Descrição de chapéu Banco Central

Corte de tributo não segura inflação no longo prazo, diz Campos Neto após Guedes anunciar redução de IPI

Presidente do BC afirma que abaixar imposto tem efeito momentâneo, não estrutural

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (22) que reduzir tributo pode auxiliar na queda da inflação no curto prazo, mas não tem efeito de forma estrutural. Em evento de um banco, ele foi questionado sobre o anúncio feito no mesmo dia pelo ministro Paulo Guedes (Economia) de abrir mão de receita do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado).

A afirmação de Campos Neto se deu horas depois de Guedes dizer que o governo prepara um corte de 25% no IPI em "um movimento de reindustrialização do Brasil". Ambas as declarações aconteceram em evento promovido pelo BTG Pactual.

"Se você abaixa imposto ou faz alguma coisa que abre mão de receita para obter um preço de produto mais baixo naquele momento, estruturalmente você não está ajudando a inflação", afirmou Campos Neto ao responder a uma pergunta sobre o tema.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Adriano Machado/Reuters - 9.12.2021

"Você pode ter uma queda no curto prazo, mas, na parte de expectativa de inflação, isso vai se incorporar e esse elemento tende a prevalecer estruturalmente no médio e longo prazo", disse o presidente do BC.

Conforme mostrou a Folha, o governo tem usado o corte de IPI como forma de pressão sobre governadores para que aceitem uma mudança na cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis.

De acordo com Campos Neto, países como Colômbia e Índia também estão discutindo cortes de impostos. No entanto, ressaltou que a inflação alta se deve em parte pelos programas de auxílio durante a pandemia, que expandiram os gastos em todo o mundo.

"Diante da persistência desse efeito inflacionário, em parte gerada pelo grande plano fiscal, é com alguma curiosidade que a gente vê que alguns países sugerem que a solução é fazer mais fiscal", afirmou.

Quanto ao cenário brasileiro, o presidente do BC disse esperar que a inflação permaneça alta, mas comece a acelerar a sua queda no período entre abril e maio, olhando para o acumulado de 12 meses. Nesta terça (22), ele alegou ter sido mal interpretado sobre o pico de inflação.

"Fiz alguns pronunciamentos dizendo que a gente achava que a inflação ia começar a cair mais rapidamente entre abril e maio, houve entendimento de que o pico seria entre abril e maio. Eu disse que a inflação vai permanecer alta e vai começar a acelerar a queda entre abril e maio", reforçou.

O índice oficial de inflação no Brasil começou 2022 com alta de 0,54% em janeiro, com alta acumulada de 10,38%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No recorte dos 12 meses até janeiro, a taxa é a mais elevada desde 2016 (10,71%).

Campos Neto disse ainda, no evento, que o BC observa atentamente a inflação de serviços, uma vez que o consumo de serviços ainda não voltou à tendência pré-pandemia e o último número "surpreendeu negativamente". Segundo ele, a autoridade monetária considera em seus cálculos que a inflação industrial deve cair e a de serviços, subir.

Para reagir à alta da inflação, o BC tem elevado a taxa básica de juros. No último encontro, em fevereiro, o Copom elevou a Selic de 9,25% para 10,75% ao ano. Nesta terça (22), o presidente da autarquia voltou a avaliar que o Brasil saiu na frente no combate à pressão inflacionária comparado a outros países com a elevação dos juros.

O BC também já sinalizou que o ciclo de aperto iniciado em março do ano passado não chegou ao fim, diante de uma inflação ainda resistente e que ameaça estourar a meta pelo segundo ano seguido. A inflação perseguida pelo BC em 2022 é de 3,50%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, podendo chegar a 5%. A alta prevista pela autoridade monetária, entretanto, já é de 5,4%.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.