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Folha ESG mudança climática

Sustentabilidade agora eleva lucro e valor de mercado das empresas

Evoluções no modelo de produção deixaram de ser retórica e já pautam negócios, consumidores e investidores

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Filipe Sabará

Empresário, filantropo e palestrante, é fundador da ARCAH, entidade que desenvolve unidades da Horta Social Urbana em espaços ociosos da capital paulista

As mudanças climáticas e o aquecimento global, com efeitos potencialmente destrutivos para a humanidade, têm demandado de governos e empresas a adoção de medidas robustas de mitigação de impactos ambientais na produção econômica. Nesse cenário, iniciativas em torno da chamada economia circular desenvolvem soluções tecnológicas e campanhas educativas que ajudam a "limpar" a cadeia produtiva e a melhorar a gestão de resíduos em diversos setores.

No Brasil, a aderência à economia circular tem sido puxada também pela indústria. Uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Industria), de 2019, mostra que 76,4% das indústrias do país adotam algum tipo de processo ligado à economia circular para aumentar a vida útil de produtos e materiais. Reuso de água, reciclagem de materiais e logística reversa são as principais situações encontradas no leque de ações da indústria brasileira. Entre os motivos que levam empresas a adotar boas práticas segundo a pesquisa da CNI, primeiramente, vem a redução de custos; seguido pela eficiência operacional e, depois, a oportunidade de novos negócios.

Levantamento sobre o perfil dos consumidores brasileiros, também da CNI, mostra que 38% dos entrevistados sempre verificam ou verificam às vezes se os produtos foram produzidos de forma ambientalmente correta. A pesquisa revela ainda que os brasileiros também têm mais consciência sobre o destino do lixo. O número de pessoas que separa o lixo para a reciclagem cresceu de 47%, em 2013, para 55% no ano passado.

Mulheres com máscara PFF2 separam lixo reciclável em esteira
Cooperativa de coleta seletiva, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Mudar modelos de negócio leva tempo e, por vezes, algum custo adicional para quem produz e para quem compra. Mas, e se em um cenário de dificuldades financeiras trazidas por 2020 e com eco em 2021, fosse possível abraçar uma alternativa mais sustentável e com lucratividade?

Esse é um dos ganhos possíveis com a adoção de um modelo de economia circular, aliando melhorias ao ecossistema de extração e uso de matérias primas até o reaproveitamento de resíduos como um produto rentável. E o Brasil já tem iniciativas que podem ajudar o país a fazer parte de um mercado que, apenas na Europa, pode gerar mais de U$ 1,8 trilhão em ganhos de valor até o ano de 2030.

Os princípios básicos desse modelo são: eliminar resíduos e poluição desde o princípio; manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais. Além disso, é necessário pensar de uma maneira sistêmica as diferentes relações entre o sistema de produção e de consumo. As bases para a expansão do conceito no Brasil demandam um sistema eficiente de logística reversa, que permita a reciclagem e remanufatura, mas que é de complexa implantação em países como o Brasil, de grande extensão e diferentes níveis de desenvolvimento e renda entre as regiões.

Para superar esse entrave, a criação de pequenas células de produção e consumo circulares em algumas regiões são um bom caminho. Com uma escala menor, torna-se mais viável enxergar possibilidades e modificar processos produtivos, incluindo resíduos como recurso de produção que retorna à cadeia produtiva, gera empregos e permite uma exploração menos danosa ao meio ambiente.

Por exemplo, uma indústria de calçados que reduz o desperdício de couro não está somente reduzindo o impacto ambiental, mas também seus custos de matéria-prima. Para isso, podem ser feitas alterações nos processos de produção com melhoria nos padrões de corte ou no design, com a criação de calçados que utilizem menos couro ou o empreguem de forma mais eficiente.

É certo afirmar que os investidores brasileiros e do exterior estão preocupados em injetar capital, não somente em empresas lucrativas, mas que tenham uma prática ambiental, social e de governança com foco na minimização de impactos ambientais. Esse movimento é conhecido como Agenda ESG, a sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que significa "Ambiental, Social e Governança", em tradução livre.

Ele está em ascensão e estudos recentes vêm mostrando que as empresas que adotam as melhores práticas socioambientais apresentam maior lucratividade e um aumento significativo em seu valor de mercado ao longo do tempo.

Empresas comprometidas com essa pauta têm ganhos não apenas com a melhoria de sua imagem, mas também com a redução da percepção de risco sobre suas atividades. Com o tempo, essas empresas se reposicionam perante o mercado, investidores, clientes e autoridades, incorporando à sua marca a cultura de sustentabilidade.

Válido lembrar que no início deste ano, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) assinou um acordo de cooperação com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com o objetivo de criar um sistema de validação e aumento da emissão de títulos verdes no País.

A ideia é estabelecer um marco normativo para validar projetos capazes de captar recursos e estimular o crescimento desse tipo de financiamento no Brasil, assim como incentivar que a oferta do mercado internacional de crédito de carbono encontre a demanda no mercado nacional.

A frase "Sustentabilidade não é moda, é uma necessidade" que inspirou os entusiastas do tema nos Anos 2000 ganha um novo contorno: é uma necessidade e também é lucrativa!

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