China ainda é emergente mais atraente, diz gestora do JP Morgan

América Latina perde atratividade no atual cenário de incerteza política, eleitoral e econômica

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São Paulo

Nos últimos dias, o risco de quebra da gigante do setor imobiliário chinês Evergrande e os seus possíveis impactos para o mercado financeiro global assustaram os investidores.

Embora seja necessário ter atenção redobrada com o ciclo regulatório na China, na avaliação do JP Morgan Asset, gestora do banco americano com cerca de US$ 2,5 trilhões (R$ 13,26 trilhões) em ativos sob gestão globalmente, em uma perspectiva de médio e longo prazo, o gigante asiático continua sendo, com folga, o mercado emergente mais atraente frente aos pares.

Segundo Gabriela Santos, estrategista global do JP Morgan Asset, ainda que seja preciso um pouco mais de paciência para se ter uma segurança maior sobre a nova postura intervencionista do governo chinês, as quedas recentes já começam a gerar algumas boas oportunidades em ações da região, em setores como tecnologia e consumo.

“Quando temos volatilidade, se criam oportunidades, e achamos que muitas oportunidades já têm sido criadas na China”, afirma Gabriela, que fica baseada em Nova York.

Na avaliação da estrategista do JP Morgan Asset, embora a volatilidade relacionada ao mercado chinês ainda seja esperada por algum tempo, em um horizonte mais extenso, a tendência é que a participação das ações de empresas do país asiático só venha a crescer no portfólio dos investidores.

“O peso da China nas carteiras deveria ser maior do que é no índice, que não está captando bem o tamanho dos mercados chineses, que já são o segundo maior do mundo”, afirma Gabriela. Ela diz que a fatia destinada à região nos índices de ações globais que acompanham os mercados emergentes oscila hoje próxima de 40%.

Sede do conglomerado Evergrande em Xangai - Hector Retamal - 22.set.2021/AFP

A estrategista explica que as mudanças regulatórias em curso na China e o risco de falência da Evergrande são peças de um quebra-cabeça mais amplo, que diz respeito ao novo foco do governo para sua próxima fase de desenvolvimento de modelo econômico, que deve priorizar a qualidade em relação a quantidade de crescimento.

Dentro dessa agenda do Estado chinês, Gabriela destaca a redução da dependência do setor imobiliário como motor para o crescimento, bem como a melhoria no acesso de famílias a moradias, de modo a promover a “prosperidade comum”, termo que tem sido bastante utilizado no país asiático.

“Nosso cenário base é que o caso da Evergrande não representa um risco sistêmico para a China e para o mercado global, já que a exposição dos bancos chineses à empresa é administrável, correspondente a apenas 0,2% do total de empréstimos”, diz a especialista. Ela acrescenta que os eventos recentes na China não mudam a visão no JP Morgan Asset de que os benefícios de se investir no mercado chinês superam os riscos.

Incerteza política na América Latina

Baseado na Filadélfia, nos Estados Unidos, Michael Arno, gestor da Brandywine Global, empresa de investimentos com cerca de US$ 70 bilhões (R$ 371,26 bilhões) em ativos sob gestão, diz que a desvalorização no preço do minério de ferro e do aço no mercado global, em meio à atuação regulatória do Estado chinês no setor imobiliário, o levou a sacar da carteira títulos de crédito emitidos por companhias brasileiras como Vale e CSN.

“Estamos atentos para tentar entender quão agressivo o governo chinês será em sua atuação no setor imobiliário, que é o que vai determinar a volatilidade no preço do minério de ferro”, afirma o gestor da Brandywine.

Será preciso acompanhar qual será o tratamento dispensado às empresas privadas do país, em comparação com as medidas de salvamento adotadas quando companhias estatais passaram por dificuldades, diz Arno.

Ele acrescenta que, a depender da evolução do episódio envolvendo a Evergrande, e do risco de contágio para a economia chinesa, a expectativa é a de que o governo lance mão de medidas de afrouxamento monetário e fiscal.

O gestor da Brandywine diz que tem se voltado neste momento para nomes de frigoríficos e do setor agrícola no mercado brasileiro, mas monitorando de perto os riscos de aumento de custos que a crise hídrica pode trazer para esses negócios. Entre os investimentos em carteira, ele cita papéis de empresas como Minerva, JBS e Amaggi.

A expectativa é que a demanda do mercado chinês por esse tipo de commodity siga aquecida, em meio ao aumento esperado para o consumo das famílias nas próximas décadas. Arno cita ainda entre as apostas no Brasil nomes do setor financeiro como XP, que devem se beneficiar de um ambiente de juros mais altos.

Em relação aos países da América Latina, Gabriela, do JP Morgan Asset, diz que esses são mercados que oferecem uma oportunidade de viés mais tático de curto prazo, pelo caráter cíclico das economias com o processo de imunização avançando, mas não muito mais do que isso.

A falta de crescimento nos últimos anos é apontada pela estrategista como a maior razão para a perda de espaço da região no radar do mercado global.

“Se a gente olha a última década, a América Latina cresceu o mesmo que o Japão”, diz Gabriela. Ela nota que os mercados emergentes precisariam oferecer um retorno superior, frente ao maior risco em comparação com os desenvolvidos, para atrair o interesse do estrangeiro.

Segundo a estrategista do JP Morgan Asset, com o fim da pandemia se aproximando, uma recuperação de curto prazo mais pronunciada nas economias da região é esperada. Estruturalmente, contudo, são países que ainda têm perspectivas de um crescimento potencial muito baixo, diz Gabriela.

A expectativa da gestora é que o viés tático para a América Latina se mantenha ainda por mais algum tempo, à medida que a incerteza política tem aumentado e deve seguir alta, sem um movimento em direção a uma agenda de reformas em nenhum país da região.

“O que vemos na América Latina são as incertezas políticas que existem em cada país, é algo que está sempre no foco dos investidores, e por isso que a região acaba sendo uma posição mais tática, e não estrutural”, afirma Gabriela.

Arno, da Brandywine, assinala que a América Latina já tem passado e ainda irá atravessar um grande ciclo eleitoral em países importantes da região, como Peru, Chile, Colômbia, Argentina e Brasil.

“Vemos um aumento do populismo nos países da região, o que não chega a ser uma surpresa, considerando os estragos provocados pela pandemia na sociedade”, diz Arno.

Segundo o gestor da Brandywine, empresa que faz parte do conglomerado financeiro Franklin Templeton, que administra cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 7,95 trilhões), é notório para os investidores globais como a política ganhou relevância dentro das discussões que tratam de Brasil nos últimos seis a sete anos, e, até por conta disso, não causa maior espanto o atual quadro político no país.

“A política [no Brasil] infelizmente ocupa um grande espaço na mesa quando estamos decidindo onde investir ou não”, afirma Arno. Entre os emergentes, ele diz ver as melhores oportunidades em países da Europa, como Polônia, Hungria e República Tcheca, que devem se beneficiar da recuperação da atividade manufatureira de países desenvolvidos do velho continente como a Alemanha.

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