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Sanções contra Rússia mergulham economia global em novo desconhecido

Guerra na Ucrânia adiciona elementos sombrios num cenário já distorcido pela pandemia

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Londres | Reuters

As sanções econômicas ocidentais para punir a Rússia por sua invasão à Ucrânia estabelecem um novo conjunto de elementos desconhecidos em uma economia global já distorcida pela pandemia de coronavírus e uma década de dinheiro ultrabarato.

A tentativa de excluir do sistema de comércio partes inteiras da 11ª maior economia do mundo —e fornecedora de um sexto de todas as commodities— não tem precedentes na era globalizada.

As sanções divulgadas até agora afetarão as negociações de bancos russos em dólares, euros, libras e ienes. As restrições às exportações dos Estados Unidos limitarão o acesso russo a eletrônicos e computadores, enquanto as capitais europeias ajustam controles e medidas de exportação semelhantes para atingir os setores de energia e transporte.

Vladimir Putin e Xi Jinping, presidente da Rússia e China, em Pequim, durante anúncio de parceria sem limites - Alexei Druzhinin / Sputnik 04.fev.20 / AFP

Por enquanto, eles não condenarão a economia russa a nada parecido com o isolamento: o gás do qual a Europa depende continuará a fluir e os bancos da Rússia manterão o acesso ao sistema global de mensagens bancárias Swift.

Mas outras medidas punitivas continuam possíveis, enquanto o caos do conflito e potenciais contramedidas de Moscou tornam provável que haja alguma separação da economia russa e de seus enormes recursos.

"A guerra, as sanções e a probabilidade de uma retaliação significativa da Rússia juntas provavelmente causarão um choque recessivo global material", disse a consultoria de risco político Eurasia Group em nota.

A Oxford Economics afirmou agora ver a inflação global neste ano em 6,1%, acima dos 5,4% previstos anteriormente, e cita o impacto de sanções, interrupção do mercado financeiro e preços mais altos de gás, petróleo e alimentos como fatores para o aumento da projeção.

Embora isso intensifique preocupações com o custo de vida, a Oxford reduziu sua previsão de crescimento da produção global em modestos 0,2 ponto percentual, para 3,8% neste ano, e 0,1 ponto percentual, para 3,4% em 2023.

Essa pequena dose de estagflação é uma dor de cabeça para os bancos centrais que tentam reduzir seus programas de estímulo e normalizar as taxas básicas de juros depois de uma década em que estiveram perto de zero

MUDANÇAS

Mudanças estruturais mais profundas dependerão de como o impacto das sanções se desenrolará ao longo do tempo, principalmente nos setores de commodities, energia e finanças.

Amrita Sen, do "think tank" Energy Aspects, disse que, por enquanto, as medidas parecem dar alguma margem de manobra à Rússia.

"As sanções financeiras são projetadas de uma forma a permitir que os pagamentos relacionados à energia continuem", afirmou ela, acrescentando também esperar algumas isenções para metais e produtos agrícolas.

O Ministério da Economia russo disse nesta sexta-feira esperar que a pressão das sanções enfrentadas desde a anexação da Crimeia pelo país em 2014 aumente e que planeja intensificar os laços comerciais e econômicos com nações asiáticas.

Essa mudança dependeria notavelmente do interesse de Pequim em um bloco comercial entre China e Rússia, que poderia surgir como uma alternativa viável aos canais ocidentais.

"Isso poderia forçar empresas a ter duas cadeias de suprimentos separadas para atender cada uma", disse Jacob Kirkegaard, do German Marshall Fund, sobre um acontecimento que reverteria décadas de tentativas de simplificar os canais de comércio para obter eficiência.

Após os problemas da cadeia de suprimentos da era da pandemia, isso pode exacerbar as altas dos preços e a escassez de bens que estão prejudicando a economia mundial.

Mas se isso resultará em uma inflação estruturalmente mais alta e escassez de longo prazo depende de como os outros reagem. Otimistas argumentam que pode ser um alerta para outras grandes economias examinarem seus interesses estratégicos e fraquezas econômicas.

"Se a Europa usar este momento para diversificar verdadeiramente suas fontes de energia, poderá se isolar de futuros choques planejados pelo Kremlin", disse Hung Tran, do "think tank" Atlantic Council.

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