De olho em sacas vendidas por até R$ 20 mil, agricultores brasileiros estão aprendendo a produzir cafés especiais. Os grãos diferenciados se espalharam por cafezais de todo porte.
O que muda normalmente não é a semente, mas o cultivo, acrescido de cuidados que vão do preparo do solo (antes e depois do plantio) às etapas de colheita, fermentação, limpeza, descascamento, armazenagem e torra.
Cerca de 19% das 63 milhões de sacas produzidas no país em 2020 foram de especiais, alta de 50% sobre 2019, segundo estimativas da Associação Brasileira de Cafés Especiais.
Para 2021, a tendência continua. O Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) aponta exportação de 104 mil sacas de grãos especiais da espécie arábica, a mais cultivada, até junho —21% a mais.
“Há dez anos, não existia cafeteria que servisse café especial no interior. Mesmo nas capitais eram poucas. Aí teve um boom. Começamos a produzir quando percebemos a tendência”, diz Bruna, 38.
Dos 150 hectares do sítio em Jeriquara, a 360 km de São Paulo, 10% são destinados ao café especial, com notas de caramelo e chocolate meio amargo, que já chegou a ser vendido por R$ 3.000 a saca, ante R$ 500 do tradicional.
O grão é avaliado a partir de um protocolo mundialmente reconhecido que analisa dez aspectos do café, do sabor à fragrância. São considerados especiais os que obtêm entre 80 e 100 pontos.
Participar de concursos também aumenta o valor, como observou Luiz Alberto Rodrigues, de Jacarezinho, a 385 km de Curitiba. Vencedor de um prêmio na Austrália em 2019, ele viu a saca de seu café “Honeymoon”, com notas de caramelo e frutas vermelhas, ser vendida por até R$ 20 mil.
O grão com nota acima de 90 é para poucos: só 15 sacas por safra, 0,5% da produção total. O restante, avaliado entre 84 e 87 pontos, é vendido pelo dobro do preço do tradicional. O valor compensa, diz Rodrigues. Por isso, 90% dos 110 hectares são dedicados aos grãos especiais.
“Tem uma onda de muita prosperidade entre as cafeterias que vendem este café ao público. Antes era difícil justificar o preço, porque o consumidor não conseguia diferenciar um café do outro, mas hoje tem quem pague."
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