Desprezo de Buffett por metas ambientais e sociais incomoda Wall Street

Berkshire se opôs à proposta que cobrava relatórios anuais sobre desafios das mudanças climáticas

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Ross Kerber Jessica DiNapoli Jonathan Stempel
Nova York | Reuters

Os acionistas da Berkshire Hathaway podem aceitar a hostilidade de Warren Buffett ao bitcoin, empresas de aquisição de ativos e apostas arriscadas no aplicativo de investimentos Robinhood. Mas quando se trata de metas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG), muitos estão traçando um limite.

Buffett e o conselho de administração da Berkshire se opuseram a duas resoluções de acionistas durante a reunião anual de investidores na semana passada. As propostas cobravam relatórios anuais sobre como as empresas da companhia estão respondendo aos desafios das mudanças climáticas, bem como relatórios sobre diversidade e inclusão no local de trabalho.

Buffett prevaleceu, apoiado por diretores que junto com ele controlam 35% de poder de voto na Berkshire. Mas alguns dos principais investidores da companhia, incluindo a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, foram parte dos cerca de 25% dos acionistas da empresa que o desafiaram e votaram a favor das propostas.

Warren Buffett, presidente-executivo da Berkshire Hathaway, em Omaha, Nebraska - Johannes Eisele - 3.mai.2019/AFP

O fundo de pensão dos funcionários públicos da Califórnia, o maior fundo público de pensão dos EUA, e a Federated Hermes, a gestora com 625 bilhões de dólares em ativos sediada em Pittsburgh, votaram pela aprovação do relatório ambiental.

É uma tendência crescente. Propostas relacionadas a metas ambientais na reunião de acionistas da Berkshire Hathaway de 2018 conseguiram não mais que 12% de apoio dos investidores, bem como uma resolução sobre diversidade no ano passado.

Conforme mais fundos de Wall Street ganham mandatos para considerar causas ESG, especialistas em governança corporativa afirmam que a pressão sobre Buffett vai crescer nos próximos anos.

"Mesmo um investidor com a fama de Buffett não está imune a tais tendências do mercado", disse Ric Marshall, diretor-executivo para ESG da MSCI Inc.

Representantes da Berkshire Hathaway e de Buffett não comentaram o assunto.

Em oposição às propostas dos acionistas, o conselho de administração da Berkshire Hathaway argumentou que o modelo descentralizado da companhia torna difícil a aplicação de modelos padronizados de clima e diversidade em suas unidades operacionais.

Buffett, um dos maiores filantropos do mundo, afirmou a investidores durante a reunião que a cobrança de relatórios ESG de todas as subsidiárias seria "asinino" porque muitas são pequenas e a Berkshire Hathaway permite que elas sejam comandadas de forma independente.

Ele afirmou ainda que não gosta de fazer "julgamentos morais" sobre negócios e que é "muito difícil" decidir quais beneficiam a sociedade.

A Berkshire Hathaway não está sozinha. Outras grandes empresas, incluindo Citigroup e Amazon.com, têm resistido a apelos ESG de acionistas, considerando-os impraticáveis ou inferiores aos que já afirmam praticar.

A presidente-executiva da Whistle Stop Capital, Meredith Benton, uma consultora do grupo de acionistas "As You Sow" ("Como você semeia"), responsável pela proposta sobre diversidade na Berkshire Hathaway, afirmou que a companhia se destaca por demonstrar pouca iniciativa sobre metas ESG e que Buffett mostrou "falta de liderança".

"Mesmo Buffett não pode ignorar o que seus investidores estão pedindo", disse Benton.

Em nota em seu site, a BlackRock criticou a Berkshire Hathaway por não mostrar adequadamente como seu modelo de negócios será "compatível com a economia de baixo carbono" e por não revelar informações que possam ajudar os investidores a entender seus esforços de promoção da diversidade.

Tim Youmans, um dos líderes da Federated Hermes, afirmou que o vice-presidente do conselho da Berkshire, Greg Abel, pareceu mais focado em mudanças climáticas na reunião de acionistas que seu chefe. Buffett disse esta semana que Abel será o presidente-executivo da empresa se ele deixar o posto.

Abel afirmou na reunião de investidores que todas as usinas de energia a carvão da Berkshire vão fechar até 2049 e que a divisão de eletricidade da companhia já fez uma grande transição para energia renovável.

Youmans disse que o comentário deu esperança de que a companhia será mais aberta a questões ESG, mas acrescentou que "estamos buscando informações e metas, não esperança".

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