Bolsas nos EUA sobem após Biden anunciar mais sanções contra a Rússia

Mercados da Europa afundam com invasão da Ucrânia

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São Paulo

Os mercados de ações em Nova York fecharam nesta quinta-feira (24) com forte recuperação em relação às baixas registradas durante quase todo o dia. A virada ocorreu no final da tarde, após o presidente americano Joe Biden anunciar novas sanções contra a Rússia.

Na principal reação do mercado americano, o índice que acompanha as empresas do setor de tecnologia listadas na Nasdaq disparou 3,35%. Isso empurrou para cima o S&P 500, referência do mercado dos Estados Unidos, que fechou em alta de 1,50%.

O índice Dow Jones, que reúne três dezenas de grandes companhias americanas, subiu 0,28%, após ter iniciado um avanço tardio em relação aos seus pares.

Veículo militar é visto nas proximidades da cidade ucraniana de Donetsk nesta quinta (24) - Alexander Ermochenko/Reuters

A recuperação no principal mercado do planeta ocorreu, porém, a partir de um patamar já rebaixado nos últimos dias. Wall Street vem caindo devido à expectativa de uma política monetária mais rígida para a contenção da maior inflação em 40 anos. O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) prevê elevar os juros de referência do país a partir do próximo mês.

O S&P 500 atingiu na última terça-feira (22) uma baixa de 10% em relação à sua pontuação recorde, alcançada em 3 de janeiro deste ano. Quando um indicador recua a partir dessa porcentagem em relação ao seu nível mais alto, ele entra na chamada "zona de correção". Foi a primeira vez que isso ocorreu com esse indicador desde fevereiro de 2020, quando a Covid abalou mercados.

Parte da explicação para a virada após o discurso de Biden pode estar vinculada a concessões feitas a setores estratégicos para a economia global.

Biden bloqueou negócios das maiores empresas russas nos bancos dos EUA, inclusive da Gazprom, a gigante estatal de petróleo e gás. Mas o governo americano abriu exceções. Essas grandes empresas banidas da finança americana são autorizadas, por exemplo a fazer negócios relativos a energia (de exploração de combustíveis à produção, transporte etc.).

A escassez de combustíveis que pode ser provocada por limitações a esse segmento poderia resultar em uma aceleração ainda maior da inflação global, obrigando o Fed a acelerar ainda mais a alta dos juros americanos.

O barril do petróleo Brent, referência mundial para essa mercadoria, subia 2,25% no início da noite, a US$ 99,02. Com isso, abandonava as máximas alcançadas pela manhã, quando disparou cerca de 8% e foi à casa dos US$ 105, maior valor desde 2014.

Na Europa, o impacto do início da guerra sobre os mercados foi bem mais acentuado nesta quinta, onde as bolsas fecharam antes do pronunciamento de Biden.

O índice que acompanha as 50 principais empresas de países que utilizam o euro como moeda desabou 3,63%. Os mercados de Londres, Paris e Frankfurt afundaram 3,88%, 3,83% e 3,96%, respectivamente.

O principal índice da Bolsa de Moscou derreteu 33,28%, atingindo a cotação mais baixa desde 2017. Na terça-feira (22), o principal indicador do mercado acionário do país havia subido 1,58%, ensaiando uma tímida recuperação em relação ao tombo de 10,50% do dia anterior. A Bolsa da Rússia não funcionou na quarta (23) devido a um feriado nacional.

Na Ásia, os principais índices acionários fecharam com quedas severas. Tóquio, Hong Kong e Xangai/Shenzhen despencaram em 1,81%, 3,21% e 2,03%, nessa ordem.

O temor gerado pela guerra também teve efeito na Bolsa do Brasil. O Ibovespa fechou em baixa de 0,37%, a 111.591 pontos. Mais cedo, o índice de referência do mercado acionário do país havia tombado 2,57%, recuando à mínima de 109.125 pontos.

O dólar teve forte alta em relação ao real. A moeda americana disparou 2,01%, fechando a sessão cotada a R$ 5,1040. O salto ocorreu um dia depois da divisa americana ter atingido o seu menor valor frente ao real desde o final de junho. Nesta quarta-feira (23), a divisa havia recuado 0,95%, a R$ 5,0030, o que na ocasião representou um tombo de 12,4% em relação ao pico deste ano, de R$ 5,71, em 5 de janeiro.

Com o início da ofensiva militar russa, porém, houve valorização global da moeda americana. Ela costuma ser mais procurada por investidores em períodos de incerteza. Isso explica a virada na taxa de câmbio no Brasil.

Até esta quarta, antes da invasão russa à Ucrânia, investidores estrangeiros enxergavam o Brasil como alternativa às baixas nas bolsas de economias desenvolvidas e mantinham um forte fluxo de investimentos no mercado financeiro doméstico.

Analistas avaliavam que a crise na Europa até mesmo favorecia esse movimento. Semelhanças entre os setores de commodities de Brasil e Rússia fariam do mercado brasileiro um potencial refúgio de investidores obrigados a interromper negócios em Moscou.

Fundamentos que tornam o Brasil atraente para investidores internacionais continuam presentes, como real desvalorizado, Bolsa com ações baratas, valorização de commodities e, principalmente, uma taxa de juros muito alta em relação às principais economias.

O início de uma guerra, porém, faz investidores abandonarem fundamentos para adotarem medidas de proteção contra riscos de perdas, segundo Fernanda Mansano, economista-chefe da plataforma de investidores TC (Traders Club).

"Até então, a gente estava vendo um efeito carry trade com base no fundamento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos", diz Mansano.

Carry trade é como o mercado chama a prática de tomar crédito barato em países com juros baixos e aplicar em mercados com maior possibilidade de retorno.

"Agora, diante de uma situação de incerteza, pode haver fuga [do capital estrangeiro]. A chance de desvalorização cambial no curtíssimo prazo é real", comenta a economista. "Costumo comparar esses momentos como dirigir quando está chovendo muito. O que você faz? Para o carro, espera passar, porque não dá para enxergar o que está lá na frente."

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