Descrição de chapéu inflação juros

IPCA-15 sobe 0,69% em junho e atinge 12,04% em 12 meses

Indicador de inflação veio um pouco acima das expectativas de analistas neste mês

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Rio de Janeiro

Com o impacto do reajuste dos planos de saúde, a inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) subiu 0,69% em junho, informou nesta sexta-feira (24) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta representa uma aceleração frente a maio, quando o indicador havia avançado 0,59%. O novo resultado veio ligeiramente acima das estimativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,68%.

Com a entrada dos dados de junho, o IPCA-15 passou a acumular alta de 12,04% em 12 meses. Nesse recorte, a elevação até maio havia sido mais intensa, de 12,20%.

Apesar de registrar desaceleração no acumulado, o indicador prévio de inflação completou o décimo mês acima dos 10%. Ou seja, o IPCA-15 está em dois dígitos desde setembro do ano passado.

Consumidores compram em feira livre no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 19 abr.2022/Folhapress

Na visão de analistas, os dados de junho reforçam os sinais de que a inflação deixou para trás o pico em 12 meses. Isso, porém, não afasta a preocupação com o cenário dos preços no Brasil.

"Em termos qualitativos gerais, a leitura continuou bastante desfavorável, embora algumas medidas de núcleo que pesam mais sobre bens industriais tenham tido um alívio muito pequeno", aponta o economista Daniel Karp, do banco Santander.

O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também divulgado pelo IBGE.

Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o dado de junho ainda não está fechado. Será conhecido no dia 8 de julho.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. O indicador prévio costuma ser calculado entre a segunda metade do mês anterior e a primeira do mês de referência da divulgação.

Neste caso, os preços foram coletados entre 14 de maio e 13 de junho. Isso significa que o novo resultado ainda não capta os reflexos do reajuste da gasolina e do óleo diesel anunciado pela Petrobras em 17 de junho.

Todos os grupos têm altas no mês

Os nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram altas de preços neste mês, conforme o IPCA-15.

Entre os segmentos, o maior impacto (0,19 ponto percentual) veio dos transportes (0,84%), mesmo com a desaceleração frente a maio (1,80%).

Essa perda de ritmo foi ocasionada pela queda nos preços dos combustíveis (-0,55%), que haviam subido 2,05% no mês passado. O diesel (2,83%) até voltou a avançar, mas o etanol e a gasolina caíram 4,41% e 0,27%, respectivamente.

Dentro dos transportes, houve altas em passagens aéreas (11,36%), seguro voluntário de veículo (4,20%) e emplacamento e licença (1,71%).

Em junho, vestuário (1,77%) mostrou a maior variação de preços entre os grupos pesquisados. O ramo teve impacto de 0,08 ponto percentual no IPCA-15.

O IBGE ainda destacou o comportamento de saúde e cuidados pessoais. O grupo avançou 1,27%. Com isso, teve contribuição de 0,16 ponto percentual no índice. Foi a segunda maior do mês, atrás dos transportes.

O ramo de saúde e cuidados pessoais teve impulso dos planos de saúde, que subiram 2,99% e responderam por 0,10 ponto percentual no IPCA-15. Foi a maior influência entre os subitens pesquisados.

Ao explicar a alta, o IBGE mencionou que os planos de saúde tiveram reajuste de até 15,50% autorizado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) em 26 de maio.

O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, subiu 0,25% em junho, após alta de 1,52% em maio. A maior influência para essa desaceleração veio dos alimentos para consumo no domicílio.

O leite longa vida, que havia subido 7,99% em maio, registrou alta de 3,45% em junho. Houve quedas nos preços da cenoura (-27,52%), do tomate (-12,76%), da batata-inglesa (-8,75%), das hortaliças e verduras (-5,44%) e das frutas (-2,61%).

Esses alimentos haviam disparado na largada do ano com os efeitos da seca no Sul e das chuvas fortes em regiões como o Sudeste e o Nordeste.

"O quadro ainda está bastante complicado", avalia Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, que chama atenção para a aceleração dos preços de serviços.

Ele destaca que o BC (Banco Central) deve voltar a subir a taxa básica de juros para tentar conter a inflação.

A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) está prevista para agosto. Em seu encontro mais recente, no dia 15 de junho, o colegiado elevou a Selic para 13,25% ao ano.

​O que explica a carestia na pandemia

No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 está bem acima da meta de inflação perseguida pelo BC para o IPCA. Em 2022, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.

Analistas do mercado financeiro projetam novo estouro da meta em 2022, o segundo ano consecutivo de descumprimento.

Ao longo da pandemia, a inflação ganhou força devido a uma combinação de fatores.

Escassez de insumos, alta nos custos de produção de bens diversos, efeitos negativos do clima em energia e alimentos e impactos da turbulência política sobre a taxa de câmbio fazem parte dessa lista no Brasil.

Em 2022, um componente adicional passou a pressionar parte dos preços: a Guerra da Ucrânia. Com o conflito, petróleo e commodities agrícolas subiram no mercado internacional.

O reflexo no Brasil foi o registro de novas altas nos preços de combustíveis e alimentos durante o primeiro semestre deste ano.

Impacto político

Com a proximidade das eleições, a escalada da inflação virou dor de cabeça para o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A carestia de itens como combustíveis é vista por membros da campanha de Bolsonaro como principal obstáculo para reeleição.

Pressionado, o presidente empilhou ataques contra a Petrobras nos últimos dias. O motivo foi o novo reajuste na gasolina e no óleo diesel anunciado pela estatal no dia 17 de junho.

O avanço, que entrou em vigor nas refinarias no dia seguinte, deve impactar o IPCA pelo menos em junho e julho. Por ora, economistas projetam que o índice oficial de inflação fechará o ano ao redor de 9% no acumulado.

Em uma tentativa de frear a carestia, Bolsonaro sancionou na quinta-feira (23) a lei que fixa um teto para as alíquotas de ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis, energia, transporte e telecomunicações.

O presidente, contudo, vetou um dispositivo que buscava garantir a recomposição de verbas para saúde e educação em caso de prejuízo a essas áreas devido à perda de arrecadação.

A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, avalia que o teto do ICMS gera um viés de baixa para as projeções de inflação em 2022. No momento, o banco prevê alta de 8,4%. Porém, os efeitos do teto não são duradouros e podem causar reflexos negativos mais à frente, diz a analista.

"Projetos que aumentam as desonerações sem contrapartida fiscal pressionam as contas públicas e podem ter o efeito contrário à frente, o de pressionar a inflação."

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