Usinas do Sudeste e Centro-Oeste chegam ao fim do ano com até 10% de capacidade, mas sem racionamento, diz consultoria

PSR, que acompanhou crise de 2001, avalia que situação do setor elétrico é preocupante, mas não alarmante

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Rio de Janeiro

Consultoria que ajudou o governo no racionamento de 2001, a PSR Energy, avalia, em relatório divulgado nesta quarta (2) que não haverá necessidade de cortes de energia em 2021. A situação do setor elétrico, diz, "é preocupante mas não alarmante".

A consultoria avaliou dois cenários das condições hídricas até o fim do ano. No primeiro, conservador, considera que o nível de chuvas sobre os reservatórios será equivalente ao de 2020, que foi o pior da história. No segundo, de estresse, considera chuvas equivalentes a 90% do volume verificado em 2020 e alta de 3% na demanda.

"Não foram observados cortes de energia ou de potência em ambas as simulações", diz a consultoria, que prevê que os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste cheguem ao fim do ano com algo entre 10% [no cenário estressado] e 22% [numa projeção mais conservadora] de sua capacidade de armazenar energia, de acordo com o cenário pesquisado.

Atualmente, eles estão com 32% da capacidade de armazenamento, mesmo nível observado antes do racionamento de 2001 e da crise hídrica de 2015, o que vem levando especialistas a alertar sobre riscos de abastecimento, principalmente em caso de retomada econômica mais acelerada.

A simulação da PSR diz que medidas emergenciais são importantes para melhorar a capacidade do sistema. Algumas já foram anunciadas pelo governo, como a contratação de térmicas que hoje não estão conectadas ao sistema e a flexibilização de restrições na operação das hidrelétricas, que são obrigadas a liberar volumes mínimos de água para garantir outros usos rio abaixo.

Na terça (1), a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento) declarou situação de emergência hídrica na Bacia do Paraná, principal caixa d'água do setor elétrico brasileiro, medida que autoriza alterações nos limites mínimos de vazão e nos volumes de outorga de captação para outros usos, como a irrigação.

A medida atende a pedido do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que quer segurar água nos principais reservatórios da bacia para chegar ao fim do período seco com uma poupança maior. Mas pode trazer problemas a atividades como o agronegócio e a navegação na hidrovia do Tietê-Paraná.

A PSR sugere ainda outras medidas, como a flexibilização dos limites de intercâmbio de energia entre as regiões, para permitir maior transferência de eletricidade do Norte e Nordeste para o Sudeste, e um esforço para assegurar a disponibilidade dos equipamentos de geração, principalmente as térmicas.

Na semana passada, a Folha mostrou que é crescente o nível de inflexibilidade das térmicas nos últimos anos. Isto é, são mais frequentes os casos em que operadores dessas usinas se negam a atender pedidos do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para gerar energia.

A dificuldade é tema de disputas judiciais entre a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e empreendedores —alguns deles alegam que já geraram mais energia que o previsto e não teriam mais que atender aos pedidos, mesmo continuando a receber a receita fixa garantida pelos contratos.

Pelo lado da demanda, a PSR sugere a manutenção da cobrança da bandeira vermelha nível 2, a mais cara, na conta de luz, para sinalizar ao consumidor que o custo da energia está mais cara, e campanhas para incentivar a economia de energia.

"Tal como o observado na situação desafiadora de suprimento de 2017 e no racionamento de 2001, uma comunicação transparente, serena e objetiva, respaldada em estudos, é a melhor ferramenta para conscientizar a população da difícil situação pela qual passamos, assim como de sua evolução", diz a consultoria.

Além disso, propõe que o governo acelere o processo de implementação do Programa de Resposta da Demanda, no qual o consumidor pode ser solicitado pelo ONS para reduzir o consumo em troca de uma contrapartida financeira. O programa foi tentado na região Nordeste, mas sem sucesso.

A PSR diz que também não vê motivo para alarme em relação a 2022. Primeiro, porque o início do período úmido pode ajudar a recuperar os reservatórios no verão. Segundo, porque há expectativa de entrada de 10 mil MW em geração nova durante 2021.

"Em resumo, não há motivo para alarmes para 2022 mas, obviamente, ninguém deve “ir para a praia e confiar em São Pedro”, e sim monitorar com cuidado a evolução da oferta, hidrologia e demanda", escrevem os técnicos da consultoria.

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