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Inflação quebra recordes enquanto cenário de petróleo a US$ 100 se aproxima

Encarecimento elevaria as expectativas de preços aos consumidores e intensificaria as pressões de aumento salarial

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Dhara Ranasinghe
Londres | Reuters

Já menos transitória do que o previsto, a dor de cabeça inflacionária das autoridades de bancos centrais pode estar prestes a se tornar mais aguda à medida que enfrentam a perspectiva de um petróleo de mais de US$ 100 (R$ 549,72) o barril, o que elevaria as expectativas de preços dos consumidores e intensificaria as pressões de aumento salarial.

Os contratos futuros do petróleo brent, que dispararam 50% em 2021, têm alta de mais 14% já em 2022, nas máximas em sete anos em torno de US$ 89 (R$ 489) por barril.

Com a capacidade de produção apertada, estoques baixos e questões geopolíticas que afetam várias regiões produtoras, o petróleo está mirando US$ 100 o barril, nível que será ultrapassado em meados do ano, segundo previsões do Goldman Sachs.

Bombas de sucção são vistas ao nascer do sol em Bakersfield, Califórnia - Lucy Nicholson - 14.out.2014/Reuters

O JPMorgan projeta que a commodity pode chegar a US$ 125 (R$ 687) o barril neste ano e US$ 150 (R$ 825) em 2023.

É possível que o impacto líquido de um aumento de preço de US$ 12 (R$ 66) a partir daqui não seja enorme, uma vez que as taxas de inflação já refletem os saltos nos preços da energia contra um ano atrás. As economias, especialmente no Ocidente, são bem menos intensivas no uso desse tipo de energia do que eram mesmo uma década atrás.

Aumentos de juros em países como Reino Unido e Noruega e pistas de bancos centrais como o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), que pode sinalizar na próxima semana a rapidez com que planeja apertar a política monetária, impediram as expectativas de inflação de acompanhar a alta dos preços do petróleo.

Mas os formuladores de política monetária contavam que os efeitos de base começariam a dar as caras, conforme o aumento do petróleo em 2021 arrefeceu —e, assim, a inflação anual poderia moderar.

Muitos também argumentam que o impacto psicológico do petróleo de US$ 100 não pode ser subestimado, especialmente porque consumidores, empresas e a classe política se preocupam com a inflação em máximas em várias décadas ou recordes. A última leitura anual de preços ao consumidor dos EUA bateu 7%, um pico em 40 anos.

Dados nesta quarta-feira de que a inflação ao consumidor britânico bateu máximas em 30 anos destacam como o efeito do aumento dos custos de energia tem se espalhado pelos preços dos alimentos e do setor de hospitalidade.

"Pode ser a cereja do bolo da inflação se não conseguirmos uma moderação nos preços da energia", disse Frederik Ducrozet, estrategista da Pictet Wealth Management.

"Desta vez é um pouco diferente, porque já estamos em um ponto em que os riscos estão voltados para cima e bancos centrais estão preocupados com uma espiral de preços salariais, já que os preços da energia contribuem para efeitos de segunda ordem."

Os índices de surpresa inflacionária do Citi Bank atingiram máximas recordes ou em vários anos na Europa e em outros lugares, indicação de que as leituras de preços têm vindo acima do esperado.

O PETRÓLEO IMPORTA

Se o petróleo atingir US$ 100 e aí permanecer, vai atrapalhará os cálculos dos formuladores de política monetária —as projeções do BCE (Banco Central Europeu), por exemplo, assumem o Brent em US$ 77,5 (R$ 426) em 2022, com queda para US$ 69,4 (R$ 381,5) até 2024.

Fundamentalmente, também poderia induzir empresas a repassar custos a consumidores ou trabalhadores a exigir salários mais altos. Esses chamados efeitos de segunda ordem podem causar uma espiral inflacionária mais ampla que pressiona os bancos centrais a agir.

Os efeitos diferem de país para país, mas, na zona do euro, uma alta de 10% no petróleo acrescenta cerca de 0,5 ponto percentual à inflação, embora os efeitos diretos tendam a desaparecer rapidamente.

Para os Estados Unidos, um artigo publicado em novembro na rede de pesquisa CESifo por dois pesquisadores do Fed de Dallas estimou que um cenário do petróleo a US$ 100 aumentaria a leitura anual do índice PCE em 1,8 ponto percentual ao fim de 2021 e em 0,4 ponto ao término de 2022.

O núcleo do PCE, medida de inflação preferencial do Fed, aumentaria 0,4 ponto percentual e 0,3 ponto percentual em 2021 e 2022, respectivamente. Isso faria com que as expectativas de inflação das famílias para um ano subissem 1,2 ponto percentual, mas elevaria a inflação esperada para cinco anos em apenas 0,2 ponto percentual, mostrou o estudo.

Para alguns, os efeitos de segunda ordem já estão aqui, com a economia dos EUA perto do pleno emprego e salários médios por hora trabalhada em alta sólida de 0,6% em dezembro. O Reino Unido, onde a criação de empregos atingiu recordes, avalia aumentos do salário mínimo para aliviar a dor nas contas de combustível.

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