Um quarto dos empresários de micro e pequenas indústrias vê algum risco de golpe, mostra pesquisa

Pesquisa Datafolha a pedido do Simpi aponta que setor apoia democracia, mas parcela acha que ditadura pode ser melhor que democracia

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Belo Horizonte

Um em cada quatro dirigentes de micro e pequenas indústrias do estado de São Paulo vê alguma chance de que uma nova ditadura seja instaurada no Brasil.

Os dados constam de uma pesquisa encomendada pelo Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria no Estado de São Paulo) ao Datafolha, que apurou como o setor avalia os riscos institucionais do país e se os empresários preferem um regime democrático ou uma ditadura.

Os resultados surpreenderam a entidade. Ainda que a maioria dos entrevistados não veja riscos de golpe no Brasil, a proporção veio abaixo do esperado.

Segundo a pesquisa, 63% dos empresários de micro e pequenas indústrias de São Paulo dizem não haver chances de uma nova ditadura neste momento, mas 27% avaliam que essa possibilidade existe. Para 19%, as chances existem, mas são baixas, enquanto 8% veem muita chance de que um novo governo ditatorial seja instaurado no Brasil. Outros 10% não sabem ou não responderam.

Para Joseph Couri, presidente do Simpi, os dados são preocupantes e refletem a ameaça autoritária que ronda o país.

"Toda essa instabilidade política que está sendo colocada, todas as ameaças de intervenção, atrapalham os negócios. Você chega ao ponto de ter 27% das empresas [vendo chances de uma nova ditadura]. É muito ruim e, sem dúvida, é fruto de tudo que está sendo veiculado sistemicamente contra a democracia”, afirma.

Os dados integram o Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, pesquisa feita mensalmente desde 2013 e que, pela primeira vez, incluiu perguntas sobre democracia e ditadura.

Segundo o sindicato, existem hoje 292 mil micro e pequenas indústrias em São Paulo, o que representa 42% do total brasileiro. Para a pesquisa, foram ouvidos 304 empresários entre os dias 18 e 26 de agosto, por telefone.

Além da expectativa sobre golpe, a pesquisa apurou como está o apoio desses empresários em relação à democracia do país.

A maioria (76%) diz que o modelo é sempre a melhor forma de governo, enquanto 8% consideram que uma ditadura é melhor em algumas circunstâncias. Para 9% dos entrevistados, tanto faz qual o tipo de governo em vigor.

Considerando apenas as pequenas indústrias, a percepção de que uma ditadura pode ser melhor do que a democracia é ainda maior: 15% —sete pontos percentuais acima da amostra total.

Os dados são semelhantes ao que pensa o restante da população do país. Conforme o Datafolha apurou em 2020, 75% dos brasileiros dizem que o regime democrático é a melhor forma de governo existente, enquanto 10% acham um regime ditatorial aceitável.

Sobre o risco de golpe, o recorte nacional indicou um cenário mais dividido. Em 2020, 46% via alguma chance de o país se tornar novamente uma ditadura —desses, 21% avaliavam que havia muita chance e 25% um pouco de chance. Para 49% da população não havia nenhuma chance.

De acordo com Couri, a quantidade de apoiadores da ditadura no setor surpreendeu, mesmo sendo minoria.

"É um número elevado, mas nosso papel é respeitar e divulgar a realidade das micro e pequenas indústrias. Então, quando 15% diz que, em certas circunstâncias, uma ditadura é melhor do que um regime democrático, nós temos que respeitar a opinião deles e divulgar", afirma.

Outro ponto apurado pelo Datafolha foi a relação entre o regime de governo e a prosperidade dos negócios. Segundo a pesquisa, 78% dos empresários do setor dizem acreditar que a democracia é melhor para que as empresas consigam prosperar.

A minoria (4%) avalia que uma ditadura pode ser melhor, enquanto, para 13% dos entrevistados, tanto faz o tipo de governo quando o assunto é o sucesso dos negócios.

Segundo Joseph Couri, o posicionamento oficial do Simpi é de apoio incondicional à democracia. "Ela pode ter seus defeitos, mas é a melhor forma de governo que nós conhecemos até hoje, e é a única que dá maiores chances de prosperidade."

Na avaliação do presidente, os defensores da ditadura devem achar que um regime autoritário será melhor para o negócio deles. "A democracia possibilita que, de uma forma republicana, todos possam se beneficiar. A ditadura não, só os amigos da corte se beneficiam", diz.

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