Descrição de chapéu Folhajus

Presidente da Estrela diz que vai lutar por jogos que Justiça mandou devolver à Hasbro

Carlos Tilkian afirma que, de acordo com lei brasileira, regras de jogo não são protegidas por patente

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São Paulo

Carlos Tilkian, 68 anos, completa neste ano 29 anos à frente da fabricante de brinquedos Estrela. Em 1993, quando chegou à companhia como vice-presidente, a empresa ainda pertencia à família fundadora, os Adler. No começo dos anos 90, os "inimigos" dos brinquedos brasileiros eram os rivais chineses, que passaram a ser oferecidos no mercado por um valor muito menor.

Agora, a disputa se trava na Justiça com a ex-parceira Hasbro. A americana diz ser dona de marcas que foram abrasileiradas pela Estrela, enquanto as duas mantinham um acordo comercial. A Estrela diz que a parceria foi feita com empresas terceiras, mais tarde compradas pela Hasbro –fato que, na visão da brasileira, impede a americana de exigir o registro das marcas no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

No centro da briga dos brinquedos estão marcas como Banco Imobiliário, Detetive, Cara a Cara, Cilada, Jogo da Vida, Vira Letras e Combate.

Homem grisalho, de terno preto, sentado sobre um pote gigante amarelo, em que se lê Super Massa
Carlos Tilkian, presidente da Estrela, diz que respeita decisão da Justiça, mas vai brigar para não destruir Super Massa e ficar com jogos. - Eduardo Knapp/ Folhapress

"Nós somos os maiores fabricantes de jogos do país e não vamos entregar as nossas marcas, criadas com muito sacrifício, à Hasbro", disse à Folha Carlos Tilkian. "Além disso, regras de jogo não são protegidas em patente no Brasil, de acordo com a Lei da Propriedade Industrial", afirmou o empresário, dizendo ainda ter ficado "chocado" com o pedido da Hasbro para destruir brinquedos.

Tanto a Estrela quanto a Hasbro se preparam para recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília, até o próximo dia 9 de março, contra a sentença promulgada pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) no último dia 8 de fevereiro. Pela decisão, a Estrela foi autorizada a ficar com as marcas Banco Imobiliário, Comandos em Ação e Senhora Cabeça de Batata, que estavam sendo requisitadas pela Hasbro.

Por outro lado, a brasileira terá que destruir os potes de massinha Super Massa, porque a Justiça entendeu que eles remetem à marca concorrente Play-Doh, da Hasbro. Super Massa e outras 16 marcas registradas pela Estrela no INPI devem ser transferidas à Hasbro. Além disso, a Estrela foi condenada a pagar R$ 50 milhões em royalties à americana.

O montante é alto para uma empresa do porte da Estrela, que faturou nos primeiros nove meses de 2021 R$ 136 milhões. No período, a empresa amargou prejuízo de R$ 11 milhões.

Tilkian defende que todas as marcas reclamadas pela Hasbro na Justiça já eram da Estrela, antes de serem desenvolvidas pela americana. "Vamos recorrer para manter todas", disse.

No entanto, pesquisa feita pela Folha junto aos sites das fabricantes, indica que, com exceção da Super Massa, as principais marcas em disputa foram lançadas primeiro pela Hasbro (ou por empresas que depois passaram a fazer parte do grupo, como a Milton Bradley, que criou o Jogo da Vida).

Criada em 1937 pelo alemão Siegfried Adler, que comprou uma pequena fábrica de bonecas de pano e carrinhos de madeira localizada no Belém, bairro da zona leste de São Paulo, a Estrela se tornou a maior fabricante brasileira de brinquedos nas décadas seguintes. Mas com a abertura de mercado para produtos estrangeiros no início dos anos 90, perdeu espaço para os importados da China.

Quando Tilkian, um administrador de empresas que havia feito carreira na antiga Gessy Lever (hoje Unilever) chegou à companhia, ela já estava em dificuldades. Em 1995, foi eleito presidente e, em 1996, adquiriu o controle da Estrela de Mário Adler, filho do fundador. Hoje Tilkian detém 94% das ações ordinárias da companhia. Dois terços das ações da empresa são preferenciais e estão no mercado.

Segundo Tilkian, a Hasbro decidiu romper unilateralmente o acordo com a Estrela em 2007, dando fim a uma parceria firmada nos anos 70. "Eles decidiram que era conveniente abrir um escritório comercial aqui no Brasil e importar, nunca quiseram produzir nada no país", afirmou.

A Folha apurou, porém, que a Hasbro rescindiu o contrato porque a Estrela havia parado de pagar os royalties sobre os brinquedos desenvolvidos em parceria. Tilkian nega. "Depois que eles rescindiram o contrato, mudamos o ‘trade dress’ [características da aparência visual de um produto] de todos os brinquedos, passaram a ser nossos", diz o empresário.

A dívida de R$ 50 milhões em royalties, no entanto, fixada pelo TJ-SP, se refere à continuação da comercialização, por parte da Estrela, dos produtos que foram fruto da parceria com a Hasbro.

Procurada pela Folha, a Hasbro informou que "não comenta processos em andamento" e que, "especificamente sobre o litígio com a Estrela, reafirma sua confiança no Judiciário brasileiro". A defesa da americana é feita pelo feita pelo escritório Lee, Brock, Camargo Advogados. Já a Estrela é representada pelos escritórios Sergio Bermudes Advogados e Wald, Antunes, Vita e Blattner Advogados.

Erramos: o texto foi alterado

O jogo "Detetive" foi lançado em 1974 (e não em 1977) e o "Cara a Cara" foi lançado em 1984 (e não em 1986). As informações incorretas estavam em infográfico que acompanha este texto e já foram retificadas.

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