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Vacinação lenta limita retomada, escrevem Felipe Salto e Rafael Bacciotti

Risco de piora da trajetória fiscal pode dar a atividade econômica um balde de água fria

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Felipe Salto

Diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado e professor do IDP

Rafael Bacciotti

Analista da IFI e Mestre em Economia pela FGV/EESP

Depois da queda de 9,2%, no segundo trimestre de 2020, e da alta de 7,7%, no período seguinte, a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) desacelerou para 3,2% no quarto trimestre, feito o ajuste sazonal. A redução do auxílio emergencial, nos últimos três meses de 2020, a aceleração da inflação, que derrubou o poder de compra da população, e o avanço da pandemia contribuíram para arrefecer o ímpeto de consumo.

Com esse resultado, o PIB recuou 4,1% em 2020, variação superior à estimativa apresentada pela IFI (Instituição Fiscal Independente) no Relatório de Acompanhamento Fiscal de fevereiro de 2021 (-4,5%). Para 2021, crescer a 3% dependerá da ampla e rápida vacinação da população.

Considerando-se a variação acumulada em quatro trimestres, a soma de consumo das famílias (variação de -5,5% em 2020), consumo do governo (-4,7%) e investimento (-0,8%) contribuiu com -5,2 pontos percentuais para a recessão de 4,1% no ano passado. A demanda externa (exportações menos importações), por outro lado, exerceu influência positiva, adicionando 1,1 ponto de percentagem ao PIB. Isso porque enquanto as exportações recuaram 1,8%, as importações apresentaram redução mais expressiva (-10,0%), motivadas pelo dólar nas alturas.

O dado ainda expressivo do quarto trimestre deixou um carregamento estatístico (carry-over) de 3,6% para 2021. Isto é, caso o PIB registrasse variação nula em todos os trimestres de 2021, a atividade econômica apresentaria crescimento de 3,6% no ano. A projeção atual da IFI é de 3% para 2021.

Como os primeiros trimestres devem ter desempenho ruim, essa estimativa dependerá de uma recuperação, no segundo semestre. Por sua vez, isso só virá pela vacinação e a decorrente redução das medidas de distanciamento, lockdown e que tais, hoje inescapáveis.

Vale dizer, os dados de janeiro e fevereiro já indicam contração da atividade neste início de ano. O índice de confiança empresarial da FGV recuou 2,2 pontos em janeiro e 1,8 em fevereiro. Adicionalmente, o impulso sobre a atividade econômica derivado da recriação do auxílio emergencial será bem menor do que em 2020. Lá, o auxílio representou 4% do PIB.

Agora, representaria menos de 0,5% do PIB. A saber, com quatro parcelas mensais de R$ 250 pagas a 45 milhões de pessoas, o efeito seria de R$ 34,2 bilhões, já líquido dos pagamentos aos beneficiários do Bolsa Família, limitados à diferença entre o novo auxílio e o atual.

O risco de piora da trajetória fiscal, os ventos externos e as incertezas políticas pressionam os juros. Se a Selic voltar a subir e a curva de juros para diferentes prazos seguir pressionada, a atividade econômica receberá um balde de água fria. Além disso, o lento processo de vacinação, até o momento, em um ambiente de aceleração do número de casos e óbitos, de esgotamento da capacidade do sistema de saúde e de ausência de uma estratégia nacional para lidar com a crise sanitária, limita a perspectiva de retomada da economia. A expectativa para o crescimento do PIB em 2021 é de 3,0%, mas, certamente, está virando espécie de teto.

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