Um dia após os servidores do Banco Central decidirem entrar em greve por tempo indeterminado a partir de 1º de abril, a autoridade monetária disse ter planos de contingência para assegurar o funcionamento dos serviços essenciais para a sociedade, como o Pix.
"O Banco Central esclarece que tem planos de contingência para manter o funcionamento dos sistemas críticos para a população, os mercados e as operações das instituições reguladas, tais como STR [Sistema de Transferência de Reservas], Pix, Selic, entre outros", afirmou. A autoridade monetária, entretanto, não detalhou o funcionamento das medidas.
Segundo o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), a lei de serviços essenciais será respeitada pelos servidores. Mas ressalta: "O Pix e diversas outras atividades do BC não estão nessa lei. Portanto, muitos atrasos ou interrupções poderão ocorrer".
"Mesmo tendo esquema de contingência, não dá para dizer que o Pix vai ter funcionamento pleno durante uma greve. Pode haver atrasos ou interrupções parciais, o monitoramento do sistema vai ser precário, o atendimento aos usuários que usam Pix ficará prejudicado, entre outras coisas", disse Fabio Faiad, presidente do Sinal.
O Sistema de Valores a Receber é outro serviço que pode ser afetado com a greve dos servidores. Nesta segunda-feira (28), o BC deu início a uma nova repescagem de pagamento do dinheiro esquecido nos bancos para todos os públicos.
Na próxima quinta (31), os representantes dos servidores têm um encontro marcado com a diretoria de Administração do BC para discutir como será o andamento das atividades da autoridade monetária durante a greve.
Fontes do Palácio do Planalto ouvidas pela Folha após a aprovação da greve relataram temor de que a paralisação comprometa a atividade do BC —sobretudo as operações de câmbio e o Pix.
Em nota, o BC também disse reconhecer o direito dos servidores de promoverem manifestações organizadas e confiar na "histórica dedicação, qualidade e responsabilidade dos servidores e de seu compromisso com a instituição e com a sociedade".
Na tarde desta terça (29), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, se reuniu com representantes do Sinal, da ANBCB (Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil) e do SinTBacen (Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central do Brasil).
"Não houve apresentação de proposta oficial por parte do presidente do BC. Logo, greve mantida a partir de 1º de abril", afirmou Faiad.
A paralisação foi aprovada em assembleia na segunda, com o apoio de cerca de 90% dos 1.300 servidores da ativa que participaram da deliberação, segundo o Sinal. Os funcionários já vinham realizando paralisações diárias das 14h às 18h desde o dia 17 de março e atuando em operação-padrão.
Ainda de acordo com o Sinal, as entregas de comissões também tiveram início no início da semana. "300 comissionados já entregaram suas comissões e esperamos chegar quarta (30) a 500 entregas (de um total de 1000 comissões, sendo 50% gerenciais e 50% de assessoramento)."
O movimento dos servidores do BC faz parte da mobilização nacional do funcionalismo público por reajuste salarial e reestruturação de carreira. A pressão começou após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter acenado com aumento aos policiais federais, categoria que compõe sua base de apoio.
Com a iminente greve dos funcionários da autoridade monetária, outras áreas têm aumentado a pressão sobre o governo por recomposição salarial.
Os servidores do Tesouro Nacional decidiram em assembleia, nesta terça-feira, paralisar as atividades na próxima sexta (1º) e na terça da semana que vem (5), quando voltarão a se reunir para discutir os passos seguintes da mobilização, como a avaliação do indicativo de greve.
Também ficou definida a intensificação da operação-padrão até que haja uma proposta concreta do governo. Os servidores da carreira de Finanças e Controle buscam pressionar o Palácio do Planalto a negociar um reajuste salarial para a categoria.
A decisão contou com o apoio de 95% dos cerca de 180 servidores que participaram da deliberação na assembleia.
Na última sexta-feira (25), os servidores do Tesouro Nacional interromperam as atividades, afetando algumas atividades da área.
De acordo com a Unacon Sindical (Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle), houve atraso de duas horas no pagamento dos títulos vencidos do Tesouro Direto, o que motivou a abertura de diversos chamados na Subsecretaria da Dívida Pública.
Outra consequência foi o adiamento da divulgação do Relatório Mensal da Dívida Pública para esta quarta (30).
A previsão do sindicato é que a mobilização desta semana impacte a entrega do Relatório do Tesouro Nacional, que apresenta o déficit primário e o perfil dos gastos e receitas públicas.
O movimento do funcionalismo público foi reforçado na tarde desta terça-feira com a participação de 200 auditores-fiscais da Receita Federal em um ato em frente ao Ministério da Economia, em Brasília.
Entre as reivindicações, os auditores protestaram contra a falta de concursos públicos e a redução do orçamento da Receita Federal, além de pedirem medidas de reestruturação de carreira. De acordo com o Sindifisco Nacional (Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil), houve redução de 58,94%, na disposição de verba ao longo dos últimos 5 anos, sem considerar as perdas inflacionárias.
"Não temos concurso público desde 2014, o que causou uma perda de 40% do efetivo. Vivemos o retrato do descaso que o governo federal tem pela Receita Federal", afirmou o presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão.
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