Estudo mostra Lisboa como a terceira cidade mais cara do mundo

Brasileiros já pensam em deixar a capital portuguesa; Roma e Londres lideram ranking mundial

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Luciana Quaresma

A capital portuguesa Lisboa surge como uma das cidades mais caras do mundo para se morar. Essa é a conclusão de um estudo recente realizado por uma seguradora britânica tendo em conta, salários, preços da habitação e o custo de vida, com base em dados oficiais.

O resultado não foi nenhuma surpresa para os brasileiros que vivem em Lisboa e sentem, no dia a dia, esse aumento em vários setores. A jornalista Renata Cordeiro saiu do Rio de Janeiro há cerca de quatro anos e não se surpreendeu com a pesquisa. Segundo ela, nota-se o aumento do custo de vida desde a alimentação ao valor dos imóveis.

Rua de Lisboa, capital de Portugal - Pedro Fiuza - 19.fev.22/Xinhua

"É bem significativa a diferença do custo de vida há quatro, cinco anos, na verdade, há dois anos para esse momento que estamos vivendo agora. Algumas coisas se fazem notar mais, por exemplo, a parte de energia. Também reparamos no supermercado um aumento grande, na carne bovina, produtos frescos como frutas, legumes e nos remédios. Outra coisa que eu notei foi o aumento em restaurantes", diz Renata.

"A diferença na conta final é muito significativa. Nota-se também um aumento no valor dos imóveis: eu tinha a intenção de comprar uns imóveis que estavam entre €180 e €200 mil [R$ 973,8 mil a R$ 1,082 milhão] e agora não conseguiria comprar por menos de €340 mil [R$ 1,839 milhão]. A diferença é muito grande!", comenta.

A professora de ginástica artística Adrian Gomes chegou em Lisboa há três anos e está alarmada com o aumento do custo de vida na cidade. Além do emprego fixo, a gaúcha faz massagens nos tempos livres para driblar a crise e aumentar o rendimento familiar e já pensa, até, em deixar a capital portuguesa.

"Já estava caro quando eu cheguei e agora subiu muito mais. A gente trabalha, trabalha e trabalha e parece que não vê resultado, que o dinheiro não cresce junto com a inflação. O custo de vida está muito elevado em Lisboa e não era assim quando cheguei. Agora é um absurdo. A gente não consegue economizar € 200 [R$1.082] no fim do mês", diz.

"Até mesmo o preço da roupa subiu. Eu tenho um filho de quatro anos e criança cresce rápido. Temos que estar sempre comprando roupa e a gente consegue acompanhar nas despesas diárias e mensais e verificamos que vestuário também subiu um absurdo, mas não dá para não vestir as crianças. É muito complicado. O custo de vida está um absurdo, muito alto mesmo e não sou a única a reclamar, e tenho concluído que, em Lisboa, não vale mais a pena ficar!", lamenta.

Fachada do Santuário do Bom Jesus em Braga, Portugal; famílias deixam Lisboa para morar em uma cidade menor, com valores melhores - Li Chunjiang - 7.jul.19/Xinhua

A ginástica orçamental que muitas famílias como a de Adrian estão sendo forçadas a praticar é o que fez a empresária Cristine Carreira, que tem dois filhos, decidir sair de Lisboa e se mudar para Braga, uma cidade pequena no norte de Portugal. Mesmo com a mudança diz estar assustada com a subida do custo de vida.

"O valor dos imóveis foi o que realmente disparou, na verdade, vem disparando e não vemos a onde vai parar. Também as contas de consumo de energia, gás, água, mercado, alimentação e os preços dos combustíveis tem subido com uma velocidade muito grande, tem assustado muito e é algo que afeta meu orçamento mensal", diz Cristine.

"Tenho que fazer restrições no meu estilo de vida como viajar de carro e agora analiso bem os produtos que compro no supermercado pois preciso ter uma maior atenção a cada coisa que vai entrar na minha casa porque os preços estão muito altos e a gente só vê aumentar diariamente. É muito preocupante!", afirma.

Cristine conta que a mudança de Lisboa para uma cidade menor teve um impacto não apenas financeiro, mas também de qualidade de vida. " A minha saída de Lisboa para Braga aconteceu não só pela compra de um imóvel muito mais barato da mesma tipologia do que eu pagaria em Lisboa mas também pela qualidade de vida que eu tenho aqui, numa cidade menor, onde consigo me deslocar muito mais fácil para escolas, para parques, para um hospital", diz.

"Isso tudo me faz ganhar tempo e dinheiro. Então quando a gente consegue organizar a vida, numa cidade menor que te oferece tudo com esta facilidade acaba por ter um impacto na nossa vida financeira. O que Braga me oferece eu teria mais dificuldade para fazer as mesmas coisas em Lisboa", afirma.

Londres no topo da tabela, seguida por Roma e Lisboa

O estudo que colocou Lisboa como a terceira cidade mais cara do mundo para viver, comparou, ao todo, 56 cidades e foi elaborado por meio do cálculo entre o custo de vida, o custo médio dos aluguéis e o salário médio.

É importante sublinhar que o custo de vida inclui compras de supermercado, o custo do transporte, contas de serviços públicos, atividades de esporte e lazer, custo de roupas e cuidados infantis. No ranking da seguradora, Lisboa só perde para Roma e Londres, no topo da tabela como a cidade mais cara para se viver.

O catarinense Lucas Vitoretti, 25, trabalha num restaurante no centro de Lisboa. Mudou-se para a capital portuguesa há cerca de três anos e não ficou surpreso com o resultado do estudo.

"O custo de vida aqui em Lisboa é muito caro e está ficando ainda mais alto do que era há três anos. Posso dar a média de quanto eu gastava quando cheguei aqui. Eu sempre trabalhei em restaurante, praticamente não tenho gastos com almoço e jantar, mas sim com cafés, supermercado e suplemento para treinos. Quando cheguei sozinho, gastava em média € 100 [R$ 541] por mês ou menos até, e agora eu e o meu namorado gastamos com alimentação mais de € 300 [R$ 1.623]por mês. É um aumento significativo".

O estudo intitulado "The Cost of Living Crisis: How big is the gap between outgoings and incomings around the world?" revela que, em média, um aluguel de um apartamento de três quartos em Lisboa custa € 1.625 [R$ 8.791,25] —subtraindo o salário médio mensal de cerca de € 1.037 [R$ 5.610,17] e o custo de vida de € 561 [R$ 3.035], o saldo no final do mês é negativo no valor de € 1.149 [R$ 6.216].

Ou seja, contas simples feitas e o estudo mostra que uma família não consegue chegar ao fim do mês sem dívidas, e isso levando em conta que não há despesas com escolas privadas, o que faria o custo familiar aumentar, em pelo menos € 500 [R$ 2.705] por criança.

A carioca Flávia Motta que mora em Lisboa desde setembro de 2014 e trabalha como consultora imobiliária, também diz que se sente afetada pelo aumento do custo de vida. "A diferença que eu percebo no custo de vida desde que cheguei à Portugal é uma subida de preços, principalmente no custo dos aluguéis e na alimentação: mais forte nos restaurantes e nos bares que eu acredito estar atrelada ao aumento dos preços dos aluguéis porque os novos estabelecimentos comerciais também viram os valores dos aluguéis subirem", afirma.

"Nos supermercados a gente percebe muito também. Houve um aumento geral nestes últimos quase oito anos que estou em Lisboa, mas acho que, na alimentação e nos preços dos aluguéis, é onde se nota mais, nos imóveis de um modo em geral."

Segundo Flávia, esse aumento tem um impacto no estilo de vida. "Afetou a minha vida porque eu vivo de aluguel e já me mudei algumas vezes ao longo desses anos, pelo menos metade delas foi porque eu precisava encontrar uma outra opção de aluguel pois os proprietários queriam aumentar demais meu aluguel", conta.

"Tive situações em que queriam aumentar para o dobro ao renovar o contrato e tive que buscar alternativas em outros bairros. Hoje em dia, eu sei que se eu tiver que me mudar para um outro apartamento, com o que eu pago, não terei alternativa e terei que sair de Lisboa", afirma.

O jornalista e relações públicas Marco Hennies, 57, também se viu obrigado a mudar de hábitos e diz que os baixos salários praticados em Lisboa são o maior problema que enfrenta atualmente. "Eu sinto que houve um aumento do custo de vida e que por outro lado não houve um reajuste daquilo que a gente ganha, então isso é o maior impacto", afirma.

"Aumentar as coisas é natural, crise internacional, pandemia, tudo isso impacta todos os setores da economia, mas o salário não acompanha e é o mesmo há seis anos e no final do mês sobra menos. É um problema que temos que saber gerir. Eu agora escolho bem o queijo que vou comprar e até o vinho, pois tudo subiu."

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