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Incerteza com transição energética e pandemia destinavam leilão ao esvaziamento

Investidores e mercado de óleo e gás não são mais os mesmos, sobretudo no que se refere à agenda verde

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Ilan Arbetman

Analista da Ativa Investimentos​

Deu a lógica no leilão da ANP (Agência Nacional de Petróleo). Fora a Bacia de Santos, que já vem sendo estudada há mais de uma década pela Shell, a segunda maior produtora do país, as demais áreas apresentavam relações "risco x retorno" que, num cenário onde os principais players ainda convivem com os desdobramentos da pandemia e as incertezas que o processo de transição da matriz energética traz, destinavam o pleito a um esvaziamento natural, o que acabou se confirmando.

Contribuiu para o resultado o fato de algumas bacias, como Potiguar e Pelotas, serem ambientalmente sensíveis e, assim, apresentarem um duvidoso potencial exploratório. Num mundo onde a agenda ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) vem ganhando importância e a negligência ambiental é alvo de repulsa por parte de grandes empresas e investidores, é natural que as petrolíferas globais evitem se comprometer com investimentos em projetos onde a obtenção das licenças ambientais necessárias se deem a posteriori.

Precisamos ainda resgatar um histórico recente e lembrar que mesmo desembolsando os valores referentes ao bônus de concessão e adquirindo os direitos de exploração na Foz do Amazonas, grandes players como Total e BP não conseguiram desenvolver seus projetos por conta da falta de licenciamento ambiental, o que poderia vir a se repetir neste leilão, uma vez que a tentativa de obtenção das licenças ambientais igualmente aconteceria apenas após a assinatura dos contratos de concessão.

Faz-se necessário ainda lembrar que a citada rodada de licenciamento ocorreu em 2013 e que as empresas, os investidores e o mercado de óleo e gás não são mais os mesmos, sobretudo no que se refere à agenda verde.

O esvaziamento da rodada atual dialoga também com o estágio atual do processo de transição da matriz energética global. Diante do ganho de relevância da agenda verde e do aumento da destinação de maiores fatias de capex à projetos alternativos, é natural que o "breakeven" (ponto de equilíbrio entre receitas e custos ) para aceitação de processos envolvendo a exploração e produção de combustíveis fósseis seja menor daqui para frente.

Tal fato não invalida a necessidade da realização dos leilões, até porque acredito que, durante a transição, a demanda por derivados de petróleo continuará em alta e até mesmo após a consolidação do processo continuarão tendo o seu espaço. Neste sentido, acredito também que as companhias tenham se segurado uma vez que as áreas de pós-sal leiloadas hoje são naturalmente mais arriscadas e menos rentáveis que as de pré-sal.

Ambientalista vestido de dinossauro protesta em frente ao hotel onde leilão foi realizado - Mauro Pimentel - 7.out.2021/AFP

Com foco amplamente no pré-sal e em campos de águas profundas e ultra-profundas, a Petrobras não compareceu neste leilão, se resguardando para a segunda rodada do excedente da cessão onerosa que ocorrerá em dezembro, onde acredito que a petrolífera deverá exercer sua preferência nos blocos de Atapú e Sépia. Em um cenário onde a companhia defende sua posição de minimizar investimentos em energia alternativa para focar nas atividades em que possua vantagens comparativas, sua presença no leilão de dezembro dialoga integralmente com a forma que a Petrobras pretende continuar gerando caixa, reduzindo sua dívida e proporcionando dividendos a seus acionistas.

A ANP aponta que os blocos da cadeia de montanhas submersas de Fernando de Noronha, bem como os demais não arrematados nesta quinta (7), poderão voltar a ser leiloados futuramente em rodada de oferta permanente, em que as futuras participantes apontarão onde desejarão as bacias que possuem interesse.

Ainda que o leilão de desta quinta (7) tenha uma série de motivos para justificar seu esvaziamento, como o maior risco exploratório das bacias leiloadas, acredito que maior diligência ambiental aumentaria sensivelmente o interesse dos players globais pelas bacias ofertadas. Diante do não preenchimento desta lacuna, o resultado do leilão não poderia ser diferente e a existência de ofertas concretas por parte de Shell e Ecopetrol pode até ser considerada positiva, uma vez que nos lembra do potencial que possuímos bem como dos campos onde é preciso evoluir para se aumentar a atratividade dos próximos certames.

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