Programas de compensação de carbono não entregam o que prometem

Estudos mostram que ações não conseguem capturar a mesma quantidade do gás emitido que se propõem a mitigar

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Maggie Astor
The New York Times

Os programas de compensação de carbono tornaram-se onipresentes. Você provavelmente já os viu como opções para marcar em reservas de voos: "Clique aqui para fazer upgrade para um assento premium"; "Clique aqui para cancelar suas emissões de gases de efeito estufa".

É uma proposta atraente –a promessa de que, por uma pequena quantia de dinheiro, você pode cuidar de seus negócios sem culpa climática. Mas, se parece bom demais para ser verdade, é porque, pelo menos por enquanto, é mesmo.

O The New York Times pediu aos leitores nesta primavera que enviassem suas questões sobre a mudança climática, e vários perguntaram sobre compensações de carbono. Como elas funcionam? Elas funcionam ou "é apenas dinheiro pela culpa?", como perguntou um leitor?

Queimada em fazenda às margens da BR-163, em Novo Progresso (PA) - Lalo de Almeida - 20.ago.2014/Folhapress

A ideia de compensações de carbono, às vezes chamadas de créditos de carbono ou créditos climáticos, é simples. Sabemos que a atividade humana produz dezenas de bilhões de toneladas de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa todos os anos. Também sabemos que é possível remover ou sequestrar carbono da atmosfera, por exemplo, plantando árvores.

As compensações buscam compensar, por exemplo, as emissões dos aviões financiando reduções de emissões ou remoção de carbono em outro lugar, como florestas.

Alguns especialistas as veem como uma ferramenta essencial para limitar os danos ambientais, pelo menos no curto e médio prazo, até que o mundo possa fazer uma transição completa para as energias renováveis.

Os cientistas estão certos de que o mundo precisa atingir emissões líquidas zero –o ponto em que paramos de expelir gases de efeito estufa ou neutralizamos totalmente os gases que produzimos– até 2050 para evitar os piores efeitos da mudança climática, e "é virtualmente impossível chegar a zero" sem compensações, segundo Bruce Usher, professor da Columbia Business School e ex-CEO do EcoSecurities Group, que desenvolveu projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento.

Mas isso não significa que as compensações funcionem hoje, e o conselho de Usher dificilmente é um endosso. "Se você quer porque está de acordo com seus valores, claro, você deve comprar créditos de carbono", disse ele. "Mas não tenha a ilusão de que, para cada crédito que você comprar, obterá 100% de redução de emissões na mesma proporção."

Em um estudo de 2016, a Comissão da UE concluiu que 85% dos projetos examinados provavelmente não alcançariam suas reivindicações de redução. E uma pesquisa da ProPublica de 2019 descobriu que, de forma esmagadora, os projetos de preservação florestal "não compensaram a quantidade de poluição que deveriam, ou trouxeram ganhos que foram rapidamente revertidos ou que não puderam ser medidos com precisão."

Os maiores problemas são estruturais, relacionados a algo chamado adicionalidade.

Esse é o jargão técnico para um conceito simples: uma compensação de carbono precisa financiar reduções que não teriam acontecido de outra forma. Se você paga a alguém para preservar um bosque, mas ele nunca pretendeu cortá-lo, então você não está compensando suas emissões. E é difícil estabelecer os fatos nesses casos com o nível de confiança necessário para que os programas de compensação funcionem.

Embora as atividades individuais tenham custos ambientais, e voar seja um dos mais caros, a mudança climática é predominantemente impulsionada pelas ações da indústria de combustíveis fósseis.

E a grande maioria das compensações de carbono é comprada por corporações, incluindo as próprias empresas de combustíveis fósseis, com a premissa de que podem atingir as metas de emissão "zero líquido" sem mudar fundamentalmente a forma como operam.

Por enquanto, a melhor coisa que um indivíduo pode fazer continua sendo o que sempre foi: tentar emitir menos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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