Airbus pede indenização de US$ 220 milhões em disputa por jatos com a Qatar Airways

Reivindicação ocorre após a companhia aérea processar a Airbus por problemas em 20 aviões A350

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Tim Hepher Alexander Cornwell
Paris e Dubai | Reuters

A Airbus reagiu nesta segunda-feira (28) a uma disputa cada vez mais intensa com a Qatar Airways sobre os jatos A350, pedindo na Justiça britânica uma indenização de US$ 220 milhões (R$ 1,13 bilhão) por dois aviões que não foram entregues.

A reivindicação ocorre após a companhia aérea processar a Airbus em US$ 600 milhões por degradação em mais de 20 jatos recentemente desativados pelo Qatar.

A Airbus também quer recuperar milhões de dólares em créditos concedidos à companhia aérea, conforme um documento judicial, oferecendo um raro vislumbre de detalhes de negociação na sigilosa indústria global de aeronaves.

Um Airbus A350 da Qatar Airways em Singapura - Edgar Su/Reuters

A contraofensiva é a etapa mais recente de uma disputa contratual e de segurança que dura meses e que prejudicou os laços entre o Qatar e uma das maiores empresas da França, enquanto o país se prepara para um grande fluxo de visitantes na Copa do Mundo.

Antes ocupando manchetes ao assinarem acordos multibilionários em feiras aéreas, os dois lados agora travam uma disputa pública sem precedentes sobre a erosão na superfície pintada e a proteção contra raios do avião Airbus A350.

A Qatar Airways disse que a degradação da superfície levanta questões não respondidas sobre a segurança dos jatos, levando seu órgão regulador a paralisar as aeronaves à medida que o problema aparece.

A Airbus reiterou que os aviões são seguros por causa das margens embutidas no sistema antirraios e acusou a companhia aérea de instigar a decisão do regulador.

A Qatar Airways não fez comentários. A autoridade de aviação do Qatar também não respondeu a um pedido de pronunciamento.

Captura de tela de vídeo postado pela Qatar Airways que mostra condições de um Airbus A350 - Qatar Airways via Reuters

A disputa remonta a novembro de 2020, quando a Qatar Airways enviou um de seus grandes A350 para ser repintado com uma pintura especial para a Copa do Mundo da Fifa, que será sediada pelo país do Golfo este ano.

Isso levou à descoberta de mais de 900 falhas de superfície e danos à malha de proteção contra raios, de acordo com a Qatar Airways.

Os dois lados concordaram posteriormente com uma cláusula de compensação cujo valor subiu para US$ 206,5 mil por avião por dia.

Mas eles discordam se a cláusula foi ativada e, mesmo que tenha sido, se se aplica ao resto da frota impedida de voar.

Interesse econômico

A Airbus reconheceu problemas de qualidade mais amplos no A350 depois que uma investigação da agência Reuters, em novembro, revelou que pelo menos cinco outras companhias aéreas relataram problemas semelhantes.

Mas acusou apenas a Qatar Airways de interpretá-los erroneamente como questões de segurança.

O documento entregue na segunda-feira disse que é do interesse da companhia aérea, que lançou o programa do A350 como seu maior cliente, manter os aviões em terra e pedir indenização à Airbus por causa da menor demanda por viagens de longa distância após a pandemia.

A Qatar Airways disse que a agência reguladora do país é estritamente independente e que ela precisa dos aviões para voar durante a Copa do Mundo, forçando-a a realizar novas despesas com o aluguel de aeronaves substitutas ou com a volta ao serviço dos Airbus A380 recém-desativados.

A companhia aérea é deficitária, mas desde o início da pandemia recebeu US$ 3 bilhões em ajuda do estado do Qatar, um dos países mais ricos do mundo.

Os reguladores europeus dizem que, apesar de sua aparência escamosa, as questões de revestimento da aeronave não representam um problema de aeronavegabilidade para o A350, que não está impedida de voar em nenhum outro lugar.

A Qatar Airways confirmou na segunda-feira que mais um de seus A350 foi suspenso, elevando o número total ocioso para 22.

A Reuters relatou a medida na sexta-feira (25), quando o Qatar tentou impor um contrato separado entre a Airbus e a mesma transportadora para jatos A321neo sob demanda.

Os dois lados também entraram em conflito sobre as chances de uma trégua.

Um porta-voz da Airbus disse que o contra-argumento de segunda-feira foi um "último recurso e se seguiu a muitas tentativas infrutíferas de encontrar soluções mutuamente benéficas".

A Qatar Airways havia dito antes que não estava ciente de "qualquer esforço da Airbus para tentar resolver a situação de maneira amigável".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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