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Inflação sobe 0,67% em junho com alta de alimentos fora de casa e plano de saúde

IPCA atinge 11,89% no acumulado de 12 meses, diz IBGE

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Rio de Janeiro

Puxado por preços mais altos da alimentação fora de casa e dos planos de saúde, o índice oficial de inflação do país subiu 0,67% em junho, informou nesta sexta-feira (8) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado mostra uma aceleração do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), já que, em maio, o avanço havia sido menos intenso (0,47%).

A variação de 0,67% é a maior para junho desde 2018. À época, o índice havia subido 1,26%, após os impactos econômicos da greve dos caminhoneiros.

Apesar da aceleração, o novo resultado veio abaixo das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,71% em junho.

Cliente faz compras em supermercado na capital paulista - Rubens Cavallari - 27 abr.2022/Folhapress

Com a entrada dos dados, a inflação chegou a 11,89% no acumulado de 12 meses. É o nível mais intenso desde abril deste ano (12,13%). Nessa base de comparação, a alta havia sido de 11,73% até maio.

O IPCA acumulado está em dois dígitos, acima de 10%, há 10 meses. Ou seja, desde setembro do ano passado.

Uma sequência tão longa não ocorria desde o intervalo de 2002 a 2003. À época, o índice ficou em dois dígitos por 13 meses consecutivos, de novembro de 2002 a novembro de 2003.

Refeições e planos de saúde puxam alta mensal

A alta de 0,67% em junho deste ano foi influenciada pelo aumento nos preços dos alimentos para consumo fora do domicílio (1,26%), com destaques para a refeição (0,95%) e o lanche (2,21%), apontou Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IPCA.

"Nos últimos meses, esses itens não acompanharam a alta de alimentos nos domicílios, como a cenoura e o tomate, e ficaram estáveis", afirmou.

"Assim como outros serviços que tiveram a demanda reprimida na pandemia, há também uma retomada na busca pela refeição fora de casa. Isso é refletido nos preços", completou.

Outro fator que influenciou o resultado de junho foi o aumento nos planos de saúde (2,99%). A alta veio após a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) autorizar reajuste nesses serviços.

Os planos responderam pelo maior impacto individual (0,10 ponto percentual) do IPCA do mês passado. Assim, impulsionaram a alta de 1,24% no grupo de saúde e cuidados pessoais.

​Avanços em todos os grupos

Mais oito segmentos de produtos e serviços integram a pesquisa do IBGE. Todos subiram em junho.

A maior variação foi verificada no grupo vestuário: 1,67%. Já o principal impacto (0,17 ponto percentual) veio de alimentação e bebidas. A alta foi de 0,80%, puxada pelo consumo fora dos lares.

Também dentro de alimentação e bebidas, os alimentos para consumo no domicílio subiram 0,63%. O leite longa vida disparou 10,72% em meio a uma pressão nos custos de produção.

O feijão-carioca, por sua vez, avançou 9,74%. Segundo o IBGE, o clima adverso prejudicou plantações na largada do ano, o que afetou a oferta do produto e os preços finais.

No sentido contrário, outros alimentos tradicionais dentro dos domicílios recuaram em junho. Os preços da cenoura, que já haviam caído em maio (-24,07%), baixaram 23,36%. O produto, contudo, ainda acumulou disparada de 83,99% em 12 meses.

Cebola (-7,06%), batata-inglesa (-3,47%) e tomate (-2,70%) também recuaram.

GASOLINA CAI 0,72%

O grupo de transportes subiu 0,57% no mês passado. O dado sinaliza uma desaceleração frente a maio (1,34%). A perda de fôlego foi impactada pela baixa de 1,20% nos combustíveis.

Os preços da gasolina, item de maior peso individual no IPCA, caíram 0,72% em junho, enquanto o etanol recuou 6,41%. O óleo diesel, por outro lado, subiu 3,82%.

Conforme Pedro Kislanov, gerente da pesquisa, a baixa dos combustíveis pode ter refletido os efeitos iniciais dos cortes de tributos anunciados recentemente.

Nesse sentido, ele lembrou que São Paulo e Goiás confirmaram redução de alíquotas de ICMS na reta final de junho.

A medida veio em linha com uma lei federal que estabeleceu um teto para o imposto sobre combustíveis, energia, transporte e telecomunicações.

Outros estados também já anunciaram cortes de ICMS na passagem de junho para julho, o que tende a gerar reflexos no IPCA deste mês.

No grupo de transportes, a maior variação (11,32%) e o principal impacto positivo (0,06 ponto percentual) vieram das passagens aéreas.

Com o combustível de aviação mais caro e a volta da demanda por viagens, os bilhetes acumularam disparada de 122,40% em 12 meses. É a alta mais intensa nessa base de comparação entre os subitens pesquisados no IPCA.

Luz recua 1,07%

No grupo habitação, os preços avançaram 0,41% em junho. Houve reflexos dos reajustes das taxas de água e esgoto (2,17%) em parte das regiões. A energia elétrica, por outro lado, caiu 1,07%, menos do que em maio (-7,95%).

"Vale destacar que a inflação começou a capturar os efeitos do PLP [Projeto de Lei Complementar] 18, que reduziu ICMS de combustíveis e energia", disse em relatório o economista Luis Menon, da gestora Garde.

Segundo ele, é possível projetar uma deflação –queda de preços– para o IPCA em julho, associada aos cortes do imposto em mais estados. Menon prevê recuo de 0,82% no índice de inflação deste mês.

O economista-chefe do banco Original, Marco Caruso, tem projeção semelhante. Segundo ele, a estimativa é de recuo de 0,80% no IPCA de julho.

Na avaliação de Caruso, a inflação sinaliza que já deixou para trás o pico em 12 meses. O Original projeta uma desaceleração do acumulado até dezembro, dos atuais 11,89% para 7,30%.

Isso, contudo, não elimina toda a preocupação do cenário, pondera Caruso. O economista avalia que o IPCA segue pressionado pela aceleração de serviços que haviam sido prejudicados pela pandemia –como é o caso da alimentação fora de casa.

Caruso acrescenta que a isenção dos tributos federais PIS/Cofins e Cide sobre itens como a gasolina tem caráter momentâneo, com previsão até o fim deste ano, marcado pela corrida eleitoral.

"O que a gente tem feito é revisar para cima as projeções para a inflação de 2023. Há medidas que ajudam neste ano, mas podem atrapalhar no próximo. Têm o efeito de rebote", diz Caruso, que prevê IPCA de 5,50% no acumulado de 2023.

De acordo com economistas, a perda de receitas com tributos também pode gerar uma espécie de bomba fiscal, com impactos negativos sobre a inflação em um futuro próximo.

"Projetos que aumentam as desonerações sem contrapartida fiscal pressionam as contas públicas e podem ter o efeito de elevar a inflação mais à frente", afirmou em relatório a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

Segundo ela, "a composição do IPCA continua muito ruim", embora a projeção seja de perda de fôlego até o final do ano.

CHOQUES NA PANDEMIA E EFEITO POLÍTICO

A escalada da inflação ganhou forma ao longo da pandemia devido a uma combinação de fatores. Houve aumentos em preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, carestia de alimentos e ruptura de cadeias globais de insumos da indústria.

A pressão inflacionária no Brasil foi intensificada pela desvalorização do real em meio a turbulências na área política.

No primeiro semestre de 2022, o cenário teve o impacto adicional da Guerra da Ucrânia. O conflito pressionou ainda mais o petróleo e parte das commodities agrícolas.

Em meio a esse contexto, a Petrobras promoveu reajustes na gasolina e no óleo diesel nas refinarias em 18 de junho, gerando reflexos sobre os preços ao longo da cadeia produtiva.

O aumento fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificar os ataques contra a estatal às vésperas das eleições. A inflação é vista por membros da campanha de Bolsonaro como principal obstáculo para a reeleição.

O BC (Banco Central) vem aumentando os juros devido à escalada dos preços. O efeito colateral do crédito mais caro é a criação de um obstáculo a mais para a recuperação do consumo das famílias e dos investimentos produtivos das empresas.

O IPCA caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC pelo segundo ano consecutivo. Em 2022, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.

INPC avança 0,62%

O IBGE também divulgou o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) nesta sexta. O indicador teve alta de 0,62% em junho, acima da registrada no mês anterior (0,45%). Nos últimos 12 meses, o avanço foi de 11,92%.

O INPC concentra-se na inflação sentida pelos brasileiros com renda menor. O indicador reflete o avanço dos preços para famílias com rendimento entre um e cinco salários mínimos. Assim, serve de referência para correção de benefícios sociais e do salário mínimo.

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