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Pico da inflação deve aparecer nos números de setembro, diz presidente do Banco Central

Em evento, Campos Neto não comentou revelação de que ele e o ministro Paulo Guedes mantêm offshores

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São Paulo

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta segunda-feira (4) que a inflação deve atingir seu pico em setembro, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor - Amplo).

Ao participar de reunião da ASCP (Associação Comercial de São Paulo), em São Paulo e transmitida on-line, Campos Neto não mencionou a revelação feita nesta fim de semana, de que ele e o ministro da Economia, Paulo Guedes, mantêm offshores em paraísos fiscais.

Offshore é um termo em inglês que define uma empresa aberta em outros países, normalmente onde as regras tributárias são menos rígidas e não é necessário declarar o dono, bem como a origem e o destino do dinheiro.

No caso do presidente do BC e do ministro, a situação pode caracterizar conflito de interesses, na avalição de especialistas, e já levanta questionamentos entre parlamentares.

A existência desses investimentos foi revelada por veículos, como a revista Piauí e o jornal El País, que participam do projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, o ICIJ. Os documentos fazem parte da investigação conhecida como Pandora Papers.

Mais cedo, a Folha tentou, sem sucesso, ter acesso ao evento para questionar o presidente da instituição sobre as revelações.

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, em frente a um quadro na sede do BC
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto - Pedro Ladeira - 1.out.20/Folhapress

Durante sua apresentação, Campos Neto relembrou que o IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, bateu em 1,14% em setembro. A taxa é a maior para o mês desde o início do Plano Real, em 1994, quando ficou em 1,63%.

Em 12 meses, o indicador ultrapassou os dois dígitos, chegando a 10,05%. Setembro foi o primeiro mês de vigência da bandeira de escassez hídrica, que será cobrada até abril.

"Setembro deve ser o pico da inflação em 12 meses. A gente entende que existe um elemento de persistência maior e por isso estamos sendo mais incisivos nos juros", disse o presidente do BC.

Durante o evento da ACSP desta segunda-feira, Campos Neto também avaliou que a inflação de serviços no país está "relativamente bem comportada", e que tem subido porque a economia está reabrindo em meio ao arrefecimento da pandemia de Covid-19.

"A gente tem observado o repasse represado nos serviços. Em 2020, houve uma onda de inflação que atingiu os alimentos, e um segundo choque de monitorados, em 2021."

Ele frisou que o BC segue olhando o número de serviços de perto.

Campos Neto disse que a economia está "quase toda reaberta", pontuando que os índices analisados pelo BC mostram grau de reabertura "bastante grande".

Ele também afirmou que a depreciação do real neste ano está na média e até "um pouquinho melhor" na comparação com outros países.

Segundo Campos Neto, o segundo choque na inflação, em 2021, foi basicamente por preços monitorados.

O presidente do BC comentou, ainda, que parte do combate à inflação envolve a questão fiscal, já que quando a curva longa de juros cai, o mesmo movimento de política monetária gera mais efeito na economia.

"Fiscal é muito importante para poder aumentar a transmissão da política monetária."

Ele fez referências ao impacto da energia elétrica para a inflação, pontuando ter preocupação com movimento de preços administrados.

Foi por essa razão que o BC decidiu ser conservador e colocar bandeira vermelha 2 em suas projeções para o IPCA, disse. Por outro lado, ele ponderou que o movimento de chuvas está vindo mais forte.

Ele também disse que uma redução na cobrança de impostos em eventual reforma tributária teria forte impacto negativo sobre bancos, que sofreriam "prejuízo danado" pela revisão que teriam que fazer no cálculo de créditos tributários.

"Se a gente pega a base de capital do sistema bancário brasileiro, ela é muito concentrada em crédito tributário. De tal sorte que, na verdade, quando você cai o imposto, os bancos têm um prejuízo danado porque eles têm que reprecificar o crédito tributário para baixo, é supercurioso", afirmou.

"Se você hoje der uma queda muito grande nos impostos, o resultado no balanço dos bancos vai ser péssimo. Porque o crédito tributário vai ser reavalido pra baixo e isso é um pedaço muito grande da base de capital dos bancos", completou.

Dentro desse contexto, Campos Neto frisou que o BC tem defendido muito a inserção do projeto IFRS 9 para eliminação desta distorção referente à criação de crédito tributário.

A norma internacional IFRS 9 estabelece novos requerimentos de reconhecimento e mensuração dos instrumentos financeiros.

"Não tem nenhum outro país do mundo onde os bancos têm uma base de capital tão concentrada em crédito tributário", afirmou.

Ele disse ainda que o Banco Central está monitorando eventual fluxo de pagamento antecipado de dividendos como um movimento à reforma do Imposto de Renda.

O texto, já aprovado na Câmara dos Deputados mas ainda não apreciado no Senado, institui uma alíquota de 15% sobre dividendos. Ele também prevê que o encargo total sobre o Imposto de Renda das empresas caia de 34% para 26%.

A proposta institui ainda o fim do instrumento de juros sobre capital próprio (JCP) como forma de remuneração aos acionistas. Hoje, o valor distribuído como JCP é dedutível pelas empresas para fins tributários.

Segundo Campos Neto, o uso de JCP é atualmente muito concentrado em bancos —com 73% do total— e outras "quatro ou cinco empresas".

Com Reuters

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