Líderes do G7 —grupo dos sete países mais industrializados do mundo— disseram neste domingo (27) que aliados ocidentais decidiram cortar "certos bancos russos" do Swift, sistema global de pagamentos
A declaração, feita em texto conjunto e publicada pela presidência da França, não especificou quais bancos russos foram afetados pela decisão. O comunicado acrescentou que uma força-tarefa transatlântica será criada em breve para coordenar as sanções contra a Rússia.
O G7 é composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. No sábado (26), os países anunciaram um novo pacote de sanções econômicas à Rússia que impõe medidas para evitar que o Banco Central do país utilize reservas internacionais de cerca de US$ 630 bilhões (R$ 3,2 trilhões).
Das sete nações que formam o grupo, apenas o Japão não havia aderido ao movimento publicamente. No entanto, neste domingo, o país passou a defender a medida.
Em comunicado divulgado pela Casa Branca, os países ameaçaram impedir a Rússia de movimentar reservas internacionais.
"Nos comprometemos a impor medidas restritivas que impedirão o Banco Central da Rússia de utilizar as suas reservas internacionais de modo a minimizar o impacto das nossas sanções", diz o texto.
Os países também concordaram em cortar alguns bancos da Rússia do Swift, disse um porta-voz do governo alemão no sábado, em um terceiro pacote de sanções que tem o objetivo de fazer a Rússia suspender os ataques à Ucrânia.
As sanções também incluem medidas de modo a limitar a capacidade do banco central da Rússia de sustentar o rublo, a moeda oficial do país.
"Tomamos medidas decisivas esta noite com nossos parceiros internacionais para excluir a Rússia do sistema financeiro global, incluindo o importante primeiro passo de expulsar os bancos russos da Swift", escreveu o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, em post no Twitter.
"Continuaremos trabalhando juntos para garantir que Putin pague o preço por sua agressão", escreveu o político.
Além disso, o acordo prevê o fim dos "passaportes dourados" para russos ricos e suas famílias, e irá buscar identificar indivíduos e instituições na Rússia e em outros lugares que apoiam a guerra contra a Ucrânia, disse o porta-voz.
"Os países enfatizaram sua disposição de tomar mais medidas caso a Rússia não encerre seu ataque à Ucrânia", afirmou o porta-voz.
As medidas serão implementadas nos próximos dias, disseram as nações em comunicado conjunto.
"Nós nos comprometemos a garantir que um certo número de bancos russos seja removidos do Swift", disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em comunicado à mídia.
"Isso garantirá que esses bancos sejam desconectados do sistema financeiro internacional e prejudique sua capacidade de operar globalmente".
Ela disse que cortar os bancos russos do sistema os impedirá de realizar a maioria de suas transações financeiras em todo o mundo e efetivamente bloqueará as exportações e importações russas.
A medida é um golpe para o comércio russo e torna mais difícil para as empresas russas fazerem negócios. SWIFT, ou a "Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais", é uma rede de mensagens segura que facilita pagamentos rápidos além-fronteiras, tornando-se um mecanismo crucial para o comércio internacional.
O anúncio marcou uma escalada da resposta econômica punitiva do Ocidente.
"Trabalharemos para proibir os oligarcas russos de usar seus ativos financeiros em nossos mercados. Putin embarcou em um caminho com o objetivo de destruir a Ucrânia. Mas o que ele também está fazendo, na verdade, é destruir o futuro de seu próprio país", afirmou a presidente da Comissão Europeia.
Neste domingo (23), o fundo soberano da Noruega —o maior do mundo, com US$ 1,3 trilhão sob gestão— disse que venderá seus ativos russos em resposta à invasão da Ucrânia.
Segundo o governo norueguês, os ativos russos do fundo, compostos por ações de 47 empresas e títulos do governo, valiam 25 bilhões de coroas norueguesas (US$ 2,83 bilhões) no final de 2021.
Rússia vai retomar compra de ouro
Para tentar garantir a estabilidade financeira durante as sanções ocidentais contra Moscou, o banco central da Rússia anunciou que retomará a compra de ouro no mercado doméstico a partir desta segunda-feira (28).
Mais cedo, Vladimir Putin ordenou que seu comando militar colocasse as forças com armas nucleares em alerta máximo. Combatentes ucranianos que defendem a cidade de Kharkiv disseram ter repelido um ataque de tropas invasoras russas.
O QUE É O SWIFT?
Fundada em 1973, a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias (Swift) não lida com nenhuma transferência ou fundos, mas seu sistema de mensagens, desenvolvido na década de 1970 para substituir a dependência das máquinas de Telex, fornece aos bancos uma forma de comunicação rápida, segura e barata.
A empresa, com sede na Bélgica, é uma cooperativa de bancos e pretende permanecer neutra.
O QUE O SWIFT FAZ?
Os bancos utilizam o sistema Swift para enviar mensagens padronizadas sobre transferências de valores entre si, transferências de valores para clientes e ordens de compra e venda de ativos. Mais de 11.000 instituições financeiras, em mais de 200 países, usam o Swift, tornando o mecanismo a espinha dorsal do sistema internacional de transferências financeiras.
Seu papel preeminente nas finanças também significou que a empresa teve que cooperar com autoridades para evitar o financiamento do terrorismo.
QUEM REPRESENTA O SWIFT NA RÚSSIA?
De acordo com a associação nacional RosSwift, a Rússia é o segundo maior país, atrás dos Estados Unidos, em número de usuários, com cerca de 300 instituições financeiras pertencendo ao sistema. Mais da metade das instituições financeiras da Rússia integra o Swift.
A Rússia conta com uma infraestrutura financeira doméstica, que inclui o sistema SPFS para transferências bancárias e o sistema Mir para pagamentos com cartão, semelhante aos sistemas Visa e Mastercard.
EXISTEM PRECEDENTES DE EXCLUSÃO DE PAÍSES?
Em novembro de 2019, o Swift "suspendeu" o acesso de alguns bancos iranianos à sua rede. A medida se seguiu à imposição de sanções ao Irã pelos Estados Unidos e a ameaças feitas pelo então secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, de que o Swift seria alvo de sanções dos EUA se não concordasse.
O Irã já havia sido desconectado da rede Swift, entre 2012 e 2016.
EXISTEM PRECEDENTES DE EXCLUSÃO DE PAÍSES?
Em termos práticos, ser removido do Swift significa que os bancos russos não podem usá-lo para realizar ou receber pagamentos junto a instituições financeiras estrangeiras para transações comerciais.
Nações ocidentais ameaçaram excluir a Rússia do Swift em 2014, após a anexação da Crimeia. Mas descartar um país tão importante —a Rússia também é um grande exportador de petróleo— poderia estimular Moscou a acelerar o desenvolvimento de um sistema de transferências alternativo, com a China, por exemplo.
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