Descrição de chapéu Rússia

EUA e Reino Unido reforçam sanções contra a Rússia

Novas punições impedem investimentos no país e congela ativos dos bancos Sberbank e Alfa Bank nos EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Kiev e Budapeste | AFP

Os Estados Unidos e o Reino Unido impuseram nesta quarta-feira (6) novas sanções contra a Rússia, acusada de cometer crimes de guerra na Ucrânia, onde as autoridades pediram aos moradores do leste do país que abandonem imediatamente a região em meio aos temores de uma ofensiva do exército russo.

As novas sanções impedem novos investimentos na Rússia e preveem o congelamento de todos os ativos nos Estados Unidos do banco público Sberbank e do Alfa Bank, o maior banco privado do país.

Washington disse que as medidas visam tornar a Rússia um "pária" na economia mundial.

Por sua vez, as sanções do Reino Unido determinam "o fim das importações britânicas de energia russa" e afetam dois bancos e empresários.

Manifestação pró-Ucrânia em Berlim, na Alemanha - John Macdougall/AFP

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que os países da União Europeia terão que decidir "cedo ou tarde" adotar sanções sobre o petróleo e gás da Rússia, um assunto que os divide, dado que alguns são extremamente dependentes das importações de gás russo.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, defende permanentemente um endurecimento das sanções.

"Não posso tolerar nenhuma indecisão depois de tudo o que vivemos na Ucrânia e tudo o que as tropas russas fizeram", disse Zelensky diante do parlamento irlandês.

Ele se referia às acusações de assassinatos de civis pelas tropas russas, após a a descoberta de vários corpos em Bucha, uma cidade perto de Kiev.

Na terça-feira, Zelensky pediu ao Conselho de Segurança da ONU que atue "imediatamente" contra a Rússia por seus "crimes de guerra".

Autoridades internacionais temem que apareçam outras "atrocidades" como a de Bucha, na medida em que as tropas russas se dirigem para o leste.

O presidente americano, Joe Biden, denunciou "crimes de guerra graves" e afirmou que seus responsáveis deveriam ser responsabilizados.

O Kremlin nega ter matado civis e afirma que as imagens de Bucha são montagens fabricadas para causar impacto internacional e reforçar as sanções. Putin as classificou como uma "provocação grosseira e cínica".

No entanto, a Alemanha, um país com forte dependência do gás russo, afirmou que as imagens de satélite provam que a versão de Moscou "é insustentável".

As imagens, captadas quando a cidade estava sob controle russo, mostram o que parecem ser corpos espalhados pelas ruas, que depois foram encontrados pelas forças ucranianas e por jornalistas, quando os russos se retiraram.

"As últimas notícias da guerra na Ucrânia (...) mostram novas atrocidades, como o massacre de Bucha, e uma crueldade horrível", disse o papa Francisco.

De acordo com o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), 4,24 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da invasão em 24 de fevereiro, e há mais de 7 milhões de pessoas deslocadas internamente. O país tinha 37 milhões de habitantes nas regiões controladas pelo governo antes da guerra.

Hungria aceita pagar gás russo em rublos, diz premiê

O governo húngaro se mostrou disposto, nesta quarta, a pagar em rublos, se necessários, sua importação do gás russo, ao contrário de outros países da UE que rejeitaram esse pedido por parte da Rússia.

"Não vemos problema no pagamento em rublos. Se é o que os russos querem, pagaremos em rublos", disse o primeiro-ministro Viktor Orban, em entrevista coletiva em Budapeste.

A Rússia ameaçou cortar o fornecimento de gás para países "hostis" que se recusassem a pagar em rublos. A medida afetaria, sobretudo, a UE, bastante dependente deste recurso.

A Hungria é o primeiro país a se distanciar da unidade europeia sobre o tema, já que os outros países rejeitaram qualquer pagamento em rublos à Rússia.

Um pouco antes, o ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, havia declarado que a UE não desempenha qualquer papel no fornecimento de gás, "regido por um contrato bilateral".

"A vontade da Comissão Europeia de ter uma resposta comum dos países importadores não nos parece necessária", descartou.

"Uma solução técnica" para aplicar a conversão deve ser encontrada entre agora e a primeira obrigação de pagamento ao gigante russo do setor Gazprom no final de maio, completou.

A Hungria também é fortemente dependente dos fornecimentos de energia por parte de Moscou.

Na terça-feira (5), a Comissão Europeia propôs aos 27 países do bloco o endurecimento das sanções contra a Rússia, cessando suas compras de carvão russo, que representam 45% das importações da UE, e fechando os portos europeus para navios russos.

Além da Hungria, Alemanha e Áustria expressaram publicamente suas reservas quanto a estas medidas.

Fugir para o oeste 'agora'

Após se afastar da região de Kiev, analistas estimam que a Rússia buscará concentrar sua ofensiva no sul e no leste da Ucrânia, a fim de ocupar a toda a região de Donbass e criar uma continuidade territorial com a Crimeia, anexada em 2014.

As autoridades ucranianas pediram aos habitantes dessa região que partam para o oeste o mais rápido possível.

A opção é sair "agora" ou "correr o risco de morte", afirmou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.

Nesta quarta-feira, jornalistas da AFP constataram bombardeios em Severodonetsk, cidade de 100 mil habitantes antes da guerra, na linha de frente com os territórios separatistas pró-russos de Donbass.

Em Vugledar, também no leste, quatro civis foram mortos em um bombardeio russo a um centro de distribuição de ajuda humanitária, disse o governador da região de Donetsk, Pavlo Kirilenko.

"Sabemos que os russos estão se fortalecendo e se preparando para atacar", disse um alto funcionário ucraniano à AFP na cidade de Krasnopilia, no Donbass. "Estamos prontos, preparamos algumas surpresas para eles ao longo do caminho."

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que Putin não desistiu de tomar toda Ucrânia e que a guerra pode durar "meses, até anos".

O conflito, o pior da Europa em décadas, deixou até o momento 20 mil mortos, segundo dados ucranianos.

A guerra entre dois países grandes produtores de matérias-primas e, no caso da Rússia, de hidrocarbonetos, provocou uma disparada nos preços dos alimentos e do barril de petróleo em todo mundo.

Em uma tentativa de conter a inflação, os países desenvolvidos membros da AIE (Agência Internacional de Energia) anunciaram que vão retirar 120 milhões de barris de petróleo adicionais de suas reservas. Metade deles será colocada no mercado pelos Estados Unidos.

'Minha mãe ou meus netos'

Uma das cidades mais atingidas pelo conflito é Mariupol, sitiada e bombardeada pelas tropas russas há semanas.

Segundo seu prefeito, Vadim Boichenko, cerca de 120 mil pessoas permanecem entrincheiradas, privadas de água, comida e eletricidade nessa cidade costeira que antes da guerra tinha meio milhão de habitantes.

Muitos evacuados foram encaminhados a Zaporizhzhia , a cerca de 200 km ao noroeste.

"Foi a decisão mais triste que já tomei. Tive que escolher entre minha mãe e meus netos", afirmou Angela Berg ao recordar sua saída de Mariupol.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.