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Trabalho híbrido reúne o pior dos mundos: videochamadas no escritório

Poucos funcionários acham que volta do home office é suave, mostra pesquisa nos EUA

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Emma Goldberg
Nova York | The New York Times

Durante meses a pista de minigolfe ficou abandonada. As poltronas "sacos" estavam vazias. O quadro-branco da cozinha, acima de onde costumava ficar o barril, exibia em tinta desbotada "chopes", de uma happy hour de março de 2020.

Mas num dia de semana recente havia um sinal de vida na área comum: begals frescos.

Conforme os funcionários da startup de tecnologia financeira CommonBond eram vacinados contra Covid e enlouqueciam em seus apartamentos, eles começaram a voltar para o escritório.

"Chamamos isso de Quarta-feira do Trabalho no Trabalho", disse Keryn Koch, diretora de recursos humanos da empresa, que tem 1.400 metros quadrados de espaço iluminado pelo sol no bairro do SoHo, no sul da cidade de Nova York.

Funcionários em reunião
Reunião de funcionários durante a Quarta-feira do Trabalho no Trabalho no escritório da CommonBond - Jeenah Moon - 10.nov.2021/NYT

A certa altura, o outono foi anunciado em toda a América corporativa como a Grande Reabertura dos Escritórios. Mas surgiu a variante delta e os planos de retorno obrigatório ao escritório tornaram-se opcionais. Ainda assim, muitas pessoas optaram por se reportar a suas mesas: a porcentagem de pessoas empregadas que trabalharam remotamente em algum momento durante o mês por causa da Covid, que atingiu o pico em maio de 2020, com 35%, caiu em outubro para 11%, o ponto mais baixo desde o início da pandemia, de acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho.

Um olhar mais atento para a força de trabalho em Nova York, a partir de uma pesquisa de novembro com 188 grandes empregadores, mostrou que 8% dos funcionários de escritórios de Manhattan voltaram aos locais de trabalho em tempo integral, 54% estão totalmente remotos e todos os outros —quase 40%— são híbridos.

Poucos estão achando que é um período de transição suave. Algumas empresas usaram suas datas provisórias de volta ao escritório como uma desculpa involuntária para evitar perguntas sobre como equilibrar as necessidades dos funcionários remotos e presenciais, segundo Edward Sullivan, que é coach de executivos. Isso resultou em um meio termo piegas: videochamadas em que os trabalhadores remotos têm problemas para escutar, uma sensação de que as pessoas em casa estão perdendo vantagens (colegas de trabalho) e as do escritório também (pijamas). E o que está em jogo não é apenas quem está sendo falado nas reuniões. É se a flexibilidade é sustentável, mesmo com todos os benefícios que ela oferece.

"Muitas empresas vão errar", disse Chris Herd, empresário e especialista em trabalho híbrido.

Recentemente, Brett Hautop, chefe de local de trabalho do LinkedIn, sentou-se em uma sala de conferências ouvindo um argumento de venda de um fornecedor global. A empresa queria vender seus serviços para o LinkedIn para ajudar a promover o trabalho híbrido eficaz. Mas as pessoas que estavam fazendo a proposta viraram as costas para a câmera de vídeo, de modo que os funcionários do LinkedIn que estavam na videoconferência não podiam vê-los.

"Enquanto eles falam sobre como é difícil para as pessoas à distância acompanharem as conversas, eles cobrem a câmera", disse Hautop. "As pessoas da minha equipe me diziam: 'Não acredito que eles estão fazendo isso'. E eu me desculpava, dizendo: 'Pessoal, sinto muito que isso esteja acontecendo; aparentemente, eles não percebem'".

No verão passado, o LinkedIn disse a seus 16 mil funcionários em todo o mundo que seu plano de retorno ao escritório, anunciado em outubro de 2020, havia sido descartado e que cada departamento decidiria onde seu pessoal deveria trabalhar, tornando-se uma das mais de 60 grandes empresas que prometeram alguma forma permanente de flexibilidade.

Hautop e sua equipe avaliaram as dificuldades geradas por essa abordagem. Eles atualizaram o equipamento audiovisual em salas de conferência e consideraram a distribuição de anéis de iluminação para os funcionários em suas mesas, para que seus rostos não ficassem mal iluminados nas ligações. Eles planejaram sessões online para que os funcionários pudessem lembrar do que eles gostavam no escritório.

"Híbrido é definitivamente mais difícil do que completamente presencial ou completamente remoto", disse Hautop. "É preciso muito mais planejamento, e nenhum de nós, ou qualquer outra pessoa em qualquer empresa, descobriu exatamente como vai funcionar."

Se o trabalho híbrido é um desafio até mesmo para o pessoal do LinkedIn —os gurus da conectividade, os maestros das redes profissionais—, qual é a esperança para todos os outros?

A Asana, que fabrica software de colaboração, recentemente reuniu seus executivos para planejar a reabertura oficial do escritório. Metade dos participantes estava na sede de San Francisco e a outra metade participava por videoconferência. Os trabalhadores remotos, incluindo o CEO da empresa, começaram a perder a paciência quando as pessoas na sala conversavam entre si e faziam comentários laterais.

"Estávamos brincando que, se não gostássemos do que alguém estava dizendo na tela, poderíamos simplesmente silenciá-lo", disse Anna Binder, chefe de pessoal da empresa.

"Passamos por uma experiência tão terrível que decidimos no final daquela reunião que todas as reuniões executivas daqui para frente serão presenciais", disse ela. "Ou serão totalmente remotas. Não vamos fazer o meio termo."

Binder se preocupa com quais companheiros de equipe têm maior probabilidade de sofrer as dores de cabeça do sistema híbrido. Muitos executivos disseram que os funcionários com responsabilidades de cuidadores têm maior propensão a trabalhar remotamente quando têm essa opção. Uma pesquisa da plataforma de empregos FlexJobs descobriu que 68% das mulheres preferem que seus empregos permaneçam remotos por mais tempo, em comparação com 57% dos homens. Outro estudo, da Qualtrics e theBoardlist, concluiu que 34% dos homens com filhos tinham recebido promoções enquanto trabalhavam remotamente, em comparação com apenas 9% das mulheres com filhos.

"Se você der às pessoas liberdade para escolher o que fazer e onde trabalhar", disse Binder, "as mulheres são mais propensas a aproveitar a flexibilidade de trabalhar em casa. O que significa que elas, por sua vez, estarão menos na sala onde isso acontece."

Não é difícil imaginar todas as maneiras como os trabalhadores remotos podem ser prejudicados: silenciados em uma discussão acalorada, excluídos do convívio social na hora do almoço. Mas Nicholas Bloom, um professor de Stanford que pesquisou centenas de empresas híbridas, disse que em muitos locais de trabalho os funcionários presenciais se sentiam igualmente desprezados.

"É a regra do americano na Europa", disse Bloom. "Quando um americano viaja para o exterior, você olha ao redor da sala e todos estão falando inglês para ajudá-lo. Se houver uma pessoa trabalhando em casa, todos no escritório se conectam à reunião."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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