Mercado não pode ditar a pauta, diz Lula a economistas que farão seu programa

Prioridade é combater problemas que afligem população: fome, desemprego, perda do poder de compra, riscos à saúde; questão fiscal é pilar da estabilidade, diz ex-presidente

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Rio de Janeiro e São Paulo

Reunido com economistas que integram o núcleo de acompanhamento de políticas públicas da Fundação Perseu Abramo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (14), que o mercado financeiro não deve ditar o debate econômico no país.

Dirigindo-se a economistas que se dedicarão à elaboração de seu programa de governo, o ex-presidente disse que os interesses do mercado não podem se sobrepor aos problemas que afligem a população.

Lula aponta fome, desemprego, inflação, saúde e educação como pautas prioritárias e inclui a defasagem salarial como problema a ser enfrentado. Ainda segundo participantes, Lula afirmou que o PT já provou que tem responsabilidade fiscal.

O ex-presidente disse que, na sua administração, houve valorização do salário mínimo e política de inclusão social sem aumento de inflação e afirmou ter conhecimento de que a estabilidade é importante para deter a alta de preços ao consumidor. ​

Homem idoso com camisa branca de manga curta, em mesa; ao lado dele há mulher com máscara
Lula com economistas do núcleo de acompanhamento de políticas públicas da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo - @Lulaoficial no Instagram

Ele lembrou que, no início de seu governo, a dívida pública representava cerca de 60% do PIB (Produto Interno Bruto) e correspondia a 30% quando encerrou seu mandato.

O ex-presidente listou esses dados para argumentar que nenhum outro partido foi mais sério na gestão fiscal. Mas que, ainda assim, o partido é alvo de cobrança injusta e desproporcional.

Em uma crítica ao mercado e à imprensa, Lula disse que, frequentemente, o presidente Jair Bolsonaro (PL) quebra regras fiscais, sem que haja indignação.

O ex-presidente encorajou os economistas que transitam no seu campo ideológico a exporem publicamente suas opiniões. A orientação é disputar o debate público.

O núcleo de acompanhamento de políticas públicas é composto por 83 economistas, nem todos filiados ao PT. Eles se reúnem regularmente, a convite da Fundação Perseu Abramo. Parte do grupo estará escalada para a redação do programa de governo de Lula.

Como a candidatura dele ainda não está lançada, ficou acertado que, por enquanto, não será destacado um porta-voz de Lula em matéria econômica.

Anfitrião do encontro, o presidente da fundação, o ex-ministro Aloizio Mercadante, afirmou, em tom de brincadeira, que os petistas não precisam de um posto Ipiranga —termo usado por Bolsonaro para se referir ao ministro Paulo Guedes— porque já têm o pré-sal.

O grupo é unânime em sua contrariedade ao teto de gastos, que, para Mercadante, foi feito para tirar os pobres do orçamento público.

Eles negaram também a volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) no plano de reforma tributária proposto pelo grupo, mas destacaram que é indispensável haver um imposto progressivo sobre renda e riqueza.

Nesta sexta-feira, a reunião contou com 35 participantes. Ficou acertado que o grupo se reunirá com mais frequência. A avaliação dos economistas é que o cenário beira a recessão.

O ex-ministro afirmou que o grupo de economistas está em contato com representantes do governo espanhol, que passa por reforma trabalhista, elogiada na semana passada por Lula. A Espanha também é inspiração para o grupo no que diz respeito a direitos para trabalhadores de aplicativos. "O tema da reforma trabalhista não é só resgatar direitos perdidos, é elaborar respostas a um tema novo e desafiador como o dos trabalhadores de aplicativos", disse.

Serão enviados dois representantes do grupo de economistas para estudar a experiência espanhola.

O ex-ministro e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reclamaram da perda de financiamento sindical gerada pela reforma trabalhista, que teria que desorganizado essas entidades. Gleisi afirmou que o PT e o próprio Lula são contra o imposto de contribuição sindical, mas que ele não poderia ter sido retirado sem alternativas.

A presidente do partido criticou também os preços dos combustíveis no país. "Não é possível o Brasil ter uma empresa como a Petrobras e o povo pagar uma das gasolinas mais caras do mundo, está errada a política de preço da Petrobras, do óleo e do gás, não pode continuar assim", disse.

Para Mercadante, uma volta de Lula à presidência vai recompor as instituições e trazer crescimento e previsibilidade da política econômica, o que irá atrair mais investimento estrangeiro.

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