de novembro, a lira havia se recuperado mais de 15%, de um piso recorde de 8,50 por dólar. Cerca de US$ 20 bilhões (R$ 110,16) de fundos estrangeiros também gotejaram para ativos turcos, revertendo anos de fluxos de saída.

Embora Erdogan tenha indicado Agbal como parte do que ele chamou de nova era econômica amiga do mercado, o presidente continuou pedindo taxas menores. Ao anunciar reformas neste mês, ele disse que a estabilidade de preços deveria ser "posta de lado".

Na manhã de sábado, Agbal agradeceu a Erdogan no Twitter: "Por todos os cargos aos quais ele me considerou apto e me indicou até hoje[...] também transmito minha gratidão por me retirar de meu cargo nesta data".

Agbal, também um antigo membro do partido AKP, havia repetido regularmente sua determinação de baixar a inflação a uma meta de 5% até o fim de 2023 e prometeu aumentá-la de novo se necessário.

"Se você abandona uma posição de política rígida[...] em um estágio precoce, experiências anteriores mostram que a inflação volta a subir", disse Agbal à agência de notícias Reuters no mês passado em sua primeira entrevista como presidente do banco central.

Sua remoção dá continuidade à rápida rotatividade no banco.

Em julho de 2019, Erdogan demitiu o governador Murat Cetinkaya por não reduzir as taxas de juros rapidamente. Ele demitiu o substituto de Cetinkaya, Murat Uysal, em novembro do ano passado depois que a lira despencou a um piso recorde.

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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