O grupo chinês de transporte por aplicativo Didi notificou a Bolsa de Valores de Nova York de que vai fechar seu capital nos Estados Unidos, depois que os acionistas apoiaram de forma esmagadora o plano de levar os serviços da empresa de volta às lojas de aplicativos chinesas.
A empresa disse que mais de 95% das ações lançadas na votação de segunda-feira (23) aprovaram seu plano de fechamento de capital, quase um ano depois que a Didi se lançou com uma oferta pública inicial de US$ 4,4 bilhões nos EUA, apesar dos sinais de órgãos reguladores chineses alertando contra a medida.
O IPO fracassado, que ocorreu na véspera do centenário do Partido Comunista, mergulhou a empresa numa crise que durou meses. As ações da Didi caíram 90% desde seu IPO, eliminando US$ 60 bilhões (R$ 288 bilhões) de seu valor de mercado.
A investigação de segurança cibernética de Pequim, iniciada poucos dias após o IPO, deixou a Didi incapaz de contratar novos usuários, diminuindo suas receitas e ampliando as perdas, enquanto demissões afundaram a confiança na empresa.
Os fundadores da Didi, Cheng Wei e Jean Liu, que se afastaram dos holofotes, esperam que deixar o mercado americano estimule Pequim a encerrar a investigação regulatória. A Didi disse que os executivos, que juntos possuem cerca de 10% das ações da empresa, votarão a favor do fechamento do capital.
O conselho de administração da empresa, que inclui representantes de grandes acionistas, incluindo os grupos de tecnologia Alibaba, Tencent e Apple, também apoiou a medida. A Didi disse que apresentará a papelada à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) para iniciar o processo de deslistagem já em 2 de junho.
No entanto, a Didi disse neste mês que "continua incerto" se todas as medidas de retificação propostas pela empresa, incluindo a deslistagem, acalmarão Pequim e a permitirão "retomar as operações normais".
A empresa já esperava listar suas ações em Hong Kong antes de fechar o capital nos EUA, mas a investigação regulatória em curso pôs de lado esses planos.
Cherry Leung, analista da Bernstein, disse que a Didi está no limbo enquanto a repressão regulatória de Pequim persistir. "A Didi está atualmente numa situação de impasse até que a investigação de segurança cibernética na China termine", disse ela.
"Os reguladores do lado chinês querem que a Didi limite as divulgações à SEC", disse ela, observando que a mudança para as negociações de balcão permitiriam que a empresa parasse de apresentar relatórios financeiros ao regulador dos EUA e colocasse seus documentos de auditoria fora do alcance do Conselho de Supervisão de Contabilidade de Empresas de Capital Aberto dos EUA. Pequim não permite que o conselho realize inspeções de auditorias feitas na China.
Leung alertou que ações coletivas de investidores nos EUA e problemas de conformidade com o negócio de transporte pessoal da Didi seriam obstáculos adicionais para uma listagem em Hong Kong, quando a investigação de segurança cibernética fosse resolvida.
A deslistagem ocorre apesar das repetidas promessas das principais autoridades econômicas, incluindo o vice-primeiro-ministro Liu He, de que a China encerrará o ataque regulatório contra suas grandes empresas tecnológicas.
Mas a investigação sobre a Didi foi liderada pela Administração do Ciberespaço da China, órgão do Partido Comunista que responde ao presidente chinês, Xi Jinping.
O regulador está na vanguarda da repressão tecnológica da China e, nos últimos dois anos, expandiu seu mandato regulatório de propaganda e censura online para controle de dados e segurança de rede.
Colaborou Nian Liu
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.