Descrição de chapéu Financial Times

Didi, dona da 99 no Brasil, decide sair da Bolsa de Nova York

Repressão de Pequim ao grupo de transporte por aplicativo fez ações despencarem, com perda de US$ 60 bilhões em valor de mercado

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Ryan McMorrow
Pequim | Financial Times

O grupo chinês de transporte por aplicativo Didi notificou a Bolsa de Valores de Nova York de que vai fechar seu capital nos Estados Unidos, depois que os acionistas apoiaram de forma esmagadora o plano de levar os serviços da empresa de volta às lojas de aplicativos chinesas.

A empresa disse que mais de 95% das ações lançadas na votação de segunda-feira (23) aprovaram seu plano de fechamento de capital, quase um ano depois que a Didi se lançou com uma oferta pública inicial de US$ 4,4 bilhões nos EUA, apesar dos sinais de órgãos reguladores chineses alertando contra a medida.

O IPO fracassado, que ocorreu na véspera do centenário do Partido Comunista, mergulhou a empresa numa crise que durou meses. As ações da Didi caíram 90% desde seu IPO, eliminando US$ 60 bilhões (R$ 288 bilhões) de seu valor de mercado.

Logo da Didi - Florence Lo - 1°.jul.2021/Reuters

A investigação de segurança cibernética de Pequim, iniciada poucos dias após o IPO, deixou a Didi incapaz de contratar novos usuários, diminuindo suas receitas e ampliando as perdas, enquanto demissões afundaram a confiança na empresa.

Os fundadores da Didi, Cheng Wei e Jean Liu, que se afastaram dos holofotes, esperam que deixar o mercado americano estimule Pequim a encerrar a investigação regulatória. A Didi disse que os executivos, que juntos possuem cerca de 10% das ações da empresa, votarão a favor do fechamento do capital.

O conselho de administração da empresa, que inclui representantes de grandes acionistas, incluindo os grupos de tecnologia Alibaba, Tencent e Apple, também apoiou a medida. A Didi disse que apresentará a papelada à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) para iniciar o processo de deslistagem já em 2 de junho.

No entanto, a Didi disse neste mês que "continua incerto" se todas as medidas de retificação propostas pela empresa, incluindo a deslistagem, acalmarão Pequim e a permitirão "retomar as operações normais".
A empresa já esperava listar suas ações em Hong Kong antes de fechar o capital nos EUA, mas a investigação regulatória em curso pôs de lado esses planos.

Cherry Leung, analista da Bernstein, disse que a Didi está no limbo enquanto a repressão regulatória de Pequim persistir. "A Didi está atualmente numa situação de impasse até que a investigação de segurança cibernética na China termine", disse ela.

"Os reguladores do lado chinês querem que a Didi limite as divulgações à SEC", disse ela, observando que a mudança para as negociações de balcão permitiriam que a empresa parasse de apresentar relatórios financeiros ao regulador dos EUA e colocasse seus documentos de auditoria fora do alcance do Conselho de Supervisão de Contabilidade de Empresas de Capital Aberto dos EUA. Pequim não permite que o conselho realize inspeções de auditorias feitas na China.

Leung alertou que ações coletivas de investidores nos EUA e problemas de conformidade com o negócio de transporte pessoal da Didi seriam obstáculos adicionais para uma listagem em Hong Kong, quando a investigação de segurança cibernética fosse resolvida.

A deslistagem ocorre apesar das repetidas promessas das principais autoridades econômicas, incluindo o vice-primeiro-ministro Liu He, de que a China encerrará o ataque regulatório contra suas grandes empresas tecnológicas.

Mas a investigação sobre a Didi foi liderada pela Administração do Ciberespaço da China, órgão do Partido Comunista que responde ao presidente chinês, Xi Jinping.

O regulador está na vanguarda da repressão tecnológica da China e, nos últimos dois anos, expandiu seu mandato regulatório de propaganda e censura online para controle de dados e segurança de rede.

Colaborou Nian Liu

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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